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Nova peça de Luciano Alabarse terá sessão com audiodescrição em Porto Alegre

Espetáculo estará acessível a pessoas cegas ou com baixa visão no dia 10 de março

Inimigos de Classe, a nova peça do diretor Luciano Alabarse que estreia em março no Theatro São Pedro, em Porto Alegre/RS, terá uma de suas apresentações audiodescrita. A sessão está marcada para o dia 10 de março, sábado, às 21h. Com a audiodescrição, pessoas cegas ou com baixa visão terão acesso a todo o conteúdo visual do espetáculo: cenário, figurinos, luz, caracterização dos personagens e suas expressões, gestos e movimentos em cena.

Para Alabarse, esse recurso de acessibilidade será fundamental para ajudar a transmitir a quem não enxerga, ou enxerga pouco, o tema atualíssimo do espetáculo: a falência do sistema educacional público no que diz respeito ao universo dos alunos marginalizados. “A peça tem muita ação e aposta suas fichas na construção dos personagens. Assim, a descrição de suas características, ações e ambiente será decisiva para facilitar o pleno entendimento das pessoas com deficiência visual”, afirma o diretor.

A audiodescrição será narrada ao vivo, tendo como base um roteiro previamente elaborado. O equipamento é o mesmo utilizado em eventos com tradução simultânea: fones de ouvido que captam o sinal de áudio emitido de dentro de uma cabine acusticamente isolada. Desta maneira, o som da audiodescrição será ouvido exclusivamente pelas pessoas que usarem o receptor. Basta solicitá-lo na entrada do Theatro, mediante a apresentação de documento de identidade.

A iniciativa é uma produção do estúdio Som da Luz em parceria com a Tagarelas Produções e tem apoio do Centro Especializado de Apoio Pedagógico e Produção (CEAPP) – um convênio entre a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (SMED) e a União de Cegos do Rio Grande do Sul (UCERGS). O roteiro da audiodescrição é de Mimi Aragón e Marcia Caspary, que também responde pela narração, com revisão de Marilena Assis, consultora cega e professora das redes públicas municipal e estadual, e supervisão de Lívia Motta, uma das maiores especialistas brasileiras em acessibilidade cultural.

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SERVIÇO

• Audiodescrição de Inimigos de Classe, nova peça de Luciano Alabarse. No elenco, Denis Gosch, Eduardo Steinmetz, Fabrizio Gorziza, Fernando Zugno, Gustavo Susin, Marcelo Adams, Marcelo Crawshaw e Mauro Soares.

• 10 de março, sábado, às 21h, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Recomenda-se chegar às 20h.

• Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do Theatro a partir do dia 1º de março e custam entre R$ 20 e R$ 50, com 50% de desconto para o público com deficiência visual. Mais informações pelos fones (51) 3227 5100 e (51) 3227 5300.

Detalhes sobre a produção da audiodescrição:
Estúdio Som da Luz e Tagarelas Produções
(51) 3086 0527 – (51) 8118 9814 – (51) 8451 2115

Matéria TV Com

Matéria no programa Tudo Mais da TVCOM, dia 31/01/2012, fala sobre a peça Tangos e Tragédias com audiodescrição e sobre o mercado de trabalho para pessoas com deficiência visual.

Audiodescrição torna Tangos e Tragédias acessível ao público com deficiência visual

O espetáculo Tangos e Tragédias, em cartaz nas temporadas de verão em Porto Alegre desde a década de oitenta, este ano terá uma sessão com audiodescrição. Será no próximo dia 26 (quinta-feira) às 21h, no Theatro São Pedro. A audiodescrição, realizada em única sessão pela Mil Palavras Acessibilidade Cultural, destina-se ao público com deficiência visual total ou parcial.

Através desse recurso as pessoas cegas e com baixa visão entram em contato com o espetáculo. Elas poderão conhecer o ambiente do Theatro, o cenário, a iluminação, a caracterização, os gestos, a movimentação e as expressões dos atores.

O objetivo da audiodescrição no Tangos e Tragédias, explica a audiodescritora Letícia Schwartz, é que as pessoas tenham a compreensão total do espetáculo, divertindo-se e participando das piadas e brincadeiras propostas pelos atores. Segundo ela, “os produtores culturais começam a perceber a relevância desse recurso para a promoção da igualdade de acesso aos bens culturais e a possibilidade de atingir um público maior”.

Florentina Dolores Mattes é diretora da Associção de Cegos Louis Braille (Acelb) e tem baixa visão.  Essa será a primeira peça com audiodescrição que ela irá assistir. Para ela, todos os espetáculos com elementos visuais deveriam trazer audiodescrição. “Essa iniciativa é um grande avanço em termos de acessibilidade à cultura”, observa.

Um dos protagonistas de Tangos e Tragédias, o ator Nico Nicolaiewsky, lembra que o espetáculo já está em cartaz há 27 anos. Essa será a primeira apresentação com a audiodescrição. “Acredito que tem bastante coisa para ser descrita, começando com os cabelos e as roupas dos personagens”, afirma.

