Alguém já reparou que não existem anúncios de emprego para um arquiteto, um professor, um advogado, um administrador com deficiência? Em compensação, são inúmeras as vagas para auxiliar de limpeza, telefonista ou serviços gerais para pessoas com deficiência. Não desmerecendo essas vagas (que são de fundamental relevância), mas precisamos sermos crítico diante desse cenário.
Vivemos em uma sociedade em que parece intrínseco o estereótipo de que a pessoa com deficiência não pode (ou não tem a capacidade para) desenvolver-se e galgar cargos mais elevados. Há uma subestimação prévia da pessoa com deficiência no que diz respeito ao trabalho e à formação acadêmica.
Raríssimos cargos são oferecidos a pessoas com nível superior, mestrado ou doutorado. A priori, não se espera encontrar uma pessoa com deficiência bem qualificada e competente. Todos ficam tão impressionados quando encontram um trabalhador com deficiência bem preparado e capacitado que tendem à supervalorizá-lo e à superestimá-lo. Essa não é uma realidade comum dentro do universo corporativo, onde eu noto um grande esforço para o devido preenchimento das cotas para pessoas com deficiência.
A RESERVA DE VAGAS
Está previsto em lei a reserva de vagas tanto em órgãos públicos quanto na iniciativa privada. Em todo concursos públicos de âmbito federal, são reservados pelo menos 5% das vagas, Em âmbito estadual, pelo menos 10% das vagas. Na iniciativa privada, empresas com mais de 100 funcionários também devem destinar parte de suas vagas a funcionários com deficiência, numa escala que varia de 2 a 5%.
Nesse contexto, cabe pensarmos a qualidade e a efetividade dessa dita “inclusão”. As instituições, em sua maioria, infelizmente não estão preparados para receber funcionários com deficiência. Faltam rampas, banheiros acessíveis, computadores. Enfim, faltam tecnologia, recursos e estrutura física que permitam o acesso, a circulação, o desenvolvimento e a permanência do funcionário dentro do ambiente corporativo.
Mas mais grave do que as falhas arquitetônicas são as barreiras atitudinais. Ou seja, a falta de uma compreensão adequada por parte de gestores e administradores de que a pessoa pode ter uma deficiência, mas que isso não a impede de desenvolver-se como qualquer funcionário – desde que, é claro, tenha as condições adequadas para isso.
É preciso o entendimento básico de que as pessoas com deficiência são, antes de tudo, pessoas. Simplesmente PESSOAS. E, como tais, podem ser gordas ou magras, altas ou baixas, ricas ou pobres, bem qualificadas ou não, com espírito de equipe ou individualistas, com as duas pernas ou não, com visão nos dois olhos ou não, com movimentos nos braços ou não, com famílias que lhes apoiam ou não, com muitos ou poucos amigos…
E a sociedade em geral pode ou não ter sensibilidade e consciência para mudar velhos hábitos e atitudes. Mudar comportamentos, mudar a cultura, é algo que leva tempo e exige o esforço de todos.