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Filme brasileiro no 40º Festival de Cinema de Gramado terá audiodescrição

Colegas é o único filme entre todas as categorias que será exibido com recurso de acessibilidade para pessoas com deficiência visual

O longa-metragem Colegas – O Filme, com roteiro e direção de Marcelo Galvão, produzido pela Gatacine, será exibido com audiodescrição ao vivo no 40º Festival de Cinema de Gramado. A sessão ocorre no dia 13 de agosto (segunda-feira) a partir das 21h30, no Palácio dos Festivais. Entre os 48 filmes inscritos no evento (nas categorias longas-metragens, curtas brasileiros e curtas gaúchos), Colegas é o único com audiodescrição. O recurso garante o acesso às informações visuais da obra a pessoas cegas e com baixa visão, além de beneficiar pessoas com síndrome de Down, problemas neurológicos e dificuldade de memorização.

O público com deficiência visual e os demais interessados na audiodescrição devem solicitar os fones de ouvido na entrada da sessão, mediante a apresentação de documento de identidade. A audiodescrição, produzida pela Tagarellas Produções, será feita ao vivo em uma cabine de tradução simultânea. De lá, a audiodescritora Marcia Caspary fará a narração de cenários, imagens, figurinos e ações que não possam ser percebidas pela ausência da visão. Somente as pessoas que estiverem usando os fones terão acesso a esse conteúdo.

Essa é a segunda vez durante os 40 anos do Festival em que um filme conta com audiodescrição. A primeira foi em 2007, com o longa-metragem Saneamento Básico, audiodescrito por voluntários da operadora de Telefonia Vivo, com roteiro elaborado por Lívia Motta. A iniciativa revela a preocupação dos produtores de Colegas com o acesso de todos a bens culturais. O roteiro da audiodescrição é de Kemi Oshiro, Marcia Caspary e Mimi Aragón, com supervisão de Lívia Motta. A consultoria é de Felipe Mianes e Mariana Baierle.

Colegas traz de forma poética e divertida a história de três personagens com síndrome de Down. Inspirados pelo filme Thelma & Louise, eles resolvem fugir do instituto onde vivem em busca de seus sonhos: Stallone deseja ver o mar, Aninha quer casar e Márcio precisa voar. Os protagonistas são Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola. No elenco, entre outros, Lima Duarte, Marco Luque, Otavio Mesquita e Juliana Didone, além de aproximadamente 60 jovens com síndrome de Down.

SERVIÇO
. Colegas – O Filme, longa-metragem de Marcelo Galvão com audiodescrição ao vivo.
. 13 de agosto (segunda-feira), às 21h30, com entrada a partir das 21h.
. Palácio dos Festivais (Avenida Borges de Medeiros, 2697 – Gramado/RS).
. Trailer com audiodescrição:

. Ingressos: Ingresso Rápido
. Informações sobre o 40º Festival de Cinema de Gramado: Festival de Gramado

Assessora de Imprensa: Mariana Baierle (51) 8433 7368/ Tagarelas Produções (51) 8118 9814

Descrição do cartaz
O cartaz do filme é vertical e foi criado a partir de uma fotografia colorida. Uma moldura branca cerca a imagem. O texto, em letras brancas, está centralizado e aplicado sobre a metade superior da foto. É dia. O céu pálido, parcialmente encoberto por uma fina camada de nuvens, preenche quase toda a imagem. Abaixo, pequeninas, ocupando mais ou menos 1/6 da foto, três pessoas de costas e em pé na beira da praia, observando o mar de ondas pequenas e irregulares. São dois homens e uma mulher. Cada um tem um braço erguido, com o cotovelo dobrado e a mão na altura da testa, como se procurasse algo na linha do horizonte. Todos estão descalços. À esquerda, um dos homens veste um conjunto bege de calça bem folgada e colete sem mangas. Seus cabelos são curtos e castanhos. Ao lado dele, o outro homem usa malha azul bebê, parecida com um grande tip top de mangas e calças compridas, e veste, por cima, uma sunga amarela. Tem os cabelos curtos e pretos. Um pouco mais afastada dos dois, a mulher usa um vestido longo, com estampa em tons de lilás e laranja, sobre blusa lilás de mangas longas. Seus cabelos são compridos e castanho-claros. Em um rodapé preto, logo abaixo da foto, estão as logomarcas dos realizadores. Mais abaixo e à direita, sobre a moldura branca, os endereços de dois sites.

