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A primeira turma e gente nunca esquece…

O curso de extensão “Educação, Cultura e Acessibilidade” (da Faculdade de Educação da UFRGS) que eu e Felipe Mianes estamos ministrando (juntamente com outros professores convidados) está me trazendo uma enorme satisfação e orgulho dos nossos alunos.

Na última terça-feira demos a sétima aula de um total de 12. Fico feliz com os resultados alcançados até agora. E, ao mesmo tempo, com o coração na mão por saber que já passamos da metade do curso. Pois quando uma experiência é boa, sempre queremos dar prosseguimento e queremos que ela se prolongue bastante.

Desde que o curso começou as terças-feiras tornaram-se dias alegres e desafiadores para mim. Apesar das chuvas constantes nas terças-feiras à noite e dos percalços com os equipamentos que não funcionam na Ufrgs, me sinto entusiasmada e motivada para dar aula, encontrar os alunos, trocar experiências e aprender com eles – mesmo após um dia longo com outro trabalho e muitos afazeres.

Antes do curso começar não sabia o que esperar dos alunos, que perfil teriam, se seriam interessados, participativos… Hoje posso dizer que fomos contemplada com uma turma muito especial – de pessoas empenhadas e ávidas por conhecimento.

É a minha primeira experiência como coordenadora de um curso de extensão e como docente da mesma turma ao longo de todo o semestre. Eu já tinha experiência em sala de aula e em seminários, mas não era a mesma situação. Pois sempre dei aula em turmas específicas, aulas sobre uma temática ou outra – sem uma continuidade e uma responsabilidade como estamos tendo agora.É algo prazeroso e instigante planejar um semestre de aula, cronograma e estrutura do curso, pensar no perfil da turma, nas demandas, no crescimento dos alunos…

Nessa última aula – que contamos com a participação preciosa das amigas e audiodescritoras Marcia Caspary e Mimi Aragon – fiquei realmente emocionada. Para mim a audiodescrição é algo muito sério e importante. É algo tocante e que transformou minha vida para melhor desde que conheci o recurso e comecei a estudar o tema mais a fundo.

Ver tantos alunos empenhados, fazendo perguntas e considerações sobre AD pode parecer algo simples e banal. Mas para mim não é. Foi o primeiro contato de todos com audiodescrição.

Vibrei com o esforço e empenho deles em sua primeira experiência na descrição de uma foto. Vi que, de alguma forma, conseguimos tocá-los e instigá-los a pesquisar mais sobre o assunto.

Me sinto realizada por saber que plantamos uma sementinha nessa turma. Uma semente de curiosidade e interesse pela audiodescrição. Talvez dali saíam alguns futuros audiodescritores – roteiristas, narradores ou consultores.

Certamente dali sairão professores melhor preparados e sensibilizados para trabalhar questões de acessibilidade em sala de aula. Profissionais melhor preparados para lidar com essas questões em empresas, museus, bibliotecas, espaços culturais.

Fico honrada em sentir que contribui – e sigo contribuindo com o possível – para que esses alunos multipliquem seus conhecimentos. Fico feliz ao imaginar que pessoas com deficiência poderão ser atendidas ou recebidas pelos alunos do curso e que, certamente, serão muito bem recebidas e atendidas em suas demandas.

Sei que, de alguma forma, noosos alunos – que são pessoas sensíveis e empenhadas – estarão ajudando a construir um mundo melhor. Um mundo com com mais AD, com mais rampas de acesso, com menos barreias arquitetônicas, com mais respeito, com mais educação e mais bom senso no trato com pessoas com deficiência e com mais cultura e conhecimento ao alcance de todos.

Parabéns à nossa turma! Obrigada aos alunos queridos que estão dando sentido ao nosso trabalho e me fazendo ver (de todas as formas) o quanto ainda temos que crescer e evoluir juntos na construção desse mundo mais acessível.

Inscrições abertas para o curso “Educação, Cultura e Acessibilidade”

Estão abertas as inscrições para o curso de extensão da UFRGS “Educação, Cultura e Acessibilidade”. As aulas, ministradas por Felipe Mianes, Mariana Baierle e professores convidados, ocorrem de 11/setembro a 27/novembro, sempre nas terças à noite, no campus Central da UFRGS. Vagas limitadas.

Mais informações: http://cursoeducabilidade.blogspot.com.br/

Curso de extensão “Educação, Cultura e Acessibilidade”

Está no ar o blog do Curso de Extensão “Educação, Cultura e Acessibilidade”, que acontece na Faculdade de Educação da UFRGS. As aulas serão ministradas pelos professores coordenadores Felipe Leão Mianes e Mariana Baierle Soares e por professores convidados. Os encontros ocorrem nas terças a noite, de setembro a novembro.

