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Mãos que se tocam

Nossas mãos se procuram

No claro e no escuro

Às vezes tateiam o ar

Mas sempre se encontram

(…)

De mãos dadas caminhamos

De mãos dadas nos admiramos

De mãos dadas nos amamos

De mãos dadas sonhamos

(…)

Meus olhos sorriem pra ti

Nossas mãos conversam

Sinto teus dedos inquietos

Sinto a vida pulsante e intensa

(…)

Nossas mãos se tocam

Compartilham segredos,

E a cada toque…

Uma nota musical

Sobre calçadas e mentes deterioradas

Degraus e obstáculos inacessíveis, pedras no caminho, sacos de lixo e entulhos nas calçadas, obras mal sinalizadas estão por toda parte. Quando uma pessoa com deficiência visual sai de casa, trabalha, estuda, vai a uma festa, enfim, vive a vida, o primeiro desafio é locomover-se pelas calçadas de Porto Alegre.

As calçadas são a base para o deslocamento de qualquer pessoa. É por elas que nos locomovemos, teoricamente em segurança – o que infelizmente não acontece devido ao seu precário estado de conservação.

Quando digo que as calçadas não vão bem, quero dizer que a base da sociedade não vai nada bem. Não falo apenas nas calçadas propriamente ditas. Falo em barreiras atitudinais. Algo que vai além de obstáculos físicos: a consciência, o respeito e o bom senso.

Se há um carro estacionado no espaço dos pedestres é porque alguém o colocou ali. Parece óbvio dizer isso, mas os objetos e bens materiais não têm vontade e autonomia própria. Se um prédio não tem rampa de acesso é porque seus arquitetos e engenheiros o conceberam assim. Afinal, para que rampas se eles não iriam utilizá-las?

Por trás das calçadas deterioradas, dos prédios, dos elevadores, dos ônibus, dos espaços públicos inacessíveis existem pessoas que os projetaram.

Mais difícil do que lidar com as barreiras arquitetônicas, é lidar com os indivíduos que as conceberam. Mais difícil do que cair um tombo, esfolar o joelho, ralar a mão e torcer o pé, é lidar com as pessoas que estavam lá o tempo todo e não consertaram aquele buraco, deixando com que você caísse e se machucasse.

É triste dizer isso, mas as barreiras físicas são as menos graves com as quais nos deparamos diariamente. Muito mais difícil é lidar com o despreparo e o desconhecimento das pessoas para lidar com qualquer diversidade.

Muitas vezes somos subestimados em nossas capacidades pessoais, profissionais e intelectuais simplesmente por termos uma deficiência física. Não me considero mais ou menos capaz que outros colegas jornalistas somente pelo fato de ter baixa visão. A capacidade, o profissionalismo, o caráter e o desempenho de uma pessoa estão aquém do fato dela ter ou não qualquer deficiência.

Infelizmente isso ainda é algo distante da compreensão das empresas, dos órgãos públicos e da sociedade em geral. O que eu e tantas outras pessoas com deficiência defendemos é simplesmente oportunidades iguais, com as devidas condições de trabalho que necessitamos. Precisamos de oportunidades e espaço para mostrar aquilo que somos capazes de fazer.

Citando frase da publicitária Juliana Carvalho, precisamos “construir rampas na cabeça das pessoas”. Cair e levantar de tombos em calçadas em péssimas condições, espalhadas por toda parte? Nada é tão difícil quanto conviver com o preconceito, a subestimação e os estereótipos alimentados por esses mesmos indivíduos que não consertam suas calçadas, tão pouco reciclam sua mentalidade deteriorada.

São esses os indivíduos – que não arrumam suas calçadas – que no dia a dia não irão enxergar minhas capacidades e potencialidades além da deficiência. É nesse momento que me pergunto: quem tem baixa visão nessa história?

Mais do que consertar calçadas, é preciso reciclar as ideias e a mentalidade humana.