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O preconceito velado no mercado de trabalho

A leitora Carlise Kronbauer enviou ao Três Gotinhas um depoimento sobre sua percepção quanto ao mercado de trabalho para pessoas com deficiência. Carlise é graduada em História e está concluindo Pós-Graduação em Pedagogia Empresarial e Educação Corporativa. Vale a pena conferir o texto dela!

“Observo todos os dias as vagas de trabalho reservadas a pessoas com deficiência nos sites da internet e, devido minha indignação, resolvi escrever. As empresas tem a visão que as pessoas com deficiência só podem trabalhar como auxiliar disso ou aquilo, não podendo ser analista, coordenador, gestor etc… Acompanho há meses a disponibilização de vagas de muitas empresas recrutadoras e as ofertas são sempre as mesmas – não condizentes com as pessoas com graduação ou qualificação mais avançada.

Acredito que nós, pessoas com deficiência, merecemos um trabalho mais digno do que as vagas ofertadas. Atualmente, estamos nos capacitando e qualificando para atingir níveis mais elevados de cargos. Muitos cegos, como eu, já possuem graduação e pós-graduação completa. Considero uma ofensa a oferta constante de cargos com salários miseráveis, que na conjuntura atual não conseguem suprir nossas necessidades básicas.

Dessa forma, gostaria que as empresas viabilizassem empregos condizentes com a formação do candidato e com realidade do mercado. É frequente as empresas recrutadoras culparem as próprias pessoas com deficiência por falta de qualificação, mas elas estão desinformadas sobre o currículo de muitos cegos por exemplo. É preciso que a visão das empresas se amplie para que possamos realmente vivenciar a inclusão, pois o mercado mudou. Estamos mais qualificados e competitivos do que no passado.

Enfim, desejamos um trabalho digno igual ao das pessoas sem deficiência. Os maiores cegos são aqueles que não enxergam que temos capacidade para atingir horizontes mais altos!”

(Carlise Kronbauer)

Caso você tenha alguma experiência para compartilhar com outros leitores, faça como a Carlise, envie pra mim: mariana.baierle@uol.com.br. Terei o maior prazer em publicar! Abraço a todos

Cultura inclusiva nas empresas

Essa semana estive em uma palestra sobre Cultura Inclusiva nas empresas, que ocorreu na livraria Cultura, do Shopping Bourbon Country em Porto Alegre. O evento, promovido pelo Grupo RH-RS, destinou-se a gestores e profissionais da área de Recursos Humanos. Foram abordadas questões relativas à lei de cotas, legislação na contratação de pessoas com deficiência e aspectos comportamentais e culturais dentro das corporações.

Pela legislação brasileira, empresas com mais de 100 funcionários devem ter de de 2 a 5% do quadro formado por funcionários com deficiência – o que ainda é dificilmente cumprido pelas empresas.

A administradora Marcia Gonçalves iniciou sua fala lembrando que as pessoas com deficiência consomem todo tipo de produto, desde alimentação, vestuário, sapatos e serviços em geral. A partir do momento em que as empresas perceberem isso, terão um olhar diferenciado em relação aos próprios funcionários com deficiência.

Entender a pessoa com deficiência em primeiro lugar como pessoa e depois por ter uma deficiência ainda é um desafio. A pessoa pode ser mais ou menos competente, tímida, extrovertida, responsável, irresponsável. pontual ou não. mais ou menos organizada e qualificada./ e a deficiência é mais uma entre tantas características que a constituem.

O fato de ter uma deficiência não garante que ela seja melhor ou pior que seus colegas. A empresa deve exigir que ela produza e apresente resultados como qualquer funcionário.

Eventos como esse ajudam na disseminação de informações importantes e na preparação de profissionais da área de Recursos Humanos para que percebam esse funcionário em seu pleno potencial, não apenas em suas limitações físicas.

Nesse sentido, fico imensamente feliz ao perceber que algumas empresas já estão percebendo de forma mais realista e menos preconceituosa os candidatos com deficiência em seus processos seletivos. O grupo Abril, por exemplo, está com oportunidades para Talentos Especiais em diversas áreas.

Estão abertas vagas para Administração, Marketing, Jornalismo, Comercial, Engenharia, Tecnologia da Informação, Webdesigner, entre outros. As oportunidades são para início imediato em São Paulo e destinam-se a profissionais com deficiência com Ensino Superior completo ou em andamento. Mais informações pelo site:
www.vagas.com.br

As pessoas com deficiência e o mercado de trabalho

Alguém já reparou que não existem anúncios de emprego para um arquiteto, um professor, um advogado, um administrador com deficiência? Em compensação, são inúmeras as vagas para auxiliar de limpeza, telefonista ou serviços gerais para pessoas com deficiência. Não desmerecendo essas vagas (que são de fundamental relevância), mas precisamos sermos crítico diante desse cenário.

Vivemos em uma sociedade em que parece intrínseco o estereótipo de que a pessoa com deficiência não pode (ou não tem a capacidade para) desenvolver-se e galgar cargos mais elevados. Há uma subestimação prévia da pessoa com deficiência no que diz respeito ao trabalho e à formação acadêmica.

