RELATO DA ÚLTIMA AULA DO CURSO “AUDIODESCRIÇÃO E AS INTERSECÇÕES COM A EDUCAÇÃO”

Este sábado tivemos a terceira aula do curso de extensão “Audiodescrição e as intersecções com a Educação” que estamos ministrando na Faculdade de Educação da UFRGS. Eu e Felipe Mianes, enquanto coordenadores, juntamente com as parceiras e amigas Marcia Caspary e Mimi Aragon, estávamos com muita expectativa para o início das atividades. Com o curso já em andamento, podemos dizer que estamos muito felizes com o entusiasmo e o envolvimento da turma.

Ficamos muito satisfeitos com a alta procura pelo curso, pois a turma está lotada e inclusive algumas pessoas não conseguiram vaga. Por um lado ficamos tristes em saber disso, mas, por outro, isso revela o quanto o nosso trabalho e dedicação em prol da acessibilidade vem dando frutos e vem se multiplicado.

Nossa última aula foi produtiva e emocionante. Na primeira parte da aula, trouxemos questões históricas sobre deficiência ao longo dos séculos e um pouco da legislação brasileira sobre acessibilidade e audiodescrição.

No segundo momento, realizamos uma atividade prática, em que, vendados, os alunos puderam explorar o campus da UFRGS – um espaço bastante inacessível, com diversas barreiras e obstáculos no solo e aéreos – com o auxílio de um colega como guia.

Mais do que já praticar a audiodescrição, propusemos que os alunos prestassem atenção em seus outros sentidos, que nem sempre estão muito aguçados, como o olfato, a audição e o tato.

O objetivo não era salientar a falta da visão ou o sentimento de “compaixão” por aqueles que não a possuem, mas sim a percepção de outras formas de explorar o ambiente.

É evidente que, como o Felipe ressaltou, ninguém teria a experiência de ser cego ou alguém com baixa visão em uma atividade didática como essa. Afinal, todos ali sabiam que quando tirassem a venda, voltariam a enxergar. Ou seja, essa dinâmica jamais corresponderia, nem de perto, à experiência real e ao sentimento de ser um sujeito com deficiência visual.

A turma revelou maturidade e seriedade ao realizar o exercício, trazendo discussões e reflexões produtivas ao término da dinâmica.

Antes de serem simplesmente bons ou excelentes audiodescritores queremos que nossos alunos saibam colocar-se no lugar do outro. É importante que interajam e se aproximem do público com deficiência visual. É fundamental que realmente entendam as dificuldades de quem não “vê” o mundo como a maioria das pessoas.

Queremos que sintam, na prática, como é guiar alguém e como é a sensação de ser guiado. Qual a melhor maneira de fazer isso? O que é importante descrever em um ambiente? Que tipo de informações são necessárias? O que é possível perceber através dos outros sentidos? E o que não é?

Acredito que a técnica da audiodescrição possa ser aprendida por muita gente. Mas a sensibilidade e a compreensão sobre as verdadeiras dificuldades do público com deficiência visual não são tão simples assim. A audiodescrição não é uma atividade isolada e mecânica.

Não basta saber descrever uma imagem. Não basta saber narrar com precisão. É necessário irmos muito além disso. É preciso desenvolver diferentes visões sobre o mundo, assim como é proposto no documentário “A Janela da Alma”.

Eu diria que sensibilidade é a palavra-chave. Estamos em um momento histórico de mudança de cultura e de pensamento. O mundo não comporta mais uma visão homogênea e padronizada sobre as características das pessoas.

É por isso que esse exercício foi emblemático para mim nesse início do curso. Nossos alunos souberam, de forma inteligente – sem “pena” ou benevolência pelas pessoas com deficiência visual – colocar-se no lugar do outro e refletir sobre todas as dificuldades de acessibilidade em um abiente como a UFRGS – pelo qual talvez se tivessem de olhos abertos passassem despercebidas.

Colocar-se no lugar do outro é o primeiro passo para a realização de uma audiodescrição de qualidade. A audiodescrição pressupões esse exercício constante.

Parabéns à turma. Parabens aos professores. Esse é apenas um começo da nossa caminhada, mas que já me enche de orgulho!

Cultura inclusiva nas empresas

Essa semana estive em uma palestra sobre Cultura Inclusiva nas empresas, que ocorreu na livraria Cultura, do Shopping Bourbon Country em Porto Alegre. O evento, promovido pelo Grupo RH-RS, destinou-se a gestores e profissionais da área de Recursos Humanos. Foram abordadas questões relativas à lei de cotas, legislação na contratação de pessoas com deficiência e aspectos comportamentais e culturais dentro das corporações.

