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Um sonho realizado: A AUDIODESCRIÇÃO VAI AO SHOPPING

Cerca de dois anos atrás, quando comecei a me aventurar pelo universo da audiodescrição, pensar em uma sessão acessível no cinema de um shopping em Porto Alegre ainda era um sonho muito distante e inatingível. Hoje não é mais. Esse sonho torna-se realidade mais rápido do que eu imaginava. Na manhã de 2 de março de 2013 o filme Colegas, vencedor do Festival de Cinema de Gramado de 2012, lotou uma sala de exibição do Espaço Itaú no Shopping Bourbon Country.

Cerca de 200 pessoas prestigiaram a sessão, que teve audiodescrição ao vivo realizada pela Tagarellas Audiodescrição, a qual eu tenho a felicidade de fazer parte. A equipe – formada por Marcia Caspary, Mimi Aragon, Kemi Oshiro, Felipe Mianes e eu, com supervisão de Livia Motta, além do apoio de Patrícia Amaral e Ariane Bernardes – está envolvida com a elaboração do roteiro de audiodescrição desde o início do ano passado. Muito trabalho e dedicação. Mas mais do que isso: o sonho de ampliar a acessibilidade em todos os lugares, em cada canto deste país e do mundo.

Foi maravilhoso estar presente em Gramado na sessão acessível que rendeu a Colegas o Kikito de Melhor Filme. E agora, quando a obra é lançada nacionalmente no circuito comercial, a audiodescrição mais uma vez se faz presente e fundamental, permitindo que espectadores cegos, com baixa visão, com Síndrome de Down e e outras deficiências possam compartilhar da envolvente história de Aninha, Stalone e Marcio – três jovens com Síndrome de Down, que fojem do instituto onde viveam e vão em busca de seus sonhos.

Meus olhos se encheram de lágriamas quando Marcia Caspary, da cabine de audiodescrição, começou a descrever o ambiente e a chegada do diretor Marcelo Galvão, dos atores Ariel e Rita Pokk e do produtor-executivo Marçal Souza na sala de projeções. Um sentimento inexplicável tomou conta de mim. Uma emoção incrível. A sessão lotada. O maior público de pessoas com deficiência visual em um evento com audiodescrição até hoje em Porto Alegre.

A sessão foi uma prova de que os espaços culturais e comerciais começam a reconhecer a importância do público com deficiência enquanto consumidor. No Brasil são 45 milhões de pessoas com deficiência. Só no Rio Grande do Sul, são mais de 2,5 milhões de pessoas. Isso significa cerca de 24% da população brasileira. Uma grande fatia da população, até então ignorada e desconsiderada em eventos e atividades culturais.

A sessão de hoje me entusiasma e me estimula, pois VEJO – através da AD e fora dela – que a acessibilidade não está mais renegada a espaços alternativos, reclusos, distantes e específicos para pessoas com deficiência. A AD passa a estar inserida em ambiente central, em um espaço de difusão do comércio, do lazer e do entretenimento, que é o espaço de um shopping.

Não que os demais espaços não sejam importantes, mas o fato de estarmos em um shopping como o Bourbon é repleto de significado e representatividade. Retiramos as pessoas com deficiência de espaços marginalizados da sociedade e fazemos com que elas sejam percebidas por todos.

O público foi ao cinema, depois saiu e se espalhou por todas as dependências do shopping. As pessoas foram ao restaurante, à cafeteria, à livraria, ao supermercado, às lojas de sapatos, de roupas, de utensílios. As lojas e funcionários do entorno passaram a se questionar como atender e auxiliar aquela multidão de pessoas com deficiência que invadiu o shopping. Preocupação justa e salutar. Falta experiência aos atendentes e prestadores de serviços, mas isso se adquire com a prática e com o convívio. Estamos vencendo a principal das barreiras, que é a do distanciamento.

Tenho orgulho de fazer parte dessa história. Tenho orgulho de estar presente nesse processo de mudanças, que ainda tem um longo caminho pela frente, mas já apresenta importantes conquistas. Obrigada a todos que nos apoiaram e que vão continuar apoiando. Espero em breve voltar ao Espaço Itaú no Bourbon Shopping – e em outros espaços que nos proporcionarem essa experiência – para assistir a mais filmes com AUDIODESCRIÇÃO.

