“As pessoas pensam que eu não posso exercer o jornalismo plenamente por ter baixa visão”, diz apresentadora da TVE

Por: Nathália Carvalho

O dia acaba. Já é quase noite e, neste momento, encerra o expediente da maioria dos brasileiros. Na contramão, este era o horário em que a jornalista Mariana Baierle se preparava, em 2007, para enfrentar o caminho até a redação do Correio do Povo, em Porto Alegre. Com pouca luz e muitos obstáculos, o trajeto tratava-se de um desafio. “Tenho cerca de 10% de visão. Para ir até o trabalho já estava anoitecendo – ou era noite fechada no inverno. Tive muitas dificuldades, pois não estava preparada para andar pelas ruas de noite com segurança”.

Era o primeiro emprego de Mariana – em redação e noturno. À época, ela ainda não usava bengala e tinha objeção para assumir a deficiência. Foram alguns tombos e machucados, até que ela percebeu que as coisas precisavam mudar. E mudaram. A jornalista, que hoje comanda e apresenta um quadro sobre acessibilidade na TVE, reaprendeu a andar e a lidar com o preconceito das pessoas e do mercado de trabalho. “Fico muito chateada quando me deparo com pessoas que pensam que não posso exercer o jornalismo plenamente por ter baixa visão”, diz.

Não foi nada fácil. Mariana conta que, no começo, a maior resistência era dela, pois tinha vergonha de tirar a bengala da bolsa. “Não queria que as pessoas me vissem usando aquele instrumento e viessem me perguntar sobre isso. Para completar, escutava muitos comentários preconceituosos e desagradáveis feitos nas ruas e nos ônibus por pessoas desconhecidas, como por exemplo: ‘É ceguinha, mas é tão bonita!’, ‘Você é tão nova e já é deficiente?’, ‘Que lindos olhos, nem parece que não funcionam’, entre uma infinidade de coisas”, conta.

Formada pela PUC-RS e mestre em Letras pela UFRGS, Mariana não encontrou preconceito somente na rua. Conseguir uma vaga na área representava, para o mercado, apenas cumprir cotas, independentemente da capacidade e formação. “Mesmo formada, com graduação, mestrado e experiência, as empresas me ofereciam vagas de auxiliar de escritório, telefonista ou operadora de telemarketing – cargos que exigiam apenas o nível médio (ou nem isso)”. Segundo ela, ainda há pessoas que acreditam que ela não pode trabalhar na área como os outros profissionais. “Posso não enxergar os detalhes de algumas coisas (da forma como outras pessoas veem), em compensação, tenho maior sensibilidade para sentir o ambiente, avaliar situações e compreender o que está acontecendo”.

Na época do vestibular, a apresentadora fazia parte do pequeno grupo que já sabia o que queria estudar: Jornalismo e Letras. Foi exatamente nessa ordem que ela realizou os dois sonhos. “Entrei em Comunicação pensando em seguir na área de texto, seja em jornal impresso, online, revista ou produção de conteúdos diversos”. Em Porto Alegre, Mariana fez estágio em jornais de bairro, ocasião em que aprendeu a fazer reportagens, entrevistas e resgates históricos sobre a cidade. A jornalista também passou pela Comunicação e Marketing da Copesul, o que trouxe experiência empresarial. A oportunidade na TVE, onde está atualmente, significa conquista após tanto tempo recebendo propostas para funções fora do Jornalismo. “Surgiu um concurso emergencial para a emissora, o qual eu fiz e posso dizer, com orgulho, que fui aprovada na classificação geral, independentemente das cotas”.

Desde setembro passado, Mariana é repórter da emissora e apresenta o quadro dento do programa ‘Cidadania’, comandado por Lena Ruduit. “Acho que se as pessoas com deficiência tivessem as condições adequadas para se desenvolver, desde a educação básica até o mercado de trabalho, o fato de ocuparem diversos espaços e tipos de emprego não seria tão espetacular – seria visto com maior naturalidade. Quero que um dia eu e as pessoas com deficiência sejam reconhecidas primeiro pelo talento e capacidade, e depois pela deficiência. Esse ainda é um sonho distante”.