Raríssimos cargos são oferecidos a pessoas com nível superior, mestrado ou doutorado. A priori, não se espera encontrar uma pessoa com deficiência bem qualificada e competente. Todos ficam tão impressionados quando encontram um trabalhador com deficiência bem preparado e capacitado que tendem à supervalorizá-lo e à superestimá-lo. Essa não é uma realidade comum dentro do universo corporativo, onde eu noto um grande esforço para o devido preenchimento das cotas para pessoas com deficiência.

A RESERVA DE VAGAS
Está previsto em lei a reserva de vagas tanto em órgãos públicos quanto na iniciativa privada. Em todo concursos públicos de âmbito federal, são reservados pelo menos 5% das vagas, Em âmbito estadual, pelo menos 10% das vagas. Na iniciativa privada, empresas com mais de 100 funcionários também devem destinar parte de suas vagas a funcionários com deficiência, numa escala que varia de 2 a 5%.

Nesse contexto, cabe pensarmos a qualidade e a efetividade dessa dita “inclusão”. As instituições, em sua maioria, infelizmente não estão preparados para receber funcionários com deficiência. Faltam rampas, banheiros acessíveis, computadores. Enfim, faltam tecnologia, recursos e estrutura física que permitam o acesso, a circulação, o desenvolvimento e a permanência do funcionário dentro do ambiente corporativo.

Mas mais grave do que as falhas arquitetônicas são as barreiras atitudinais. Ou seja, a falta de uma compreensão adequada por parte de gestores e administradores de que a pessoa pode ter uma deficiência, mas que isso não a impede de desenvolver-se como qualquer funcionário – desde que, é claro, tenha as condições adequadas para isso.

É preciso o entendimento básico de que as pessoas com deficiência são, antes de tudo, pessoas. Simplesmente PESSOAS. E, como tais, podem ser gordas ou magras, altas ou baixas, ricas ou pobres, bem qualificadas ou não, com espírito de equipe ou individualistas, com as duas pernas ou não, com visão nos dois olhos ou não, com movimentos nos braços ou não, com famílias que lhes apoiam ou não, com muitos ou poucos amigos…

E a sociedade em geral pode ou não ter sensibilidade e consciência para mudar velhos hábitos e atitudes. Mudar comportamentos, mudar a cultura, é algo que leva tempo e exige o esforço de todos.

Projeto Workshop Olhares

No Brasil, de acordo com o Censo (IBGE, 2010), vivem cerca de 45 milhões de cidadãos e cidadãs com deficiência, dos quais 35,8 milhões com algum tipo de deficiência visual. Contudo, existe uma grande carência no que tange ao acesso desses brasileiros à cultura, ao mercado de trabalho e ao consumo. As pessoas com deficiência passaram a ter espaço social mais efetivo a partir dos anos 1990, quando surgiram leis de acessibilidade e reserva de vagas no mercado de trabalho.

Mesmo assim, ainda é necessário que, além da garantia de vagas, as pessoas com deficiência sejam acolhidas e contempladas em suas peculiaridades. Sabemos que há um longo caminho a percorrer, pois as empresas e instituições públicas e privadas, seus servidores e funcionários, muitas vezes não têm conhecimento sobre quais recursos de acessibilidade oferecer, assim como têm dificuldades em prover a integração da pessoa com deficiência aos demais colaboradores ou setores das organizações.

É com o objetivo de sensibilizar, debater e propor algumas possibilidades para diluir essas barreiras atitudinais e arquitetônicas que construímos esta proposta de workshop. Em primeiro lugar, apresentamos o documentário Olhares, idalizado, dirigido e produzido por nós, Felipe Leão Mianes e Mariana Baierle, ambos com baixa visão. Nesse filme, que conta com audiodescrição, sujeitos com deficiência visual falam sobre suas experiências de vida e seu acesso à cultura, ao consumo, ao mercado de trabalho e suas sensações relativas aos preconceitos e inclusões no cotidiano.
Posteriormente à exibição do documentário, que dura aproximadamente 50 minutos, promovemos um debate sobre o tema da acessibilidade e da inclusão sociocultural sob o ponto de vista de quem vive a experiência da deficiência. A ideia é abordar o panorama da deficiência no Brasil, sua legislação de acessibilidade e, principalmente, propor formas adequadas de lidar com essas pessoas que, a julgar pelo imenso contingente apontado pelos mais recentes dados oficiais, em maior ou menor escala integram os grupos de colaboradores, parceiros e consumidores dos produtos e serviços de empresas e instituições públicas e privadas.

Para mais informações sobre o Projeto Workshop Olhares, escreva para cursoeducabilidade@gmail.com ou contate-nos pelos blogs www.arteficienciavisual.blogspot.com.br e www.tresgotinhas.com.br.

Felipe Leão Mianes (Historiador e doutorando em Educação pela UFRGS) e

Mariana Baierle (Jornalista e mestre em Letras pela UFRGS)