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Acessibilidade em hotéis

Sempre gostei muito de viajar, conhecer novos lugares e pessoas. Mas confesso que não me sinto segura em ir sozinha para um hotel que eu não conheça. Infelizmente a estrutura dos hotéis, pousadas e das próprias cidades brasileiras ainda não favorece a autonomia de turistas com qualquer tipo de deficiência.

Há alguns anos atrás estive em um hotel no Nordeste, onde passei por uma situação, no mínimo, desagradável. Estava na área das piscinas do hotel, mas não com roupa de banho. Estava com roupa comum e minha bolsa, pois ia sair. Sabia onde ficava a piscina adulta (pois já tinha entrado nela), mas não me dei conta de que estava próximo à piscina infantil e… Sim, cai nela de roupa e tudo.

Como a piscina infantil é bem rasa, acabei esfolando os joelhos e quase bati com a cabeça na beira, o que poderia ter levar a um acidente mais grave. Tirando o susto e o transtorno de ter que voltar para o quarto, trocar de roupa, secar a bolsa e as coisas que estavam dentro (as mulheres sabem como uma situação dessas é delicada), sobrevivi a tal situação.

Mas muito além da queda na água e dos joelhos esfolados – que por si só não foi tão grave -, fiquei muito constrangida com a situação. Havia outros hospedes em volta, ficaram todos me olhando, comentando e perguntando como eu estava. É muito chato cair na piscina de roupa e tudo quando isso não é feito de forma proposital. Fiquei muito envergonhada e constrangida com a situação.

Creio que deveria obrigatório um sinal de alerta no piso no entorno das piscinas (assim como existe próximo à linha do metrô para evitar que as pessoa caiam). Isso é uma questão de segurança e poderia evitar muitos outros acidentes.

Além disso, outra coisa que me incomoda muito é a iluminação difusa nos quartos. Os hotéis insistem em projetar lâmpadas laterais ou luminárias fraquinhas nos cantos do quarto. Parece que deixar o ambiente na penumbra é algo “chique”. Para mim isso não é chique. Isso é um transtorno, uma dificuldade, pois a baixa iluminação me atrapalha muito.

O local do café da manhã é sempre outro desafio. Geralmente o café da manhã é um Buffet e eu preciso de ajuda para me servir, pois identificar as comidas é uma dificuldade grande. Geralmente também são espaços escuros ou com pouca luz e muitos obstáculos pelo caminho.

O cardápio tem sempre uma letra pequena. Alguns locais chegam a disponibilizar cardápio em braile, mas poucos hotéis ou restaurantes lembram de imprimi-los também em fontes ampliadas para o público com baixa visão e os idosos (que também são super fãs das fontes grandes).

Seriam inúmeras as minhas considerações sobre a falta de acesssibilidade em hotéis. Mas se eu pudesse dar um conselho para seus administradores e proprietários, diria que consultem hospedes com deficiência antes de projetar seus espaços.

Perguntem e se informem sobre as necessidades das pessoas. O design, a decoração e a funcionalidade de qualquer ambiente devem ser aliados – e não inimigos – da acessibilidade.

Obra mal sinalizada causa acidente

A leitora e minha amiga Tatiane Soares Jesus me escreveu essa semana relatando um episódio lastimável e pediu que eu o compartilhasse no blog. Vamos ao fato, nas palavras dela:

 

“Eu estava essa terça-feira (29/11) saindo do supermercado com a minha afilhada, às 21h. Voltando pra casa, passei por uma loja (Secreta Vaidade, na avenida Protásio Alves, 278, bairro Rio Branco) que estava em obras.

Havia na calçada vários obstáculos no caminho e alguns cavaletes de ferro que batem na altura da barriga.

Na nossa frente caminhava um casal. Eu vinha mais atrás e só enxerguei a bengalinha da moça, mas como ela estava acompanhada continuei a conversar com minha afilhada.

Só que os dois tinham baixa visão. Quando escutei um “ai. ai” eles já tinham batido de barriga nos cavaletes. Bateram, mas não chegou a espetar nenhuma ponta neles graças a Deus.

Eles começaram a reclamar. Então chegaram dois funcionários da obra e ficaram parados sem falar com eles, como se já estivessem ali cuidando pra ninguém cair e eles é que não viram…

Logo depois que o casal foi andando apareceu uma mulher na porta, que parecia a dona, e eu falei: “Eles se machucaram, tem que ter alguma sinalização aqui”. E ela só ficou me olhando e não me respondeu nada.

Na hora só pensei em ajudar o casal a chegar até a parada de ônibus que eles queriam. Mas toda essa situação me deu muita raiva!”

 

Episódios como esse relatado pela Tatiane, infelizmente, são muito comuns, Cavaletes podem ser ótimos sinalizadores para as pessoas que enxergam com perfeição. Mas para os deficientes visuais representam uma armadilha.

 

Nos cavaletes há uma estrutura de madeira (ou outro material) suspensa e, por isso, não identificável pela bengala, que toca somente o chão. A pessoa só percebe sua presença quando já bateu o próprio corpo no objeto – o que pode ocasionar acidentes graves.  

 

No caso de placas, fios de aço (atravessados nas calçadas), orelhões, galhos de árvores, entre outros, a bengala também não os capta. Por isso representam um grande risco à segurança de pessoas com deficiência visual.

 

Mais do que isso, tais obstáculos desrespeitam os direitos humanos. Qualquer pessoa tem o direito de ir e vir e de transitar com liberdade, segurança e autonomia por calçadas e ruas da cidade.

 

Para uma devida sinalização é preciso que qualquer obra, principalmente em calçadas, seja devidamente identificada com piso tátil ou marcações na altura do chão que permitam ao deficiente visual desviar corretamente.