Um grande abraço a todos, com carinho e felicidade, Mariana Baierle

Cliente Oculto – Restaurante BALANCEADO no shopping Iguatemi

A partir de agora de tempos em tempos vou publicar postagens avaliando a acessibilidade em locais que frequento, tanto sob o ponto de vista do espaço físico quanto do comportamento e do preparo dos atendentes. Vou postar nessa coluna “Cliente Oculto” minhas experiências e impressões sobre o atendimento em lojas, restaurantes, bares, teatros ou qualquer outro espaço.

Espero, com isso, poder elogiar os locais que prestem um bom serviço e também cobrar melhorias dos que deixem a desejar. Quero muito contar com a participação dos leitores para comentários e sugestões!!! E se você tiver algum relato nesse sentido, pode escrever pra mim. Terei o maior prazer em publicar!

Vamos ao comentário de hoje…

Pouca gente imagina, mas sempre evitei os restaurantes estilo buffet ou esses em que as pessoas te servem e tu vais dizendo o quer. Esses locais são complicados porque geralmente tu tens que te servir ou ir pedindo as coisas com pressa (pois tem pessoas atrás na fila). Além disso, tu tens que identificar sozinho quais são as comidas (na maioria das vezes sem nenhuma plaquinha de identificação e em um ambiente pouco iluminado), encontrar o prato, o guardanapo, os talheres, pesar na balança e depois te dirigir para uma mesa equilibrando tudo e procurando lugar pra sentar. Uma tarefa bem complexa. Uma aventura para quem tem baixa visão ou qualquer outro tipo de dificuldade.

As praças de alimentação de shoppings, cada vez mais lotadas, geralmente funcionam assim: tu te serves no buffet e depois torce pra encontrar uma mesa no meio da multidão. É por isso que sempre dei preferência por locais em que posso fazer o pedido e aguardar tranquilamente na na mesa.

Mas enfim, hoje era domingo e eu queria algo rápido e simples para comer. Fui com minha irmã ao shopping Iguatemi aqui em Porto Alegre. Almocei, quase às três da tarde, no Balanceado – um local novo que abriu nos shoppings Iguatemi e Moinhos de Vento.

O restaurante é especializado em saladas e comidas saudáveis. Tem uma modalidade bem interessante de prato de salada personalizada. É como se fosse um Subway, em que o atendente vai servindo as coisas que tu pedes. Mas no Balanceado não tem sanduiche, e sim uma cumbuca que tu montas, cheia de saladas, molhos e temperos. Bem interessante a proposta. Um prato desses sai por R$ 13,90.

O local é composto por um buffet, em que o cliente escolhe oito tipos de saladas, dois tipos de molhos, mais o tempero e coberturas. A comida fica em um balcão na altura da minha cintura. Há um vidro por cima, quase até a altura do rosto de uma pessoa adulta em pé.

Algo completamente inacessível para um cadeirante. O cadeirante poderia até visualizar as comidas, mas ficaria inviável conversar com a atendente, dizer o que vai querer e efetuar o pagamento em um balcão super alto.

As saladas estão dentro desse balcão de vidro transparente sem nenhuma identificação. Ou seja, a pessoa deve enxergar e saber o que são as coisas. Se tivesse o nome das coisas ali em fontes grandes ajudaria qualquer cliente, não apenas aqueles com alguma deficiência visual.

Percebi aquelas dificuldades todas na fila, já apreensiva com a falta de acessibilidade do local, e me dirigi à atendente. Disse que ela deveria me explicar quais eram as comidas etc. A moça (Manuela, subgetente) foi bem simpática e educada. Foi me explicando tudo e, provavelmente sem se dar conta, fazendo uma audiodescrição improvisada das coisas.

Na hora de pagar, fui atendida por outra moça, que perguntou se eu queria que alguém levasse a bandeja até minha mesa – sem eu nem ter que pedir! Respondi, satisfeita com a proatividade, que sim. Então ela chamou um outro rapaz que, segurando minha bandeja, perguntou onde eu queria sentar. Disse que em qualquer lugar desde que estivesse livre (risos).

O atendimento foi rápido e objetivo. As pessoas me ajudaram exatamente naquilo que eu precisava. O local não tinha nenhuma acessibilidade arquitetônica, nenhum tipo de adaptação para mim ou para outra pessoa com deficiência. Mesmo assim, os atendentes foram educados e bem dispostos para ajudar.

Apesar de eu estar no caos que é a praça de alimentação de um shopping, consegui almoçar uma comidinha saudável sem me estressar. Além do mais, comi uma bela salada – que, com tantos molhos e coisas gordas que coloquei, nem parece salada e fica com um sabor muito bom!