Gatacine, Polo Cinematográfico de Paulínia, Sabesp, Neoenergia e Petrobras apresentam:

Melhor roteiro – 1º Festival de Paulínia – 2008

Um filme de Marcelo Galvão. Estrelando: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Lima Duarte, Leonardo Miggiorin, Deto Montenegro, Rui Unas, Juliana Didone, Marco Luque, Maytê Piragibe, Nill Marcondes, Otávio Mesquita, Theo Werneck, Christiano Cochrane, Daniele Valente, Daniela Galli, Oswaldo Lot, Anna Ludmila, Germano Pereira, Theodoro Cochrane, J. Peron, Amélia Bittencourt, Giulia Merigo, Carlos Miola, Thogun.
Direção de arte: Zenor Ribas. Figurino: Kiki Orona. Direção de fotografia: Rodrigo Tavares. Montagem: Marcelo Galvão. Produção: Gatacine. Produtor: Marcelo Galvão. Produtor associado: Otávio Mesquita. Produção executiva: Marçal Souza. Distribuição: Europa Filmes. Roteiro e direção: Marcelo Galvão.

Colegas.
Uma divertida aventura em busca de três sonhos.

Apresentadores: Lei do Audiovisual Ancine – Agência Nacional do Cinema, Lei de Incentivo à Cultura Ancine – Agência Nacional do Cinema, Governo do Estado de São Paulo – Secretaria da Cultura, ProAc – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, Governo Federal Brasil – País Rico é País Sem Pobreza, BR Petrobras, Sabesp, Neoenergia, Polo Cinematográfico de Paulínia, Gatacine Produções. Apoio: Net – O Mundo é dos Nets, Senac São Paulo, CVC, Locaweb, Libbs, ArtCenter Tecnologia em Impressão. Patrocínio: AkzoNobel – Tomorrow’s Answers Today, KSB. Distribuição: Europa Filmes.

www.gatacine.com.brwww.facebook.com/colegasofilme

A audiodescrição precisa dominar o mundo!

Existe algo de extraordinário acontecendo. A audiodescrição (AD) está ganhando força e invadindo novos espaços!

Ainda estou incrédula diante do grupo Tholl que assisti essa semana no Salão de Atos da UFRGS com audiodescrição.

Um espetáculo circense (http://www.grupotholl.com) – com acrobacias, dança, jogo de luzes, malabarismos, números com fogo – foi acessível também a pessoas cegas e com baixa visão.

A experiência foi, para mim, uma quebra de paradigmas. Eu já havia deixado de assistir ao Tholl anos atrás quando minha prima Andjara, de Minas Gerais, veio visitar Porto Alegre.

Na época, toda minha família foi ao evento no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Embora tivesse vontade de ir, não fui por saber que se tratava de algo essencialmente visual. O ingresso era caro e eu não iria pagar caro por algo que eu sabia que não iria “aproveitar”.

Sabia que havia muitas informações e elementos visuais para serem apreciados, o que iria dificultar minha compreensão.

Hoje, cerca de quatro anos depois, tenho o prazer de contar que finalmente assisti ao espetáculo, contando com um excelente trabalho de AD. Algo realmente profissional feito pela Letícia Schwartz, da empresa Mil Palavras.

