A partir de agora de tempos em tempos vou publicar postagens avaliando a acessibilidade em locais que frequento, tanto sob o ponto de vista do espaço físico quanto do comportamento e do preparo dos atendentes. Vou postar nessa coluna “Cliente Oculto” minhas experiências e impressões sobre o atendimento em lojas, restaurantes, bares, teatros ou qualquer outro espaço.
Espero, com isso, poder elogiar os locais que prestem um bom serviço e também cobrar melhorias dos que deixem a desejar. Quero muito contar com a participação dos leitores para comentários e sugestões!!! E se você tiver algum relato nesse sentido, pode escrever pra mim. Terei o maior prazer em publicar!
Vamos ao comentário de hoje…
Pouca gente imagina, mas sempre evitei os restaurantes estilo buffet ou esses em que as pessoas te servem e tu vais dizendo o quer. Esses locais são complicados porque geralmente tu tens que te servir ou ir pedindo as coisas com pressa (pois tem pessoas atrás na fila). Além disso, tu tens que identificar sozinho quais são as comidas (na maioria das vezes sem nenhuma plaquinha de identificação e em um ambiente pouco iluminado), encontrar o prato, o guardanapo, os talheres, pesar na balança e depois te dirigir para uma mesa equilibrando tudo e procurando lugar pra sentar. Uma tarefa bem complexa. Uma aventura para quem tem baixa visão ou qualquer outro tipo de dificuldade.
As praças de alimentação de shoppings, cada vez mais lotadas, geralmente funcionam assim: tu te serves no buffet e depois torce pra encontrar uma mesa no meio da multidão. É por isso que sempre dei preferência por locais em que posso fazer o pedido e aguardar tranquilamente na na mesa.
Mas enfim, hoje era domingo e eu queria algo rápido e simples para comer. Fui com minha irmã ao shopping Iguatemi aqui em Porto Alegre. Almocei, quase às três da tarde, no Balanceado – um local novo que abriu nos shoppings Iguatemi e Moinhos de Vento.
O restaurante é especializado em saladas e comidas saudáveis. Tem uma modalidade bem interessante de prato de salada personalizada. É como se fosse um Subway, em que o atendente vai servindo as coisas que tu pedes. Mas no Balanceado não tem sanduiche, e sim uma cumbuca que tu montas, cheia de saladas, molhos e temperos. Bem interessante a proposta. Um prato desses sai por R$ 13,90.
O local é composto por um buffet, em que o cliente escolhe oito tipos de saladas, dois tipos de molhos, mais o tempero e coberturas. A comida fica em um balcão na altura da minha cintura. Há um vidro por cima, quase até a altura do rosto de uma pessoa adulta em pé.
Algo completamente inacessível para um cadeirante. O cadeirante poderia até visualizar as comidas, mas ficaria inviável conversar com a atendente, dizer o que vai querer e efetuar o pagamento em um balcão super alto.
As saladas estão dentro desse balcão de vidro transparente sem nenhuma identificação. Ou seja, a pessoa deve enxergar e saber o que são as coisas. Se tivesse o nome das coisas ali em fontes grandes ajudaria qualquer cliente, não apenas aqueles com alguma deficiência visual.
Percebi aquelas dificuldades todas na fila, já apreensiva com a falta de acessibilidade do local, e me dirigi à atendente. Disse que ela deveria me explicar quais eram as comidas etc. A moça (Manuela, subgetente) foi bem simpática e educada. Foi me explicando tudo e, provavelmente sem se dar conta, fazendo uma audiodescrição improvisada das coisas.
Na hora de pagar, fui atendida por outra moça, que perguntou se eu queria que alguém levasse a bandeja até minha mesa – sem eu nem ter que pedir! Respondi, satisfeita com a proatividade, que sim. Então ela chamou um outro rapaz que, segurando minha bandeja, perguntou onde eu queria sentar. Disse que em qualquer lugar desde que estivesse livre (risos).
O atendimento foi rápido e objetivo. As pessoas me ajudaram exatamente naquilo que eu precisava. O local não tinha nenhuma acessibilidade arquitetônica, nenhum tipo de adaptação para mim ou para outra pessoa com deficiência. Mesmo assim, os atendentes foram educados e bem dispostos para ajudar.
Apesar de eu estar no caos que é a praça de alimentação de um shopping, consegui almoçar uma comidinha saudável sem me estressar. Além do mais, comi uma bela salada – que, com tantos molhos e coisas gordas que coloquei, nem parece salada e fica com um sabor muito bom!
Puxa, que iniciativa legal, Mari! Adorei o post. Acho que qualquer restaurante que tenha funcionários bem instruídos e com vontade de atender bem acaba, de alguma forma, se tornando “acessível”. E, talvez, eles agora se dêem conta de que plaquinhas com o nome dos itens pode ser uma coisa util – qualquer um, mesmo que enxergue muito bem, pode se confundir naquele mar de folhas, né? Te sugiro visitar de novo o restaurante em alguns meses pra ver se houve alguma mudança. Parabéns pelo teu trabalho bacana! Um beijo!
Com certeza Leticia.As plaquinhas iriam ajudar qualquer cliente, nao apenas alguem com deficiência.. Que bom que estás acompanhando o blog. Obrigada pelo retorno! bjão
Mariana BAierle
Mariana, adorei a nova seção de teu blog, certamente será muito útil para todos.
Em relação a restaurantes seria muito importante que eles também identificassem alguns ingredientes. Recebemos a visita de um primo com intolerância à lactose e glúten, e eu não fazia ideia da dificuldade em identificar os ingredientes dos pratos. Outro tipo de acessibilidade pouco encontrada…