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Última oportunidade para conferir o Festival de Cinema Acessível

No dia 3 de julho (sexta-feira) será a vez de “Tropa de Elite” dentro da programação do Festival de Cinema Acessível. Este é a última chance para o público conferir uma obra com audiodescrição, legendas e língua de sinais de forma simultânea. Os clássicos “Homem que Copiava”, “Saneamento Básico”, “O Tempo e o Vento” e “Dois Filhos de Francisco” fizeram sucesso entre o público. Outros cinco títulos aguardam patrocínio para serem executados na segunda etapa do projeto.

O Festival de Cinema Acessível tem proporcionado, desde maio deste ano, o acesso à cultura e ao entretenimento a pessoas cegas, com baixa visão, surdas, com deficiência auditiva e sem nenhuma deficiência. Trata-se de uma oportunidade impar para convivência entre pessoas com e sem deficiência. “O Festival está contribuindo para a formação de uma cultura de inclusão. Estamos quebrando tabus e aproximando pessoas”, diz o idealizador do projeto e sócio do Estúdio O Som da Luz, Sidnei Schames.

Como nas sessões anteriores, serão distribuídas vendas para quem quiser experimentar a sensação de assistir um filme sem o recurso visual. “A intenção é provocar as pessoas para que se coloquem no lugar do outro e percebam a importância dos recursos de acessibilidade”, explica Schames.

O Festival de Cinema Acessível é uma realização do Estúdio O Som da Luz através da Lei Rouanet, com patrocínio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, Banrisul Consórcio e Agrofel – Grãos e Insumos e apoio da Cinemateca Paulo Amorim, Casa de Cultura Mario Quintana, IECINE, TVE e FM Cultura. A curadoria é de Gilnei Silveira e Zé Geraldo.

“Tropa de Elite” será exibido no dia 3 de julho (sexta-feira) na Cinemateca Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736), às 19h30. A entrada é franca, com reserva prévia de ingressos através do email festivalcinemaacessivel@gmail.com.

No link a seguir você confere, na prática, como é um filme com audiodescrição, legendas e Libras de forma simultânea. Clique e confira trecho do filme O Homem que Copiava: https://www.youtube.com/watch?v=sjhlLA1krFo&feature=youtu.be

SERVIÇO:

O quê: “Tropa de Elite” na programação do Festival de Cinema Acessível

Data: 3 de julho (sexta-feira)

Horário: 19h30

Onde: Cinemateca Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736 – Centro – Porto Alegre/RS)

Facebook: Festival de Cinema Acessível

Ingresso: entrada franca com recerva prévia pelo email festivalcinemaacessivel@gmail.com

O meu lado Mozart

Recentemente assisti a dois filmes com audiodescrição, que me marcaram muito – por motivos diferentes, mas que se relacionam entre si. Assisti a “Tropa de Elite” (um) e “Orquestra dos Meninos”.
O primeiro traz um enredo bastante conhecido pela maioria. Contudo, até então era um enredo desconhecido por mim. Eu já tinha tentado assistir a Tropa de Elite 1 no cinema (quando foi lançado em 2007) e depois em DVD, mas confesso que não tinha entendido o filme. Uma história de ação, com muitos personagens (a maioria do sexo masculino, o que dificulta sua identificação pelas vozes), com cenas escuras e que passam muito rápido. Eis um conjunto de dificuldades para quem tem baixa visão, motivo pelo qual a obra era até então uma incógnita para mim.
É difícil admitir isso (pois o filme foi lançado há muitos anos), mas finalmente, através da audiodescrição, posso dizer que assisti e entendi “Tropa de Elite”. Compreendi o significado, pela primeira vez, da frase “pede pra sair, pede pra sair” – frase que, por muitas vezes, me incomodou e deixou desconfortável por eu não saber seu significado. Foi uma frase recorrente após o lançamento do filme seja em uma roda de amigos, conversa de bar, uma piada na televisão ou em diferentes situações em que as pessoas repetiam isso e eu não entendia.
O segundo filme, baseado e fatos reais, é um drama, que conta a história de um menino pobre que sonha em ser maestro. Mozart Vieira é apaixonado pela música desde criança. Cresce no agreste nordestino, torna-se professor e consegue constituir uma orquestra que reúne 12 meninos pobres do município de São Caetano.
Uma série de acontecimentos, contudo, faz com que esse sonho do maestro seja várias vezes adiado. A trajetória de Mozart é permeada por dificuldades, problemas e até ameaças. O sequestro de uma das crianças do grupo, a ambição de políticos da região (que tentam se aproveitar da orquestra para arrecadar votos) e até a acusação de pedofilia e abuso sexual de menores são algumas das circunstâncias as quais Mozart se depara.
Ainda assim, ele persegue seus ideais. Mozart, sem um espaço para ensaiar com o grupo de alunos, cria a Fundação Música e Vida, que atende atualmente a 200 crianças da região, proporcionando a elas um futuro melhor através da música.
Fiz, a partir de “Tropa de Elite” e “Orquestra dos Meninos”, uma relação com minha própria vida. Às vezes, assim como Mozart, também passo por inúmeros problemas, obstáculos e episódios lamentáveis, que me cansam, desanimam e parecem me tirar as energias.
Às vezes acontecem coisas que me fazem pensar comigo mesma: “Pede pra sair, pede pra sair”. É como se algo dentro de mim quisesse me dizer para desistir – desistir de sonhar e de acreditar em coisas que insistem em dar errado. Acreditar em mundo que insiste em ter tantos problemas, corrupção e bandidagem às vezes parece uma mera ilusão.
São dois lados que lutam e se confrontam dentro de mim. Um diz “pede pra sair, pede pra sair” (como se dissesse: “desista” de tantos sonhos e ideais) e outro relembra o maestro Mozart Vieira e sua perseverança.
Duas faces de como podemos enxergar a realidade. Cabe a mim e a cada um optar por qual delas prefere ver o mundo e a própria vida.
Apesar de não saber música, tenho a convicção de que quero constituir minha própria orquestra – a orquestra da minha vida -, que irá semear, florescer e multiplicar sonhos e conquistas para mim e os outros.
O simples fato de estar assistindo a esses filmes com audiodescrição – o que, aliás, para mim não é nada simples, é um acontecimento incrível – me mostra que é possível sonhar com um futuro melhor e, mais do que isso, perceber mudanças e melhorias já no presente. É possível sonhar, sem ser tola ou ingênua. É possível sonhar e, de fato, alcançar nossos objetivos.
Sonho, entre tantas outras coisas, com o dia em que todos os cinemas do Brasil – em qualquer shopping, em qualquer lugar, em qualquer cidade – terão audiodescrição. Sonho, entre tantas outras coisas, que as pessoas irão se permitir sonhar, acreditar em si mesmas, em seus ideais e realizá-los.