Para o bom trabalho de AD a sensibilidade é essencial. E isso a Letícia tem de sobra. É por isso que o trabalho dela é tão impressionante. Ela conseguiu, ao vivo (assistindo ao espetáculo de dentro da cabine onde se faz a tradução simultânea – mas que prefiro chamar de cabine da AD), passar emoção e vivacidade às cenas que descrevia.

Eu e algumas outras pessoas com deficiência visual pudemos entrar mais cedo no Salão de Atos da UFRGS, conhecer os atores, as fantasias e acessórios usados por eles bem de pertinho. Pudemos tocar as fantasias, enfeites, sapatos, botas, chapéus, perucas usados pelos atores, além de conversar com eles. Me apaixonei pela menininha de sete anos, uma das estrelas do evento.

Pudemos nos sentir situados no ambiente, antes mesmo do espetáculo começar.

Depois, sentados na terceira fila, com fones de ouvido (o mesmo aparelho usado para tradução simultânea de palestras em outro idioma) escutamos à AD feita pela Letícia.

Em que momentos a AD foi importante no Tholl?

Através da AD percebi exatamente quais eram os pontos em que eu teria me perdido. Muitas vezes eu via os personagens no palco e os movimentos que faziam, mas não conseguia ver suas feições e expressões de rosto.

A AD é perfeita também para pessoas com baixa visão, pois preenche justamente as lacunas na minha percepção.

Ao colocar, por exemplo, que a menina faz “expressão de triste” pude entender o sentido da cena. Se eu não soubesse a feição de seu rosto, não teria entendido a cena em sua plenitude.

Quando o personagem principal chama duas pessoas da plateia ao palco e se comunica com elas através de mímicas e gestos a AD também foi essencial.

O ator brinca com o cabelo cheio de trancinhas de um dos homens que subiu ao palco, puxa uma das trancinhas e finge que coloca no próprio cabelo. Nesse momento, o público todo riu. Ao mesmo tempo, a AD narrou o que estava acotnecendo e eu pude rir da cena. Seria algo engraçado que passaria batido, sem que eu pudesse me divertir.

É mágica essa sensação de rir, ao mesmo tempo, sem precisar perguntar sussurrando para pessoa do lado por que as pessoas riram.

Cenas muito escuras igualmente eram complicadas. Houve vários momentos em que a iluminação diminuía e os atores dançavam com tochas de fogo. A AD me “salvou” em vários momentos.

São detalhes que não são somente detalhes. Detalhes que, somados, são a essência da peça. O que seria do espetáculo sem as piadas, as coisas engraçadas, as acrobacias, as danças, a beleza dos atores, das cores, das luzes?

Como poderia uma pessoa com deficiência visual apreciar esse espetáculo? Por que a pessoa com deficiência tem que ficar em casa enquanto todos saem para assistir a um evento tão fantástico?

Um espetáculo essencialmente visual, não pensado para pessoas cegas ou com baixa visão. Contudo, nesse momento, tornou-se acessível a mais pessoas.

O Tholl se atingiu um público jamais pensado como seu público-alvo. Pessoas que, muitas vezes, não são lembradas, mas que querem consumir cultura, sair de casa, rir, se divertir, aproveitar a vida.

Hoje penso que fico triste de não ter compartilhado daquele momento com minha família no Theatro São Pedro. Porém, fico feliz em perceber que essa realidade está mudando.

Na saída do evento, os atores vieram conversar conosco. Eu fiz questão de ressaltar a importância da AD e sugeri que o espetáculo a incorpore em todas as suas apresentações.

Num passo adiante, almejo que esse recurso seja algo comum e rotineiro em todos os lugares. Que eu e outras pessoas com deficiência visual não sejamos “exceções” nesses espaços.

Que a nossa presença chame menos atenção do restante do público (por estarmos ali com fones de ouvido e isso gerar curiosidade nos demais). Que todos saibam do que se trata a AD, conheçam, respeitem e incentivem sua ampliação.

É por isso que brinco (mas estou falando sério), que a audiodescrição precisa dominar o mundo!