Mais informações pelo link:
http://cursoeducabilidade.blogspot.com.br/

O perfil das pessoas evidenciado nos ônibus

Os ônibus públicos de Porto Alegre são um reflexo da sociedade. Em um coletivo, lotado em horário de pico, no inicio ou fim do dia, vivenciam-se as mais diversas, inusitadas e até decepcionantes situações.

 

Há todo tipo de passageiro, de cobrador e de motorista no transporte público. Em suas diferentes funções, constituem-se de sujeitos com todo tipo de humor, caráter, educação, postura e valores.

Em uma breve permanência no confinamento de um ônibus lotado – único meio de transporte de grande parte da população -, as características intrínsecas de cada um inevitavelmente vem à tona.

 

A forma como as pessoas se portam em um ônibus pode revelar muito sobre ela. Saber conviver em um ônibus é uma questão de cidadaniaa e de relacionamento em sociedade. A conduta idônea ou desonesta de cada um pode ser observada através de simples gestos.

Os motoras
Começando pelos motoras, existem aqueles do tipo Apressadinho. São aqueles que não param quando você está correndo em direção à parada – geralmente num dia importante, em que você não poderia se atrasar, mas o despertador não tocou,

 

Nesses dias, o passageiro carrega sacolas, casacos, guarda-chuva e todo tipo de objeto que lhe dificulte de correr. São nesses dias em que as mulheres estão com seus saltos mais altos.

 

A solução é gritar ou bater no ônibus quando ele já está arrancando: “Por favor, pelo amor de Deus, espere!”. Tudo em vão porque o Apressadinho não irá esperar nem um segundo a mais.

 

“Filho da puta”, você pensa, mas não há mais nada que possa ser feito. A solução é esperar mais vinte minutos até que o próximo ônibus chegue lotado e você consiga se espremer na porta.

 

Além disso, o Apressadinho não pode ver uma velhinha subir os degraus da frente para rapidamente (mais do que das outras vezes) arrancar o veículo em um solavanco, fazendo com que a pobre senhora quase (ou de fato) despenque no chão.

Mas não sejamos injustos com os motoristas. Entre eles, há também o tipo Prestativo.

 

Ao contrário do Apressadinho, Prestativo é aquele que espera quando você está do outro lado da rua, tentando atravessar. Acaba deixando todos os passageiros dentro do ônibus incomodados com a demora para arrancar, mas Prestativo não se preocupa com isso. Está sempre tentando agradar.

 

Prestativo espera as velhinhas entrarem e sentarem no banco para só depois arrancar. Prestativo te reconhece quando você pega a mesma linha pela segunda vez na vida. Abre um sorrido diz: “Você de novo? Hora de voltar pra casa né? Que coisa boa”.

 

Pela manhã, Prestativo te diz “bom-dia” com um entusiasmo que você não sabe de onde ele tira, pois você sequer acordou direito. Para não ser mal educado, você murmura, ainda sonolento: “bom dia”, pensando consigo mesmo: “O que há de bom? Queria dormir mais um pouquinho…”.

 

Em suma, Prestativo é um motorista simpático, sorridente, de bem com a vida, que causa inveja e ódio ao Apressadinho.

Os cobradores

Passando ao perfil dos cobradores, o mais comum (depois que inventaram o cartão do Tri) é o Quietão. O cara fica ali enquanto as pessoas passam o cartãozinho automático. Só “gerenciando” a roleta. Profissão bacana essa! (Será que tem vaga?).

 

Quietão não incomoda ninguém. Faz o seu serviço discretamente, sem ser muito percebido. Só fala com quem lhe dirigem a palavra. Dá as informações sobre itinerário quando lhe pedem. Se não, fica lá Quietão.

 

O cobrador desse tipo é bem localizado na cidade e conhece os bairros por onde circula a linha. O Quietão é tão na dele que sequer reclama ou te olha de cara feia se você pagar a passagem com uma nota cinquenta.

 

Cumpre com dignidade sua função. Trabalhinho honesto o seu, sem sobressaltos.

O mais irritante, entre cobradores de ônibus, eu digo com absoluta certeza, é o Passinho a Frente. Ele repete incessantemente, mais de uma vez a cada parada, de forma mecânica e repugnante, a mesma sentença: “Passinho a frente, por favor”, “Passinho a frente, por favor”.

 

Às vezes, para quebrar a monotonia, intercala a frase com “Subindo e passando, por favor”, “Subindo e passando, por favor”.

 

Passinho a frente é um tipo sério, que não sorri, não conversa com os passageiros sobre qualquer outra coisa a não ser para lhes pedir que passem a roleta ou deem mais um “passinho a frente”.

 

Trata-se de uma pessoa obsessiva. Talvez, antes de se tornar cobrador, Passinho a Frente tenha sido radialista ou vendedor ambulante no Centro (daqueles que ficam gritando na Rua da Praia). Sua voz tem uma boa entonação, talvez pudesse concorrer no show de Calouros se souber cantar.