Para a jornalista, a presença de pessoa com deficiência no mercado de trabalho e no ambiente corporativo ensina os demais a lidar com a diferença. “Minha experiência no mercado mostra que, no início, as pessoas têm muita resistência e desconhecimento quanto ao potencial das pessoas com deficiência. Depois de um tempo, felizmente essa ‘barreira’ e o distanciamento podem ser quebrados”, diz. No Jornalismo, falar sobre o trabalho da fotógrafa americana Amy Hildenbrand foi a reportagem mais marcante de Mariana. Ela conta que a artista também tem baixa visão, aproximadamente 20%, e tirou mil fotos em mil dias, registrando momentos cotidianos e sua forma de perceber o mundo. A matéria foi exibida no ano passado nos programas ‘Estação Cultura’ e ‘Cidadania’.

Fonte:
http://portal.comunique-se.com.br/index.php/editorias/3-imprensa-a-comunicacao-/71192-as-pessoas-pensam-que-eu-nao-posso-exercer-o-jornalismo-plenamente-por-ter-baixa-visao-diz-apresentadora-da-tve.html

Um sonho realizado: A AUDIODESCRIÇÃO VAI AO SHOPPING

Cerca de dois anos atrás, quando comecei a me aventurar pelo universo da audiodescrição, pensar em uma sessão acessível no cinema de um shopping em Porto Alegre ainda era um sonho muito distante e inatingível. Hoje não é mais. Esse sonho torna-se realidade mais rápido do que eu imaginava. Na manhã de 2 de março de 2013 o filme Colegas, vencedor do Festival de Cinema de Gramado de 2012, lotou uma sala de exibição do Espaço Itaú no Shopping Bourbon Country.

Cerca de 200 pessoas prestigiaram a sessão, que teve audiodescrição ao vivo realizada pela Tagarellas Audiodescrição, a qual eu tenho a felicidade de fazer parte. A equipe – formada por Marcia Caspary, Mimi Aragon, Kemi Oshiro, Felipe Mianes e eu, com supervisão de Livia Motta, além do apoio de Patrícia Amaral e Ariane Bernardes – está envolvida com a elaboração do roteiro de audiodescrição desde o início do ano passado. Muito trabalho e dedicação. Mas mais do que isso: o sonho de ampliar a acessibilidade em todos os lugares, em cada canto deste país e do mundo.

Foi maravilhoso estar presente em Gramado na sessão acessível que rendeu a Colegas o Kikito de Melhor Filme. E agora, quando a obra é lançada nacionalmente no circuito comercial, a audiodescrição mais uma vez se faz presente e fundamental, permitindo que espectadores cegos, com baixa visão, com Síndrome de Down e e outras deficiências possam compartilhar da envolvente história de Aninha, Stalone e Marcio – três jovens com Síndrome de Down, que fojem do instituto onde viveam e vão em busca de seus sonhos.

Meus olhos se encheram de lágriamas quando Marcia Caspary, da cabine de audiodescrição, começou a descrever o ambiente e a chegada do diretor Marcelo Galvão, dos atores Ariel e Rita Pokk e do produtor-executivo Marçal Souza na sala de projeções. Um sentimento inexplicável tomou conta de mim. Uma emoção incrível. A sessão lotada. O maior público de pessoas com deficiência visual em um evento com audiodescrição até hoje em Porto Alegre.

A sessão foi uma prova de que os espaços culturais e comerciais começam a reconhecer a importância do público com deficiência enquanto consumidor. No Brasil são 45 milhões de pessoas com deficiência. Só no Rio Grande do Sul, são mais de 2,5 milhões de pessoas. Isso significa cerca de 24% da população brasileira. Uma grande fatia da população, até então ignorada e desconsiderada em eventos e atividades culturais.

A sessão de hoje me entusiasma e me estimula, pois VEJO – através da AD e fora dela – que a acessibilidade não está mais renegada a espaços alternativos, reclusos, distantes e específicos para pessoas com deficiência. A AD passa a estar inserida em ambiente central, em um espaço de difusão do comércio, do lazer e do entretenimento, que é o espaço de um shopping.

Não que os demais espaços não sejam importantes, mas o fato de estarmos em um shopping como o Bourbon é repleto de significado e representatividade. Retiramos as pessoas com deficiência de espaços marginalizados da sociedade e fazemos com que elas sejam percebidas por todos.

O público foi ao cinema, depois saiu e se espalhou por todas as dependências do shopping. As pessoas foram ao restaurante, à cafeteria, à livraria, ao supermercado, às lojas de sapatos, de roupas, de utensílios. As lojas e funcionários do entorno passaram a se questionar como atender e auxiliar aquela multidão de pessoas com deficiência que invadiu o shopping. Preocupação justa e salutar. Falta experiência aos atendentes e prestadores de serviços, mas isso se adquire com a prática e com o convívio. Estamos vencendo a principal das barreiras, que é a do distanciamento.

