Arquivo da categoria: Produção própria

Obstáculos urbanos

A quantidade de obstáculos e espaços inacessíveis que dificultam a locomoção pelas ruas é imensa. Essa semana resolvi sair de casa com a máquina fotográfica para registrar alguns exemplos.
Em uma caminhada de cerca de 15 minutos próximo à minha casa em Porto Alegre já foi possível encontrar inúmeras situações. São obstáculos e barreiras que dificultam ou impedem a livre circulação de pessoas cegas, com baixa visão, com mobilidade reduzida ou cadeirantes.

Na primeira foto, a imagem horizontal de uma calçada com uma das lajes levantada. Duas pedras estão faltando, formando um buraco no piso. À esquerda, a rua asfaltada. À direita uma grade de ferro branca.

A segunda foto, tirada na vertical, mostra um poste de madeira localizado no canto de uma calçada. A uma distância de cerca de três metros dele, um fio de aço na vertical, em paralelo ao poste.

Fios de aço como esse se constituem de uma verdadeira armadilha para deficientes visuais. Já que são muito finos, geralmente a bengala não consegue os identificar. Esse está na vertical, mas em muitos casos esses fios de aço são colocados na diagonal em relação à calçada, representando um perigo maior ainda. A pessoa que não enxerga pode bater as pernas, a barriga ou até a cabeça. No meu caso, que tenho baixa visão, consegui ver o poste de madeira (que é bem grosso), mas o fio de aço é praticamente impossível, pois ele é muito sutil e desaparece na paisagem urbana, já tão poluída por diversos elementos.

Na terceira foto, a imagem horizontal de uma calçada com galhos de árvore e um monte de terra obstruindo parte da passagem. À esquerda, a rua asfaltada. À direita, um muro de pedra, onde os galhos e a terra estão em parte encostados.

A quarta foto, tirada na vertical, mostra um orelhão do lado direito de uma calçada. À esquerda da calçada, uma casa e à direita, a rua.

Os orelhões representam um risco para deficientes visuais por constituírem-se de um obstáculo aéreo, o que impede sua identificação através da bengala. Seria necessário que todos os orelhões tivessem algum tipo de marcação no solo para que a pessoa com deficiência visual pudesse desviar deles sem o risco bater a cabeça.

A quinta imagem, na horizontal, mostra uma calçada com galhos de uma palmeira caídos à direita e o poste que sustenta uma placa à esquerda. Ao fundo está a rua asfaltada e prédios.

PARTICIPE VOCÊ TAMBÉM!!!
Esses foram apenas alguns exemplos de barreiras encontradas corriqueiramente nas ruas da cidade. Se você também transita por espaços inacessíveis, tire uma foto e encaminhe para o TRÊS GOTINHAS com o seu depoimento. Será um prazer publicar a sua foto! Mande também seu nome completo, cidade onde foi tirada a foto e a descrição da imagem. Aguardo sua participação!
Email: tresgotinhas@gmail.com

Agora o Três Gotinhas é “.com.br”

Pessoal! Hoje é um dia especial. É o dia em que o Três Gotinhas virou gente grande e se transformou em um endereço “.com.br”. Sejam bem-vindos ao www.tresgotinhas.com.br! A partir de hoje quem entrar no endereço antigo será automaticamente redirecionado para essa nova página. De qualquer forma, peço que atualizem o link em seus favoritos e repassem aos amigos!

Trago também como novidade a descrição do logo e de elementos visuais importantes do layout. Sei que ainda há muito a ser melhorado em termos de acessibilidade. De qualquer forma, trata-se de um passo na nossa constante luta por tornar todos os ambientes (físicos e virtuais) mais acessíveis. Aproveito para agradecer a consultoria fundamental da minha amiga Marilena Assis, que fez contribuições imprescindíveis para a descrição dos elementos visuais da página. Agradeço também o Gustavo Sartori, que realizou o projeto do site. E, principalmente, agradeço aos leitores que têm prestigiado o blog.

Audiodescrição torna Tangos e Tragédias acessível ao público com deficiência visual

O espetáculo Tangos e Tragédias, em cartaz nas temporadas de verão em Porto Alegre desde a década de oitenta, este ano terá uma sessão com audiodescrição. Será no próximo dia 26 (quinta-feira) às 21h, no Theatro São Pedro. A audiodescrição, realizada em única sessão pela Mil Palavras Acessibilidade Cultural, destina-se ao público com deficiência visual total ou parcial.

