Consultores da Tagarellas apresentam pesquisas sobre Acessibilidade em Seminário Internacional

Os audiodescritores consultores Felipe Mianes e Mariana Baierle, da Tagarellas Audiodescrição, apresentam trabalhos sobre Acessibilidade para pessoas com deficiência no 5º Seminário Brasileiro de Estudos Culturais e Educação e 2º Seminário Internacional de Estudos Culturais e Educação. O evento é uma realização da ULBRA (Universidade Luterana do Brasil) e da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e ocorre entre os dias 20 e 22 de maio de 2013, na sede da Ulbra, em Canoas (RS).

O seminário vai discutir eixos temáticos como: Educação, identidades e diferenças; Pedagogias culturais e mídias; Educação, ciência e tecnologia; Currículo e cultura; Infância e Cultura; Educação, literatura e arte, Juventude e cultura; Educação e Políticas Públicas; entre outros.

Felipe Mianes – historiador pela PUCRS e doutorando em Educação pela UFRGS – e Mariana Baierle – jornalista pela PUCRS e mestre em Letras pela UFRGS – apresentam, em co-autoria, o artigo “Currículo para Acessibilidade, algumas possibilidades”. O trabalho traz reflexões acerca do currículo das licenciaturas brasileiras e da qualificação dos docentes para atuação com alunos com deficiência, surdez e transtornos globais de desenvolvimento.

Os pesquisadores trazem ainda a sua experiência enquanto coordenadores adjuntos do curso de extensão “Educação, Cultura e Acessibilidade”, ocorrido no segundo semestre do ano passado na UFRGS e com uma nova edição prevista para junho desse ano. O artigo traz ainda excertos de trabalhos dos alunos, com análise dos entendimentos e percepções acerca de acessibilidade cultural e educacional.

Felipe Mianes apresenta ainda individualmente o artigo “Audiodescrição e os processos de identificação através da cultura”. No trabalho ele analisa como a audiodescrição, além de recurso de acessibilidade, pode ser também um componente nos processos de identificação das pessoas com deficiência visual. Através de depoimentos de pessoas cegas e com baixa visão, é revelada a importância da audiodescrição no acesso à cultura.

Assim que os anais do evento estiverem disponíveis vamos divulgar o link para leitura e consulta dos trabalhos.

Uma homenagem às mães com deficiência

Em homenagem ao Dia das Mães, eu gostaria de fazer uma homenagem a todas as mães, mas em especial às mães com deficiência. Eu tive a alegria de conversar com duas mães com deficiência sobre suas experiências.

A primeira é a Vítória Bernardes, que tem 28 anos, é psicóloga, cadeirante e mãe da Lara, que está com três meses. A vitória, que é mãe de primeira viagem, conta que cuidar da Lara está sendo um desafio emocionante. Ela está se sentindo uma pessoa mais completa. A maternidade trouxe um novo sentido em sua vida.

As dificuldades em termos de acessibilidade estão por toda parte, mas não são novidade em relação às dificuldades que ela já enfrentava antes de ser mãe. Faltam de rampas, espaços de circulação, calçadas bem cuidadas, transporte adaptado etc.

Agora a psicóloga passou a prestar atenção em alguns detalhes, que talvez antes passassem despercebidos. Teve muita dificuldade, por exemplo, de encontrar clínicas acessíveis para fazer os exames de ultrassom durante a gestação. Os espaços não tinham acessibilidade alguma, desde a entrada até o local de realização dos exames. Ela precisava sair da cadeira de rodas e deslocar-se para a cama do exame. O loccal era alto e não estava preparado para uma gestante cadeirante.

Outra dificuldade é com relação ao berço da filha, onde ela só consegue chegar de lado com a cadeira. Os móveis e até os carrinhos para empurrar o bebê não são pensados para uma mãe com deficiência.

Agora ela está em licença maternidade no trabalho, então pode se dedicar totalmente aos cuidados da filha. Mas já está planejando com quem deixar a menina e como irá se organizar para retornar às atividades profissionais. Uma preocupação recorrente a todas as mães nessa fase de final da licença do trabalho.