Tenho orgulho de fazer parte dessa história. Tenho orgulho de estar presente nesse processo de mudanças, que ainda tem um longo caminho pela frente, mas já apresenta importantes conquistas. Obrigada a todos que nos apoiaram e que vão continuar apoiando. Espero em breve voltar ao Espaço Itaú no Bourbon Shopping – e em outros espaços que nos proporcionarem essa experiência – para assistir a mais filmes com AUDIODESCRIÇÃO.

Um grande abraço a todos, com carinho e felicidade, Mariana Baierle

INÉDITO: Filme Colegas tem estreia com audiodescrição em Porto Alegre/RS

INÉDITO: Filme Colegas tem estreia com audiodescrição em Porto Alegre/RS
Pessoas cegas ou com baixa visão assistirão ao longa-metragem no dia 2 de março, no Espaço Itaú do Bourbon Country, com entrada franca e presença do elenco e equipe

O multipremiado longa-metragem Colegas, que estreia dia 1º de março, terá sessão acessível a pessoas com deficiência visual em Porto Alegre/RS, no dia 2, sábado, com entrada franca e presença de parte do elenco. A exibição está marcada para as 9h30, na Sala 2 do Espaço Itaú, no Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80 – atrás do Shopping Iguatemi), com distribuição gratuita de combos com pipoca e refrigerante. A produção é da Tagarellas Audiodescrição, com patrocínio da Óptica LH e apoio do Bourbon Shopping, Espaço Itaú, Europa Filmes, Radioativa Produtora, Som da Luz e Gatacine. Os ingressos são limitados e a reserva deve ser feita antecipadamente pelo e-mail tagarellasproducoes@gmail.com ou pelos fones (51) 3384 1851 e (51) 8451 2115. A preferência é para pessoas com deficiência visual e acompanhantes. Demais interessados terão seu ingresso condicionado à lotação da sala.

Porto Alegre é a única capital que ganhará uma sessão acessível de Colegas no final de semana da estreia do filme. E, pela primeira vez no Rio Grande do Sul, um longa-metragem estreante será exibido em uma sala comercial com audiodescrição. O recurso permite o acesso às informações visuais a pessoas cegas e com baixa visão, além de beneficiar idosos e pessoas com Síndrome de Down, deficiência intelectual, problemas neurológicos e dificuldade de memorização. Os fones de ouvido serão distribuídos a partir das 9h30 e a audiodescrição inicia-se às 9h45, para detalhar antecipadamente as características da sala de exibição, personagens e cenários. Depois do filme, que dura aproximadamente 90 minutos, o diretor e roteirista Marcelo Galvão, o produtor Marçal Souza e os atores Ariel Goldenberg e Rita Pokk conversarão com o público até as 12h.

Colegas, produzido pela paulistana Gatacine, conta de modo poético e divertido a história de três personagens com Síndrome de Down. Inspirados pelo filme Thelma & Louise, eles fogem do instituto onde vivem, em busca de seus sonhos: Stallone deseja ver o mar, Aninha quer casar e Márcio precisa voar. Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola e boa parte do elenco de apoio têm Síndrome de Down. Colegas foi premiado nos festivais de Gramado, Paulínia e Trieste, na Itália, e também na Mostra Internacional de São Paulo e no Greaking Down Barriers Moscow, na Rússia. Integrou, como hors-concours, a Mostra do Rio e foi escolhido como filme de abertura do Amazonas Film Festival e do Annual Red Rock Film Festival Utah.

#VemSeanPenn
Lançada no início de fevereiro, a campanha #VemSeanPenn faz o maior sucesso nas redes sociais, graças às milhares de pessoas que aderiram à causa de ajudar Ariel Goldenberg a realizar um sonho: conhecer seu ídolo, o ator Sean Penn, na estreia do filme Colegas, em 1º de março, no dia anterior à sessão acessível em Porto Alegre/RS. Aconteça o que acontecer, o vídeo já soma mais de 1,3 milhão de visualizações, entrou para os trending topics do Twitter no Brasil e é fenômeno de compartilhamentos no Facebook.