 

Segundo o ator, há interesse em ampliar a acessibilidade. “Acho que o espetáculo merece ser visto por todos”, garante. Ele comenta ainda que o serviço contribui também para que o acompanhante da pessoa com deficiência visual aproveite mais a peça, sem ficar explicando o que acontece.

 

Como vai funcionar a audiodescrição no Tangos e Tragédias?

Serão disponibilizados 100 fones de ouvido às pessoas com deficiência visual.  Na chegada, os interessados devem solicitar o aparelho no foyer do Theatro, passando a entrada à direita. Em uma cabine com isolamento acústico, a equipe da Mil Palavras Acessibilidade Cultural fará a descrição de todas as imagens do espetáculo para que a narração chegue apenas àqueles que utilizam os fones, não interferindo no andamento do espetáculo.

 

SERVIÇO

Tangos e Tragédias em única sessão com audiodescrição

Local: Theatro São Pedro – Praça Marechal Deodoro – Centro – Porto Alegre/RS – Fone: (51) 3227 5100

Data e hora: 26 de janeiro (quinta-feira), às 21 horas. A abertura do Theatro ocorre 1hora antes.

Ingressos: na bilheteria do Theatro. Dias e horários: 2ª (das 13h às 18h30), 3ª a 6ª (das 13h às 21h), sábado e domingo (das 15h às 21h)

Valores: de R$ 20,00 a R$ 70,00

 

Assessoria de imprensa

Mariana Baierle Soares – jornalista

 

 

 

Autonomia e liberdade: um sonho possível

Faz pouco tempo que me deparei com a tal da audiodescrição e suas infinitas potencialidades. A cada dia, quanto mais conheço sobre o tema e a cada novo filme assistido, mais fico encantada e envolvida pelas novas possibilidades de lazer e acesso à cultura que se abrem para mim.

É fascinante sentar em frente à televisão sem estar angustiada ou indiferente por não captar os detalhes que só as imagens propiciam, ou ainda, sem incomodar quem está ao meu lado com incessantes perguntas sobre o que está se passando. Sinto-me vibrante e entusiasmada a cada segundo de audiodescrição por finalmente captar o sentido da história – uma sensação única jamais vivenciada em qualquer sala de cinema.

Passei, pela primeira vez, a criar expectativa sobre os filmes, a esperar que seu enredo me agrade, me envolva, tenha um significado na minha vida ou apenas me divirta. Antes, confesso, não esperava nada de um filme. Porque simplesmente não os assistia ou não os acompanhava.

Quando penso na audiodescrição, ainda me parece um sonho. Um universo infinito a ser explorado e desvendado em cada detalhe. Audiodescrição, em outras palavras, significa liberdade, autonomia, igualdade e respeito às diferenças. O acesso à cultura, ao entretenimento e à informação resgata o sentimento de pertencimento e de integração a um contexto, até então, inacessível e distante.

Às vezes tenho medo de acordar desse sonho e descobrir que é mentira. Sei que é real e que está aí. Meu maior receio talvez seja o de que esse recurso não seja disseminado e incorporado às salas comerciais de cinemas, teatros e espetáculos.

Não basta audiodescrição apenas em circuitos alternativos, festivais pontuais, sessões em horários diferentes dos que todo mundo costuma sair e se divertir. Quero assistir a filmes no mesmo horário, no mesmo local que meus amigos assistem. Quero audiodescrição como algo comum e usual em qualquer lugar, em qualquer evento.

Sim, em qualquer evento. Não é apenas no cinema que esse recurso é importante, mas em toda atividade artística, cultural, esportiva ou situação em que as imagens sejam relevantes para compreensão de seu significado e sentido.

Ao ler o texto “A audiodescrição entra na dança”, de Jorge Rein (disponível em http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/issue/view/9/showToc), talvez eu tenha compreendido melhor o alcance desse recurso. Percebi a magnitude, ainda inexplorada por mim, da audiodescrição em diferentes ambientes e situações. Segundo o autor: “A audiodescrição pode ser definida como a tradução de imagens em palavras.  Sua aplicação, neste sentido, é universal. Qualquer produto que ofereça informações visuais é passível de ser audiodescrito e a dança não representa uma exceção”.

Fico satisfeita é saber que muitos coreógrafos, companhias de dança e de teatro já disponibilizam espetáculos audiodescritos. O texto cita exemplos de eventos em diversas partes do Brasil.

O meu sonho, nesse sentido, é estar viva para presenciar o dia em que todos os espetáculos, filmes e eventos tenham audiodescrição. Quero que Jorge Rein possa um dia reescrever esse texto sem precisar apontar os raros locais que viabilizam a audiodescrição no país, mas criticando e apontando especificamente aqueles que ainda não a possuem – constituindo-se eles de exceções, alvo de rechaça e contestação de toda a sociedade. Espero que isso não seja apenas um sonho, mas uma realidade possível e, a cada dia, mais próxima.