Falei ainda com a Josiane França, que tem 36 anos e também é uma pessoa muito ativa. Ela circula por vários espaços, faz academia, foi Rainha Deficiente Visual do Carnaval 2013 de Porto Alegre, está envolvida em movimentos em prol da acessibilidade para pessoas com deficiência, é dona de casa, cega e mãe de dois filhos. O Rodrigo tem 5 anos e a Gieniffer tem 13.

Josiane conta que para eles a deficiência visual da mãe é encarada com muita naturalidade. Inclusive eles a ajudam a escolher as roupas e lhe dizem as cores das coisas. É uma troca constante.

Sente falta de acessibilidade nos supermercados e lojas. Fazer compras para os filhos ainda é a maior dificuldade. Fraldas, produtos de higiene, alimentos e até brinquedos não possuem nenhuma identificação em braile, seja para a mãe ou até para a criança com deficiência visual.

Sua maior preocupação com os filhos é com relação aos estudos. Josiane é super envolvida com a educação dos dois. Está sempre na escola, conversando com os professores, perguntando sobre a dedicação e comportamento deles e cobrando boas notas. Quer que eles sejam pessoas bem qualificadas, tenham um bom futuro e cursem uma faculdade.

E se depender da sua dedicação, tenho certeza que isso vai acontecer! Infelizmente tanto a Vitória quanto a Josiane relatam que enfrentam resistência de várias pessoas por serem mães com deficiência. Algumas pessoas insinuam que elas nao poderiam cuidar dos próprios filhos. Fazem perguntas e comentários ofensivos. Parecem esquecer que o que uma criança mais precisa é de amor, dedicação e educação. Mas essa é uma realidade que , aos poucos, está sendo modificada.

Vitória, Josiane e tantas outras mães estão de parabéns. Aproveito para desejar um feliz dia das mães para todas a maes, inclusive para a minha mãe Rose.

A história da Vitória e da Josiane me emocionou muito. Um dia também espero ser mãe e compartilhar com os leitores do blog minhas experiências nesse sentido.

Um grande abraço a todos e obrigada pela leitura, comentários e parceria de

Acessibilidade nos supermercados

Conheci a Carlise Kronbauer há pouco tempo e ela me contou coisas muito interessantes sobre sua experiência emquanto consumidora nos supermercados. Ela e o noivo preferem fazer compras pela Internet em função da falta de acessibilidade nos supermercados. Ela escreveu um depoimento bem legal sobre isso. Segue o texto dela:

“Comprar no supermercado online é muito bom, pois temos acesso a todos os produtos e marcas disponíveis sem depender de ninguém que enxerga para nos dizer.

Comprar no supermercado físico é frustrante, pois somos mal atendidos por funcionários despreparados para auxiliar pessoas cegas.

Comprando no supermercado online reduzimos a metade o tempo fazendo compras, pois uma realidade que enfrentamos quando vamos ao supermercado físico é que os atendentes não sabem onde os produtos estão, não entendem de marcas, não sabem distinguir couve flor de brócolis e também muitas vezes não sabem ler ou não demonstram interesse em ajudar.

Certa vez compramos shampoo e nos venderam condicionador. Percebi que nos venderam errado quando fui tomar banho e senti que meu cabelo ficou um sebo em vez de fazer espuma como shampoo. Outra vez compramos patê de frango e percebi quando fui comer o pão que era de fígado.

Comprando pela internet podemos escolher os produtos que queremos, sem se estressar porque o atendente não acha a marca que desejamos, podendo comprar até aquilo que indo ao supermercado físico não compraríamos, devido ao atendente não nos oferecer.

Recomendo a compra no supermercado online, pois os produtos recebidos em casa como frutas e verduras sempre são bons, pois o estabelecimento não sabe que somos cegos e envia produtos de qualidade.

Portanto, o supermercado online facilita a vida dos cegos, pois não precisamos nem sair de casa para fazer as compras apenas esperar elas chegar em casa.”

(Carlise Kronbauer)

A partir desse depoimento fico me perguntando se não está mais do que na hora dos supermercados se preocuparem com a questão da acessibilidade. Capacitar funcionários a atender as pessoas com qualidade é fundamental.