FICHA TÉCNICA DA ESTREIA DE COLEGAS COM AUDIODESCRIÇÃO EM PORTO ALEGRE/RS
Produção: Tagarellas Audiodescrição.
Roteiro: Kemi Oshiro, Marcia Caspary e Mimi Aragón.
Consultoria: Felipe Mianes e Mariana Baierle.
Narração: Marcia Caspary.
Supervisão: Lívia Motta.
Equipamento: A2 Sistemas Audiovisuais.
Montagem do trailler com audiodescrição: Bernardo Garcez.
Patrocínio: Óptica LH | (51) 3221 8605 e (51) 9814 0854 | luisbasso@terra.com.br (mais informações: http://www.portoalegrequemdiria.com.br/2012/09/19/consultoria-de-oculos-com-hora-marcada/ e http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/donna/noticia/2013/02/o-que-ha-por-tras-da-paixao-em-usar-oculos-de-grau-4031057.html)
Apoio: Bourbon Shopping, Espaço Itaú, Europa Filmes, Radioativa Produtora, Som da Luz e Gatacine.

SERVIÇO
. Estreia do filme Colegas com audiodescrição ao vivo em Porto Alegre/RS.
. 2 de março (sábado), a partir das 9h30, com ingresso e combo (pipoca e refrigerante) grátis.
. Sala 2 do Espaço Itaú, no Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80 – atrás do Shopping Iguatemi).
. Ingressos limitados. É indispensável a reserva antecipada pelo e-mail tagarellasproducoes@gmail.com ou pelos fones (51) 3384 1851 e (51) 8451.2115.
. Trailler com audiodescrição: http://youtu.be/M3c1joyTWgc
. #vemseanpenn (sem audiodescrição): http://youtu.be/bHNTPdy0CIM

CONTATO
Tagarellas Audiodescrição
tagarellasproducoes@gmail.com
(51) 8451.2115 e (51) 8118 9814
http://tagasblog.wordpress.com/

(início da descrição do poster)
O poster do filme é vertical e foi criado sobre uma fotografia colorida. O texto, em letras brancas, está centralizado na metade superior da imagem, toda preenchida pelo céu azul turquesa de um dia ensolarado. Na metade de baixo, três jovens com Síndrome de Down – uma garota e dois garotos – viajam, sorridentes e livres, de braços abertos, em um conversível vermelho visto de frente. Atrás deles, ao fundo, a estrada faz uma curva em meio à vegetação. Mais ao longe, montanhas escuras contrastam com uma camada de nuvens azuladas. À esquerda, na carona do conversível, a garota olha para a frente. Ela usa chapéu dourado e blusa lilás. A seu lado, à direita da foto, o motorista tem só a mão direita no volante. Ele usa turbante brilhoso com penacho e um colete dourado. No encosto do banco traseiro, o terceiro jovem olha para cima de olhos fechados. Ele veste roupa azul, capacete, luvas, sunga e botas amarelas. Um cão preto e peludo viaja junto dele. Logo abaixo da foto, em uma barra preta, as logomarcas dos realizadores e os endereços de dois sites sobre o filme.

Gatacine, Petrobras, Invest Image, Caixa Seguros, Sabesp, Polo Cinematográfico de Paulínia, AkzoNobel, Neoenergia e Europa Filmes apresentam:

Colegas. A comédia mais divertida do ano.

. Melhor Filme – Melhor Direção de Arte – Prêmio Especial do Júri – 40º Festival de Gramado 2012.
. Melhor Filme Brasileiro – Prêmio da Juventude – Prêmio do Público – 36ª Mostra Internacional de São Paulo.
. Premio Del Pubblico – XXVII Festival de Cinema Latino Americano di Trieste (Itália) 2012.
. Melhor Filme 6th Greaking Down Barriers Moscow (Rússia) 2012.
. Melhor Roteiro – 1º Festival de Paulínia – 2008.
. Seleção Oficial Festival do Rio Hors-Concours 2012.
. Filme de Abertura 9º Amazonas Film Festival 2012.
. Opening Night Film 6th Annual red Rock Film Festival Utah (USA) 2012.

Um filme de Marcelo Galvão. Estrelando: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Lima Duarte, Leonardo Miggiorin, Deto Montenegro, Rui Unas, Juliana Didone, Marco Luque, Maytê Piragibe, Nill Marcondes, Otávio Mesquita, Theo Werneck, Christiano Cochrane, Daniele Valente, Daniela Galli, Oswaldo Lot, Anna Ludmila, Germano Pereira, Theodoro Cochrane, J. Peron, Amélia Bittencourt, Giulia Merigo, Carlos Miola, Thogun. Trilha Sonora: Ed Côrtes. Direção de Som: Martin Grignaschi. Direção de Arte: Zenor Ribas. Figurino: Kiki Orona. Direção de Fotografia: Rodrigo Tavares. Montagem: Marcelo Galvão. Finalização de Som: La Burbuja Sonido. Produção: Gatacine. Produtor: Marcelo Galvão. Produtor Associado: Otávio Mesquita. Produção Executiva: Marçal Souza. Distribuição: Europa Filmes. Roteiro e direção: Marcelo Galvão.