Pela legislação brasileira, empresas com mais de 100 funcionários devem ter de de 2 a 5% do quadro formado por funcionários com deficiência – o que ainda é dificilmente cumprido pelas empresas.

A administradora Marcia Gonçalves iniciou sua fala lembrando que as pessoas com deficiência consomem todo tipo de produto, desde alimentação, vestuário, sapatos e serviços em geral. A partir do momento em que as empresas perceberem isso, terão um olhar diferenciado em relação aos próprios funcionários com deficiência.

Entender a pessoa com deficiência em primeiro lugar como pessoa e depois por ter uma deficiência ainda é um desafio. A pessoa pode ser mais ou menos competente, tímida, extrovertida, responsável, irresponsável. pontual ou não. mais ou menos organizada e qualificada./ e a deficiência é mais uma entre tantas características que a constituem.

O fato de ter uma deficiência não garante que ela seja melhor ou pior que seus colegas. A empresa deve exigir que ela produza e apresente resultados como qualquer funcionário.

Eventos como esse ajudam na disseminação de informações importantes e na preparação de profissionais da área de Recursos Humanos para que percebam esse funcionário em seu pleno potencial, não apenas em suas limitações físicas.

Nesse sentido, fico imensamente feliz ao perceber que algumas empresas já estão percebendo de forma mais realista e menos preconceituosa os candidatos com deficiência em seus processos seletivos. O grupo Abril, por exemplo, está com oportunidades para Talentos Especiais em diversas áreas.

Estão abertas vagas para Administração, Marketing, Jornalismo, Comercial, Engenharia, Tecnologia da Informação, Webdesigner, entre outros. As oportunidades são para início imediato em São Paulo e destinam-se a profissionais com deficiência com Ensino Superior completo ou em andamento. Mais informações pelo site:
www.vagas.com.br

I Encontro Nacional de Acessibilidade Cultural e III Seminário Nacional de Acessibilidade em Ambientes Culturais

Data: 16, 17 e 18 de abril de 2013

Local: Fundação Biblioteca Nacional – RJ

Temáticas:
Políticas Púbicas para Acessibilidade Cultural
Linguagens de Produtos Culturais Acessíveis
A Universidade na formação e produção de Cultura Acessível
Planejamento e Projeto de Produtos Culturais Acessíveis
Programas Educativos e Acessibilidade Cultural

Em breve a programação completa em:
acessibilidadecultural.wordpress.com
www.medicina.ufrj.br/acessibilidadecultural

Mais informações:
acessibilidadecultural.ufrgs@gmail.com

Apoio:
EBC – Empresa Brasil de Comunicação
Fundação Biblioteca Nacional
Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência
Governo Federal do Brasil – País rico é País sem pobreza

Realização:
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Mais Diferenças – Educação e Cultura Inclusivas
Fórum de Ciência e Cultura – UFRJ
Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural
Terapia Ocupacional – UFRJ
Núcleo Interdisciplinar Pró-Cultura Acessível
Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural
Ministério da Cultura
Governo Federal do Brasil – País rico é País sem pobreza

Oficina de teatro para pessoas surdas tem inscrições abertas

O grupo Signatores está com inscrições abertas para oficina gratuita de teatro para pessoas surdas. As aulas ocorrem na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre (Rua dos andradas, 736, Centro Histórico), Serão todas as terças e quintas a noite. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o próximo dia 17 pelo email contato@signatores.com.br.

As inscrições estão abertas a adolescentes e adultos surdos, a partir dos 15 anos.

Adriana de Moura Sommacal, professora e coordenadora do grupo há três anos, ministra todas as aulas em Libras, a língua brasileira dos sinais – primeira língua dos surdos. Ela é mestre em Artes Cênicas pela UFRGS e pesquisa o uso de Libras na narrativa cênica.

As oficinas tem o objetivo de desenvolver a convivência em grupo, a expressão e articulação social dos participantes. Segundo adriana, alguns dos alunos inclusive manifestam interesse em desenvolverem-se como professores de teatro.

Uma questão importante é que todas as apresentações dos Signatores são são acessíveis tanto para pessoas surdas quanto para ouvintes. Ou seja, o pai surdo pode levar seu filho ouvinte no mesmo espetáculo.

No próximo dia 26 de março o grupo já tem uma apresentação marcada na Casa de Cultura Mario Quintana, onde será exibida a peça “Memória na ponta dos dedos”.

Por Mariana Soares