O Primeiro Trabalhinho

Eu sempre tive uma fantasia, uma grande expectativa, com o dia em que minha filha viria da escola com seu primeiro trabalhinho. Confesso que imaginava ela trazendo uma folha de papel pintada com algum desenho ou colorida de forma abstrata. Talvez viesse em uma pastinha ou envelope para ser entregue aos pais, talvez estivesse dentro da mochila que vai e volta todos os dias… Não sabia como seria, que cara ou apresentação teria, mas sabia que em um momento ou outro aquele dia iria chegar para encher meu coração de alegria.

Como tantas coisas da maternidade acontecem de maneira diferente do que imaginamos, o primeiro trabalhinho da Natália chegou em um dia que eu não cogitava, de uma forma surpreendente, singela, linda e emocionante ao mesmo tempo.
O primeiro trabalhinho não veio não em uma folha de papel. Foi no dia 22 de março de 2022 que ela trouxe para casa um rolinho de papel higiênico pintado em tons de azul. No rolinho havia escrito “22 de março, dia mundial da água”.

Naquela semana eu acompanhava pela página na internet da escola que ocorriam diversas atividades lúdicas e dinâmicas de conscientização sobre a data. A professora Marselle contou que os alunos do berçário pintaram com os próprios dedos de tinta azul e foram colorindo os rolinhos de papel higiênico com as mãos. Na roupinha que ela usava aquele dia, eu não enxerguei, mas soube depois que havia algumas manchinhas azuis.

Ao chegarmos em casa perguntei para Natália como ela havia feito o trabalho e ela ficou mostrando com os dedinhos os movimentos como se estivesse passando os dedos no rolinho. Fiz muita festa, dei parabéns pelo lindo trabalho e o coloquei uma estante da nossa casa onde colocamos porta-retratos. Ficou lá exposto como sua primeira obra artística.

Seguidamente quando passávamos em frente ao móvel eu apontava e rememorava aquele feito. Ela apontava também e fazia festa. Eu repetia o quanto estava lindo e dava até beijos no rolinho de papel higiênico azul.
Nunca mais olhei para um rolo de papel higiênico sem dar importância. Passei a guardar rolos vazios para colorir com ela. Natália adorava. Seguidamente quando um rolo terminava eu entregava para ela. Nati, com um ano e nove meses, observava: “Esse aqui não está pintado”. E eu respondia que iríamos pintar juntas. Fizemos muita festa e bagunça com rolos de papel higiênico vazios.

Descobri também a alegria que pode estar contida em uma garrafinha pet vazia – que pode ser colorida e recheada com feijões para fazer barulho -, lata de leite ou caixas de papelão. Estes objetos transformam-se facilmente em lindos instrumentos musicais e obras de arte para os pequenos. Às vezes investimos em brinquedos caros e as crianças gostam mesmo é da embalagem, do laçinho ou da sacola que veio o presente. As coisas belas da vida não precisam ser caras.

Ao longo do ano Natália trouxe para casa diversos outros trabalhinhos e nossa estante com suas obras esta cada vez mais cheia. Por trás de cada um deles, uma história, um aprendizado, uma lembrança boa, uma música, uma comidinha nova que foi provada, como o mingau dos ursinhos ou o dia da fruta nas quintas-feiras.

Lembro do período de adaptação, em que ela chorava para ficar na escola, dizia que “Tiago liga” para mamãe ou papai buscarem. Era o rapaz da portaria, que rapidamente ela passou a reconhecer e depois de um tempo já não falava mais sobre isso, pois passou a curtir a companhia dos amiguinhos e todos os estímulos e aprendizados. Hoje Felipe da manhã e Felipe da tarde fazem este trabalho de recepção das crianças. Ela chega toda feliz, confiante e já entra na escola com alegria, pronta para novas descobertas.

Agora que o ano está quase chegando ao fim, eu gostaria de deixar aqui um agradecimento todo especial para as professoras do Berçario II: Marselle, Amanda e Fernanda. Profes, obrigada por um ano inteiro de aprendizados, brincadeiras e crescimento. Com certeza não foi apenas a Natália que aprendeu muito com vocês, mas a mamãe aqui também. Vou sentir falta da gentileza, dedicação e encantamento dessas professoras incansáveis que já me deixam com saudades desde agora.

Sei que outras professoras queridas irão chegar e que isso é importante para o crescimento dos pequenos. Mas quero registrar minha admiração e o quanto são especiais. Foram as primeiras professoras da vida da nossa filha. Penso que esta é uma das profissões mais lindas e mais importantes do mundo, infelizmente às vezes ainda tão desvalorizada, mas de imensa relevância. Parabéns por tudo. Gratidão e respeito pelo lindo trabalho desenvolvido.

Natália e amiguinhos do berçário terão muitas alegrias no Maternal I, levando consigo todo o aprendizado deste ano. Histórias de vida, laços de afeto, amizade e emoções.

Parabéns filha amada. Que venham novas aventuras, lições de vida, músicas, trabalhinhos e a primeira apresentação de final de ano… Muita emoção!