Apresentadores: Lei do Audiovisual Ancine – Agência Nacional do Cinema, Lei de Incentivo à Cultura Ancine – Agência Nacional do Cinema, Governo do Estado de São Paulo – Secretaria da Cultura, ProAc – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, Governo Federal – Brasil – País Rico é País Sem Pobreza, BR Petrobras, Investimage 1 Funcine, Caixa Seguros, Sabesp, Polo Cinematográfico de Paulínia, AkzoNobel – Tomorrow’s Answers Today, Neoenergia, Gatacine Produções. Patrocínio: Net – O Mundo é dos Nets, KSB, CVC. Distribuição: Europa Filmes. Apoio: Docol Metais Sanitários, EATON – Powering Business Worldwide, Libbs, Locaweb, Ferro+, DaTerra Sustainable Coffe, Senac São Paulo, ArtCenter – Tecnologia em Impressão, Burti.

http://www.gatacine.com.brhttp://www.facebook.com/colegasofilme
(fim da descrição)

Minha experiência enquanto jornalista com baixa visão

O fato de eu ter me tornado jornalista com baixa visão está causando curiosidade e interesse aos leitores do Três Gotinhas. Esse mês recebi dois emails do público leitor me questionando sobre isso. Um foi de uma estudante de São Paulo, que tem 18 anos e está decidindo o curso que vai fazer no vestibular, Ela se interessa muito pela área do Jornalismo e quer saber quais as facilidades e dificuldades da profissão para quem tem alguma deficiência visual.

O outro email foi de uma leitora, que já é jornalista formada e, assim como eu, tem baixa visão. Ela escreveu perguntando como é possível trabalhar em televisão e como eu faço já que não consigo ler o teleprompter. Fiquei muito feliz em receber esses emails, pois realmente gosto de compartilhar experiências com as pessoas. E gosto também quando as pessoas compartilham suas histórias comigo. (Aliás, vocês sabem que contribuições para o blog são sempre super bem-vindas!!!),

Contando então um pouco sobre minha experiência… Me formei em Jornalismo pela PUC-RS em 2007 e fiz mestrado em Letras pela UFRGS (que conclui em 2012). Na minha opinião nenhuma profissão é fácil para ninguém. Para quem tem qualquer deficiência física, terá invariavelmente maiores dificuldades, seja no curso de formação, no mercado de trabalho ou na forma como a sociedade lida com as pessoas com deficiência.

Na graduação tive disciplinas complexas para quem tem deficiência visual, como jornalismo online, tv, fotojornalismo, edição de imagem, diagramação, entre outras. Jamais me senti privilegiada nas avaliações, sempre tive que fazer os mesmos trabalhos e provas que os colegas.

Na verdade, pelo fato de eu ainda não usar bengala na faculdade, acho que os professores não chegavam a ter a real dimensão da minha deficiência visual. Então sempre me trataram como qualquer aluno, me ajudando ou fazendo alguma adaptação apenas em casos extremos, onde eu realmente não conseguia resolver a situação por conta própria. Acabava eu mesma me adaptando às situações que surgiam. Contei com o apoio de muitos professores mais compreensivos, mas nem sempre isso ocorria.

No último ano de faculdade, fiz um estágio na Assessoria de Comunicação de uma empresa, no Polo Petroquímico, em Triunfo/RS, há mais de uma hora de ônibus de Porto Alegre. Trabalhava lá o dia todo, saía de casa às 6h30 da manhã, voltava direto para a faculdade (que tive de transferir para o turno da noite) e chegava em casa pelas 23h, Foi um ano puxado, mas bastante intenso, com muitos aprendizados.

O maior desafio foi estudar à noite. Minha dificuldade visual aumenta muito a noite. Durante o dia ou em ambientes com mais iluminação não tenho tanta dificuldade, mas estudar a noite era algo que eu realmente não tinha imaginado. Tive de quebrar esse e outros tantos medos e receios. Solicitei à faculdade maior iluminação no entorno do prédio.