No fundo, todo Passinho a Frente gostaria de um dia se tornar um Quietão. Mas sua ansiedade por organizar a fila, por falar o tempo todo tempo a mesma frase e por ver as pessoas passarem a roleta é tanta que ele jamais atingirá esse sonho.
Os passageiros

Chegamos, finalmente, ao perfil dos passageiros. Eis o grupo onde há a maior variedade de tipos. O estilo Apressadinho, já apresentado entre os motoristas, repete-se entre os passageiros, com algumas peculiaridades.

 

O passageiro Apressadinho já na parada joga-se na frente de todos para entrar primeiro no ônibus. Após, Apressadinho segue rápido para passar a roleta e chegar ao fundo do coletivo o quanto antes. Fica o mais próximo da porta possível para ser o primeiro a descer na sua parada.

 

Custe o que custar, sempre cumpre suas metas de ser o primeiro em todos os seus percursos na cidade.

 

Os demais passageiros não têm sequer agilidade para qualquer reação. Quando percebem, lá na frente está Apressadinho, fazendo jus ao título.
O próximo passageiro é o tipo Educado. Espécie em extinção (mas não perca as esperanças!), encontrado de vez em quando. Por representar um tipo rara, precisa ser valorizado.

 

A vantagem é que, por ser tão raro, é rapidamente identificável em qualquer trajeto de ônibus. Não há como confundi-lo.

 

Já na porta, Educado espera todos entrarem, sobe calmamente depois, cumprimenta o motorista e o cobrador. Ainda por cima, dá assunto para as velhinhas que logo o interpelam quando notam sua presença.

 

Sempre disposto a ceder o lugar a idosos, mulheres e crianças. Ao esbarrar em alguém (pasmem!), ele pede desculpas. Diz também “com licença” ao sentar do lado de alguém e na hora de levantar e passar por entre as pessoas.

Educado é exatamente o contraste do De Mal Com a Vida. Esse, por sua vez, entra no ônibus brabo, sempre carrancudo.

 

Não suporta piadinhas, pessoas conversando alto ou ouvindo música. Não gosta de crianças, não gosta de gente alegre, não gosta de gente triste. Não gosta de ninguém. Nada o satisfaz.

 

De Mal Com a Vida não deveria sair da cama jamais. Sua simples presença perturba todo o ambiente.

Em sua fase mais avançada, De Mal com a Vida torna-se um Espertinho. Esse último é o símbolo da malandragem e do “jeitinho brasileiro”.

 

Espertinho adota estratégias diversas na tentativa de driblar o cobrador para não pagar a passagem ou pagar menos que o valor devido.

 

Entra no ônibus e simula que esqueceu o dinheiro ou o cartão do Tri. Às vezes inventa uma história de que foi assaltado só para ficar na frente e andar de graça.

 

Mas o que ele quer mesmo é tirar vantagem do cobrador na hora de receber o troco. Pode lhe dar dinheiro a menos, lhe pagar com uma nota falsa, dizer que pagou quando não pagou – são inúmeras as táticas adotadas.

 

Espertinho está constantemente em busca de uma brecha onde possa agir. Suas técnicas de esperteza são constantemente aprimoradas.
O tipo mais pacato dentro de um coletivo público hoje em dia, não há como negar, é o Na Dele. Esse, sim, não incomoda ninguém, não ofere riscos ou ameaças (ao contrário do Espertinho que está sempre na espreita para tirar proveito de alguém).

 

Na Dele entra no ônibus em silêncio, sai em silêncio. Senta se tiver lugar. Se não tiver, fica de pé sem pestanejar.

 

Na Dele é o modelo ideal, o sonho dos motoristas e cobradores. Para satisfação dos que estão ao seu redor, é não dá conversa para as Típicas Senhoras.

 

Ah, as Típicas Senhoras são velhinhas que pegam ônibus o tempo todo para ir “passear” no Centro. Vão ao Mercado Público comprar condimentos, temperos e chás medicinais (para todas as suas doenças). Gostam de olhar lojas de antiguidades (com produtos, muitas vezes, mais velhos que elas próprias).

 

As Típicas Senhoras não querem passar a roleta. Ficam disputando os únicos três lugares existentes na frente.

 

Têm de cair enquanto o ônibus arranca. Preferem ficar de pé se acotovelando na frente, mesmo que atrás tenha lugar livre.

 

Estão sempre alugando os ouvidos do cobrador e do motorista, que geralmente não estão nem um pouco interessados em escutar as histórias a respeito de todas as gerações de suas famílias.

Diante de tantos tipos humanos presentes nos ônibus da capital gaúcha, creio que talvez um possível teste para conhecer a personalidade de uma pessoa e medir seu nível de estresse seja avaliar seu comportamento no transporte público.

 

Diante de tudo isso, fica uma dúvida: o que será que se passa na mente do passageiro Na Dele e do cobrador Quietão? Não sei, mas vou me cuidar ao entrar no ônibus, pois sempre podemos estar sendo observados…