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Propaganda com audidoescrição

Me emociono ao assistir a propaganda de Natal da Companhia Zaffari com audiodescrição (Clique aqui para ver). É simplesmente de uma sensibilidade incrível.

Fico com os olhos cheios de lágrimas cada vez que a assisto. Foi a partir da audiodescrição que pude compreendê-la em sua plenitude, pois possui muitas informações visuais e detalhes que passam com rapidez.

Esse recurso é fundamental tanto para pessoas cegas quanto com baixa visão.

Até o momento, ela encontra-se disponível com audiodescrição somente na Internet.

Creio que o próximo passo seja disponibilizá-la na televisão comum, para ser exibida com audiodescrição quando o espectador apertar a tecla SAP – como já acontece com alguns (poucos) programas.

As pessoas com algum tipo de deficiência constituem-se de cerca de um quarto da população brasileira. Precisam ser pensadas e consideradas enquanto público consumidor e, portanto, alvo de estratégias de marketing, comunicação e campanhas publicitárias.

Agências de publicidade e os próprios anunciantes devem exigir audiodescrição em todos os comerciais.

Propagandas que não trouxerem audiodescrição serão, em um futuro próximo, rechaçadas automaticamente pelos consumidores – pessoas com e sem deficiência, que passarão a exigir acessibilidade em qualquer anúncio.

Não estou falando de um favor. Estou falando de um dever e um direito de todos.

Propaganda com audiodescrição

Me emociono ao assistir a propaganda de Natal da Companhia Zaffari com audiodescrição (Clique aqui para ver). É simplesmente de uma sensibilidade incrível.

Fico com os olhos cheios de lágrimas cada vez que a assisto. Foi a partir da audiodescrição que pude compreendê-la em sua plenitude, pois possui muitas informações visuais e detalhes que passam com rapidez.

Esse recurso é fundamental tanto para pessoas cegas quanto com baixa visão.

Até o momento, ela encontra-se disponível com audiodescrição somente na Internet.

Creio que o próximo passo seja disponibilizá-la na televisão comum, para ser exibida com audiodescrição quando o espectador apertar a tecla SAP – como já acontece com alguns (poucos) programas.

As pessoas com algum tipo de deficiência constituem-se de cerca de um quarto da população brasileira. Precisam ser pensadas e consideradas enquanto público consumidor e, portanto, alvo de estratégias de marketing, comunicação e campanhas publicitárias.

Agências de publicidade e os próprios anunciantes devem exigir audiodescrição em todos os comerciais.

Propagandas que não trouxerem audiodescrição serão, em um futuro próximo, rechaçadas automaticamente pelos consumidores – pessoas com e sem deficiência, que passarão a exigir acessibilidade em qualquer anúncio.

Não estou falando de um favor. Estou falando de um dever e um direito de todos.

Profissionalismo sim, caridade não

Ao comentar com uma pessoa conhecida sobre o curso de audiodescrição em ambientes culturais que estou fazendo na UFRGS, fui interpelada com o questionamento se a atividade tinha algum convênio ou relação com uma instituição social.

 

Respondi que não e perguntei: “Por quê? Deveria ter algum convênio?”. E a pessoa respondeu: “É que geralmente essas coisas têm um cunho social e são ligadas a alguma ação filantrópica”.

 

Melhor nem perguntar o que a pessoa quis dizer com “essas coisas” para não me incomodar, pensei. Mas essa situação não saiu da minha cabeça desde então.

 

Fiquei pensando o quanto qualquer ação em prol da acessibilidade ainda está ligada no imaginário das pessoas a uma obra social e até a caridade.

 

Acessibilidade ainda não é encarada como uma obrigação, um dever e uma responsabilidade de todos.

 

O que mais me chama atenção no curso, no qual tenho o privilégio de ser aluna da Letícia Schwartz, é o profissionalismo e a seriedade com que a audiodescrição vem sendo apresentada. A ministrante, em nenhum momento, se coloca em uma postura de benevolência, comiseração ou compaixão com os deficientes visuais.

 

Aliás, muito pelo contrário. O tema é tratado com o respeito e a seriedade merecidos.

 

Nesse curso, o deficiente visual não é entendido como alguém sem capacidade intelectual ou posicionamento crítico – como infelizmente ainda acontece nos dias de hoje.

 

O deficiente visual é ouvido e consultado durante todo o processo de produção de qualquer material com audiodescrição. Somos, acima de tudo, valorizados enquanto consumidores e espectadores.

 

Toda a sensibilidade, talento e capacidade criativa dos alunos são empregados no sentido de produzir audiodescrição de qualidade. A busca pela excelência e pelo aprimoramento são constantes.

 

E como consumidores, queremos e merecemos material de primeira linha. Não vamos nos contentar com qualquer coisa que leve o rótulo de “inclusiva” sem atentar à sua qualidade.

 

Não queremos pessoas prestando uma “boa ação”. Queremos profissionais competentes que saibam fazer audiodescrição empregando toda a técnica e o talento a fim de igualar o acesso a cultura por pessoas com e sem deficiência visual.

 

Espero que cada vez mais as pessoas passem a entender e a compreender o sentido e a importância da acessibilidade e da audiodescrição da forma como a Letícia entende.

 

Pena e caridade, não. Profissionalismo e busca pela excelência constante, sim.