Percebi que estava superando aquela dificuldade quando, aos poucos, fui me preocupando mais com o estágio, com o trabalho de conclusão e com a formatura do que com as dificuldades práticas de estudar a noite. A vida precisava seguir de qualquer jeito, independentemente de eu ter de fazer o curso no turno da manhã ou da noite ou de ter de me locomover pelo campus sozinha em um horário de iluminação escassa.

Devo dizer, porém, que nem tudo foram dificuldades. Sempre tive facilidade para ouvir e gravar informações, seja fazendo uma entrevista jornalística ou escutando os professores em aula. Não copiava do quadro, mas conseguia anotar ou simplesmente memorizar tudo o que eles falavam. Na verdade, sempre fiz isso desde a época do Ensino Fundamental e Médio. Era algo meio intuitivo e muito natural, que eu acabava fazendo em função da deficiência visual, sem nem mesmo me dar conta.

Hoje vejo o quanto foi importante fazer o curso de Jornalismo sem grandes “adaptações”, pois isso me deu uma boa base curricular. Sempre pensei que, até pelo fato de eu ter uma dificuldade a mais (que meus colegas não tinham), deveria ir muito bem no curso, tirar boas notas e ser bem eficiente naquilo que eu me propusesse a fazer. Sabia que o mercado não seria nada fácil, que a concorrência é grande em qualquer profissão e que, para mim, talvez as dificuldades fossem maiores.

Jamais imaginei trabalhar em uma emissora de televisão, até pelas dificuldades práticas que eu sabia que existiriam. Sempre me interessei mais pela produção de conteúdo editorial para revistas, jornal impresso ou online. Ou ainda, pela área de assessoria de imprensa, divulgação de eventos, comunicação empresarial.

Estou surpresa comigo mesma, nesse momento, por estar trabalhando agora em uma emissora de TV, a TVE do Rio Grande do Sul. Vejo que isso é possível – algo que eu não imaginava -, com pequenas adaptações. O fato de eu não ler o teleprompter não é um problema, pois sempre falei de improviso desde a escola nas apresentações de trabalhos. Então isso é algo que já estava, de alguma forma, “treinada” a fazer desde sempre.

Para eu focar a câmera certa, meus colegas do estúdio, levantam um papel branco para que eu saiba para onde devo olhar. As câmeras são pretas e ficam em um local mais escuro do estudio, o que não gera contraste. Então uma simples folha branca já resolve a situação. O meu computador, que fica na Redação, também é adaptado, com fontes ampliadas e as configurações corretas para mim.

Nas reportagens de rua, sempre conto com o auxílio dos colegas cinegrafistas, que ajudam muito, dão dicas e orientações sobre melhores locais para gravar e forma de me posicionar adequadamente. No momento de gravar os boletins para as reportagens, o fato de eu ter baixa visão acho que ate facilita as coisas. pois sei que muitas pessoas ficam curiosas em volta, querendo ver o que o repórter está fazendo ou mesmo tentando aparecer na TV. Como eu não vejo o que está acontecendo em volta, consigo me concentrar e focar somente na câmera e no trabalho que devo fazer. Consigo “desligar” a mente das interferências externas. É como se eu usasse a baixa visão a meu favor: vejo apenas a câmera na minha frente e aquilo que é necessário ser visto naquele momento.

Mas as maiores barreiras que eu encontrei até hoje não foram em relação à falta de acessibilidade arquitetônica ou em relação a adaptações necessárias no meu dia a dia. As maiores dificuldade foram – e ainda são – em relação ao comportamento e à falta de compreensao das pessoas. Infelizmente as empresas e até colegas de trabalho muitas vezes subestimam a pessoa com deficiência e pensam que não somos capazes de desempenhar funções básicas da profissão.

Além disso, no currículo das faculdades de Comunicação sinto que faltam disciplinas sobre acessibilidade na mídia. Disciplinas sobre audiodescrição, legendagem, libras, construção de sites acessíveis simplesmente não existem. Não fazem parte da grade curricular, nem mesmo como eletivas. Os estudantes precisam buscar esse conhecimento por conta própria, o que acaba formando profissionais despreparados para pensar os meios de comunicação acessíveis a todos.

Enfim, muito ainda temos o que evoluir, não apenas na área da Comunicação Social, mas na sociedade em geral. Apesar da Convenção da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, a qual o Brasil é signatário, garantir o acesso pleno da pessoa com deficiência às comunicações, ao lazer e ao entretenimento, muito ainda temos a avançar nesse sentido.

Por Mariana Soares