Imagino que alguns proprietários de redes de supermercados achem que isso não é vantajoso, pois nunca veem pessoas com deficiência visual fazendo compras Mas o relato da Carlise é bastante eloquente. Ela prefere comprar pela internet do que ir até uma loja física porque sabe que será mal atendida, que não vai encontrar os produtos que deseja e, ainda por cima, vai levar muito tempo.

Acredito que vale lembrar que 23,9% da população brasileira tem alguma deficiência. Acho que as lojas, supermercados e comércio em geral não deveriam desprezar este público consumidor.

Não tenho nada contra as lojas virtuais, mas sim ao fato dessa ser a única alternativa para que pessoas cegas ou com baixa visão consigam fazer compras. No momento em que esses estabelecimentos forem acessíveis e oferecerem condições adequadas, a Carlise e tantos outros tantos milhões de brasileiros poderão frequentá-los com maior autonomia e segurança. A pessoa com deficiência tem – ou deveria ter – o direito de escolher onde quer fazer compras, sem ficar restrita a determinados ambientes ou lojas virtuais.

Acessibilidade em hotéis

Sempre gostei muito de viajar, conhecer novos lugares e pessoas. Mas confesso que não me sinto segura em ir sozinha para um hotel que eu não conheça. Infelizmente a estrutura dos hotéis, pousadas e das próprias cidades brasileiras ainda não favorece a autonomia de turistas com qualquer tipo de deficiência.

Há alguns anos atrás estive em um hotel no Nordeste, onde passei por uma situação, no mínimo, desagradável. Estava na área das piscinas do hotel, mas não com roupa de banho. Estava com roupa comum e minha bolsa, pois ia sair. Sabia onde ficava a piscina adulta (pois já tinha entrado nela), mas não me dei conta de que estava próximo à piscina infantil e… Sim, cai nela de roupa e tudo.

Como a piscina infantil é bem rasa, acabei esfolando os joelhos e quase bati com a cabeça na beira, o que poderia ter levar a um acidente mais grave. Tirando o susto e o transtorno de ter que voltar para o quarto, trocar de roupa, secar a bolsa e as coisas que estavam dentro (as mulheres sabem como uma situação dessas é delicada), sobrevivi a tal situação.

Mas muito além da queda na água e dos joelhos esfolados – que por si só não foi tão grave -, fiquei muito constrangida com a situação. Havia outros hospedes em volta, ficaram todos me olhando, comentando e perguntando como eu estava. É muito chato cair na piscina de roupa e tudo quando isso não é feito de forma proposital. Fiquei muito envergonhada e constrangida com a situação.

Creio que deveria obrigatório um sinal de alerta no piso no entorno das piscinas (assim como existe próximo à linha do metrô para evitar que as pessoa caiam). Isso é uma questão de segurança e poderia evitar muitos outros acidentes.

Além disso, outra coisa que me incomoda muito é a iluminação difusa nos quartos. Os hotéis insistem em projetar lâmpadas laterais ou luminárias fraquinhas nos cantos do quarto. Parece que deixar o ambiente na penumbra é algo “chique”. Para mim isso não é chique. Isso é um transtorno, uma dificuldade, pois a baixa iluminação me atrapalha muito.

O local do café da manhã é sempre outro desafio. Geralmente o café da manhã é um Buffet e eu preciso de ajuda para me servir, pois identificar as comidas é uma dificuldade grande. Geralmente também são espaços escuros ou com pouca luz e muitos obstáculos pelo caminho.

O cardápio tem sempre uma letra pequena. Alguns locais chegam a disponibilizar cardápio em braile, mas poucos hotéis ou restaurantes lembram de imprimi-los também em fontes ampliadas para o público com baixa visão e os idosos (que também são super fãs das fontes grandes).

Seriam inúmeras as minhas considerações sobre a falta de acesssibilidade em hotéis. Mas se eu pudesse dar um conselho para seus administradores e proprietários, diria que consultem hospedes com deficiência antes de projetar seus espaços.

Perguntem e se informem sobre as necessidades das pessoas. O design, a decoração e a funcionalidade de qualquer ambiente devem ser aliados – e não inimigos – da acessibilidade.

Por Mariana Soares