A audiodescrição precisa dominar o mundo!

Existe algo de extraordinário acontecendo. A audiodescrição (AD) está ganhando força e invadindo novos espaços!

Ainda estou incrédula diante do grupo Tholl que assisti essa semana no Salão de Atos da UFRGS com audiodescrição.

Um espetáculo circense (http://www.grupotholl.com) – com acrobacias, dança, jogo de luzes, malabarismos, números com fogo – foi acessível também a pessoas cegas e com baixa visão.

A experiência foi, para mim, uma quebra de paradigmas. Eu já havia deixado de assistir ao Tholl anos atrás quando minha prima Andjara, de Minas Gerais, veio visitar Porto Alegre.

Na época, toda minha família foi ao evento no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Embora tivesse vontade de ir, não fui por saber que se tratava de algo essencialmente visual. O ingresso era caro e eu não iria pagar caro por algo que eu sabia que não iria “aproveitar”.

Sabia que havia muitas informações e elementos visuais para serem apreciados, o que iria dificultar minha compreensão.

Hoje, cerca de quatro anos depois, tenho o prazer de contar que finalmente assisti ao espetáculo, contando com um excelente trabalho de AD. Algo realmente profissional feito pela Letícia Schwartz, da empresa Mil Palavras.

Para o bom trabalho de AD a sensibilidade é essencial. E isso a Letícia tem de sobra. É por isso que o trabalho dela é tão impressionante. Ela conseguiu, ao vivo (assistindo ao espetáculo de dentro da cabine onde se faz a tradução simultânea – mas que prefiro chamar de cabine da AD), passar emoção e vivacidade às cenas que descrevia.

Eu e algumas outras pessoas com deficiência visual pudemos entrar mais cedo no Salão de Atos da UFRGS, conhecer os atores, as fantasias e acessórios usados por eles bem de pertinho. Pudemos tocar as fantasias, enfeites, sapatos, botas, chapéus, perucas usados pelos atores, além de conversar com eles. Me apaixonei pela menininha de sete anos, uma das estrelas do evento.

Pudemos nos sentir situados no ambiente, antes mesmo do espetáculo começar.

Depois, sentados na terceira fila, com fones de ouvido (o mesmo aparelho usado para tradução simultânea de palestras em outro idioma) escutamos à AD feita pela Letícia.

Em que momentos a AD foi importante no Tholl?

Através da AD percebi exatamente quais eram os pontos em que eu teria me perdido. Muitas vezes eu via os personagens no palco e os movimentos que faziam, mas não conseguia ver suas feições e expressões de rosto.

A AD é perfeita também para pessoas com baixa visão, pois preenche justamente as lacunas na minha percepção.

Ao colocar, por exemplo, que a menina faz “expressão de triste” pude entender o sentido da cena. Se eu não soubesse a feição de seu rosto, não teria entendido a cena em sua plenitude.

Quando o personagem principal chama duas pessoas da plateia ao palco e se comunica com elas através de mímicas e gestos a AD também foi essencial.

O ator brinca com o cabelo cheio de trancinhas de um dos homens que subiu ao palco, puxa uma das trancinhas e finge que coloca no próprio cabelo. Nesse momento, o público todo riu. Ao mesmo tempo, a AD narrou o que estava acotnecendo e eu pude rir da cena. Seria algo engraçado que passaria batido, sem que eu pudesse me divertir.

É mágica essa sensação de rir, ao mesmo tempo, sem precisar perguntar sussurrando para pessoa do lado por que as pessoas riram.

Cenas muito escuras igualmente eram complicadas. Houve vários momentos em que a iluminação diminuía e os atores dançavam com tochas de fogo. A AD me “salvou” em vários momentos.

São detalhes que não são somente detalhes. Detalhes que, somados, são a essência da peça. O que seria do espetáculo sem as piadas, as coisas engraçadas, as acrobacias, as danças, a beleza dos atores, das cores, das luzes?

Como poderia uma pessoa com deficiência visual apreciar esse espetáculo? Por que a pessoa com deficiência tem que ficar em casa enquanto todos saem para assistir a um evento tão fantástico?

Um espetáculo essencialmente visual, não pensado para pessoas cegas ou com baixa visão. Contudo, nesse momento, tornou-se acessível a mais pessoas.

O Tholl se atingiu um público jamais pensado como seu público-alvo. Pessoas que, muitas vezes, não são lembradas, mas que querem consumir cultura, sair de casa, rir, se divertir, aproveitar a vida.

Hoje penso que fico triste de não ter compartilhado daquele momento com minha família no Theatro São Pedro. Porém, fico feliz em perceber que essa realidade está mudando.

Na saída do evento, os atores vieram conversar conosco. Eu fiz questão de ressaltar a importância da AD e sugeri que o espetáculo a incorpore em todas as suas apresentações.

Num passo adiante, almejo que esse recurso seja algo comum e rotineiro em todos os lugares. Que eu e outras pessoas com deficiência visual não sejamos “exceções” nesses espaços.

Que a nossa presença chame menos atenção do restante do público (por estarmos ali com fones de ouvido e isso gerar curiosidade nos demais). Que todos saibam do que se trata a AD, conheçam, respeitem e incentivem sua ampliação.

É por isso que brinco (mas estou falando sério), que a audiodescrição precisa dominar o mundo!