Através desse recurso as pessoas cegas e com baixa visão entram em contato com o espetáculo. Elas poderão conhecer o ambiente do Theatro, o cenário, a iluminação, a caracterização, os gestos, a movimentação e as expressões dos atores.

O objetivo da audiodescrição no Tangos e Tragédias, explica a audiodescritora Letícia Schwartz, é que as pessoas tenham a compreensão total do espetáculo, divertindo-se e participando das piadas e brincadeiras propostas pelos atores. Segundo ela, “os produtores culturais começam a perceber a relevância desse recurso para a promoção da igualdade de acesso aos bens culturais e a possibilidade de atingir um público maior”.

Florentina Dolores Mattes é diretora da Associção de Cegos Louis Braille (Acelb) e tem baixa visão.  Essa será a primeira peça com audiodescrição que ela irá assistir. Para ela, todos os espetáculos com elementos visuais deveriam trazer audiodescrição. “Essa iniciativa é um grande avanço em termos de acessibilidade à cultura”, observa.

Um dos protagonistas de Tangos e Tragédias, o ator Nico Nicolaiewsky, lembra que o espetáculo já está em cartaz há 27 anos. Essa será a primeira apresentação com a audiodescrição. “Acredito que tem bastante coisa para ser descrita, começando com os cabelos e as roupas dos personagens”, afirma.

 

Segundo o ator, há interesse em ampliar a acessibilidade. “Acho que o espetáculo merece ser visto por todos”, garante. Ele comenta ainda que o serviço contribui também para que o acompanhante da pessoa com deficiência visual aproveite mais a peça, sem ficar explicando o que acontece.

 

Como vai funcionar a audiodescrição no Tangos e Tragédias?

Serão disponibilizados 100 fones de ouvido às pessoas com deficiência visual.  Na chegada, os interessados devem solicitar o aparelho no foyer do Theatro, passando a entrada à direita. Em uma cabine com isolamento acústico, a equipe da Mil Palavras Acessibilidade Cultural fará a descrição de todas as imagens do espetáculo para que a narração chegue apenas àqueles que utilizam os fones, não interferindo no andamento do espetáculo.

 

SERVIÇO

Tangos e Tragédias em única sessão com audiodescrição

Local: Theatro São Pedro – Praça Marechal Deodoro – Centro – Porto Alegre/RS – Fone: (51) 3227 5100

Data e hora: 26 de janeiro (quinta-feira), às 21 horas. A abertura do Theatro ocorre 1hora antes.

Ingressos: na bilheteria do Theatro. Dias e horários: 2ª (das 13h às 18h30), 3ª a 6ª (das 13h às 21h), sábado e domingo (das 15h às 21h)

Valores: de R$ 20,00 a R$ 70,00

 

Assessoria de imprensa

Mariana Baierle Soares – jornalista

 

 

 

Audiodescrição torna exposição de fotos acessível a pessoas com deficiência visual no Centro de Porto Alegre

Ação será no dia 11 de janeiro, às 18h, no Largo Glênio Peres

 

 A exposição de fotografias da artista Carmem Gamba, no Centro da Capital, estará acessível a pessoas cegas e com baixa visão. Um grupo de audiodescritores ligado à Mil Palavras Acessibilidade Cultural realizará sessão de audiodescrição (AD) ao vivo dos painéis de fotos instalados no gradil do Chalé da Praça XV, no Largo Glênio Peres. A ação ocorre no próximo dia 11 de janeiro (quarta-feira), às 18h.

 

Pessoas com deficiência visual poderão entrar em contato com as imagens e compreender a exposição – que faz parte da mostra Artemosfera. A AD consiste em um recurso que torna acessível, através da narração, qualquer evento, vídeo ou produto cultural em que as imagens sejam relevantes para o entendimento e a interação com o conteúdo.

 

Serão oferecidas vendas para que o público sem deficiência visual conheça a exposição sem enxergar. Letícia Schwartz, integrante do grupo e sócia da Mil Palavras, explica que o objetivo é justamente apresentar a audiodescrição ao público amplo que circula pelo Mercado Público e Centro da Capital.

 

A expectativa, afirma ela, é chamar atenção para o fato de que as pessoas com deficiência são consumidores de arte, cultura e entretenimento. A ação revela a importância da busca de soluções de acessibilidade em toda e qualquer atividade cultural, ressalta.

 

“Para as pessoas com deficiência visual, a ação possibilita o acesso a uma atividade cultural de imensa relevância. Para pessoas sem deficiência, é uma maneira diferente de entrar em contato com a arte”, comenta Letícia.

 

Dados preliminares do Censo 2010 revelam que mais de 45 milhões de brasileiros têm alguma deficiência sensorial, motora ou intelectual, quase um quarto da população do país. Desses, 35,8 milhões declaram-se com algum grau de deficiência visual. Mimi Aragón, idealizadora da ação, observa: “Essas pessoas pagam impostos como todo cidadão e precisam ter assegurada sua  inclusão cultural. A AD não é um favor, mas um direito”.

Nesse sentido, salienta Mimi, é importante que os próprios deficientes visuais conheçam o recurso para cobrar de produtores e do poder público sua inserção em todo bem cultural ou evento de qualquer natureza. “E as pessoas em geral precisam conhecê-lo para que, num futuro próximo, ele esteja amplamente incorporado ao cotidiano de todos”, afirma.

 

A artista Carmem Gamba comenta que o Largo Glênio Peres é frequentado por uma diversidade de tribos. “E nada melhor do que dar um espaço para o rosto dessas pessoas no ambiente que elas ocupam. A exposição Esse Lugar é a Minha Cara nasce dessa ideia de ligar a pessoa ao espaço possuído, onde um é espelho do outro”, explica.

 

Ela define  a iniciativa de audiodescrição de seus painéis como “maravilhosa” e “de uma sensibilidade incrível”. Sem esconder a satisfação em ter suas fotos acessíveis a um público mais amplo, Carmem afirma: “A exposição irá atingir pessoas até então não pensadas pelos fotógrafos. Minhas fotos estavam expostas somente para quem enxerga. E agora estão disponíveis também a quem não enxerga ou enxerga pouco”.

 

A fotógrafa pretende disponibilizar a AD em seus próximos trabalhos. “Quero no futuro criar também uma exposição que explore os relevos, as formas, as texturas e as sensações”, comenta.

 

 

O depoimento dos usuários da audiodescrição

 

O estudante de doutorado em Educação da UFRGS Felipe Leão Mianes, que tem baixa visão, define a audiodescrição como uma verdadeira “revolução no acesso à cultura”. Segundo ele, o recurso representa uma imensa possibilidade de inserção cultural. “É um importante instrumento na adquisição de conhecimento e na compreensão de determinadas coisas que antes eram muito difíceis”, afirma.

 

Ele observa ainda que a realização de uma sessão de AD no Centro de Porto Alegre, onde circula uma grande quantidade de pessoas, permitirá que indivíduos que provavelmente não teriam acesso a uma exposição possam entendê-la e participar da vida cultural da cidade.

 

A professora Marilena Assis, que é cega e atua em diferentes espaços, diz que o recurso significa, para ela, oportunidade de acesso aos meios culturais – o que até hoje foi limitado em sua vida.  “A audiodescrição me entusiasma, pois agora posso compreender e discutir filmes, teatro, arquitetura e exposições com mais apropriação e segurança”, relata.

 

Conforme ela, o acesso aos bens culturais com AD é um direito que está, aos poucos, se tornando realidade. “Voltei a ter prazer em ouvir filmes na companhia de pessoas que enxergam, já que agora não perturbo os outros com minhas perguntas”, garante.

 

 

O grupo de audiodescritores

 

O grupo que assume a tarefa de descrever as imagens captadas pela fotógrafa Carmem Gamba é constituído por audiodescritores e consultores – estes com deficiência visual – arregimentados por Letícia Schwartz a partir da primeira turma de especialistas formada pela audiodescritora paulistana Lívia Motta, em Porto Alegre, no ano passado.

 

Integram o coletivo profissionais provenientes de diversas áreas – atores, escritores, funcionários públicos, jornalistas, locutores, pesquisadores acadêmicos, publicitários e técnicos de áudio – que estudam a teoria, prática e produção da audiodescrição. Juntos, já produziram a primeira AD de um videoclipe brasileiro (“O Caminho Certo”, da cantora e compositora Luiza Caspary) e a audiodescrição da mostra acessível a cegos e pessoas com baixa visão do Dia Internacional da Animação 2011, entre outros trabalhos.

 

 

SERVIÇO

O QUÊ: Audiodescrição da exposição Esse Lugar é a Minha Cara, da fotógrafa Carmem Gamba.

ONDE: Gradil do Chalé da Praça XV, no Largo Glênio Peres, em Porto Alegre.

QUANDO: 11 de janeiro (quarta-feira), às 18h.

COMO: Entrada franca, com distribuição limitada de vendas para o público sem deficiência.