Sobre acessibilidade na rede hoteleira

No início de dezembro estive em Curitiba pude vivenciar, na prática, o despreparo de uma grande rede de hoteis no que diz respeito à acessibilidade e ao atendimento de um cliente com baixa visão (no caso, eu mesma! Ehehe). Fiquei hospedada no hotel Ibis Budget, na rua Mariano Torres.

A pessoa que fez reserva para mim, pensando em facilitar minha orientação no hotel, havia feito um único pedido ao efetuar minha reserva: que meu quarto fosse o mais perto possível do elevador, pois seria mais fácil de entrar e sair do quarto. Ela avisou que eu tinha deficiência visual e que isso poderia facilitar o deslocamento. Um pedido simples que o hotel disse que poderia atender sem problemas.

Ao chegar no hotel na primeira noite, qual foi minha surpresa? Meu quarto era o último no final do corredor, o mais distante possível do elevador! E, ainda por cima, era um quarto para cadeirante. Fiquei perplexa com a situação, pois fizeram exatamente o oposto do que tinha sido pedido: me colocaram no último quarto no final do corredor e eu não havia pedido um quarto para cadeirante. Afinal, minha deficiência é visual e não motora.

Eis uma grande confusão que as pessoas fazem com relação a quem tem alguma deficiência. Já presenciei algumas pessoas falando alto comigo ou gritando (como se eu fosse surda), o que chega a ser hilário porque se tem algo que eu tenho muito apurado é a audição!

Até mesmo nos aeroportos quando viajo sozinha alguns funcionários de companhias aéreas já me ofereceram cadeira de rodas. Ora, se eu estivesse precisando de uma cadeira de rodas não teria problema nenhum em aceitar, mas não é o meu caso no momento. Acho que as pessoas pensam que por você não enxergar bem seria mais fácil ser empurrado em uma cadeira. Esses são alguns exemplos das confusões que somos submetidos constantemente.

Voltando ao que aconteceu no hotel em Curitiba, acabei ficando naquele quarto para cadeirantes no final do carredor e longe do elevador. O fato dele ter um banheiro grande, com barras de apoio e mais espaço para cadeira de rodas não me atrapalharia em nada. O problema, sim, era o fato de que aquele quarto tinha uma qualidade bem inferior aos demais. Já havia me hospedado nessa mesma rede Ibis várias vezes. Os quartos são iguais em qualquer lugar do mundo. Ou eram, até então, pois aquele quarto para cadeirantes parecia um porão. Tinha móveis bem mais velhos, com aspecto de mau cuidados e um banheiro antigo. Não tinha sequer papel higiênico no banheiro. Parecia todo mal cuidado e meio improvisado. Um desrespeito para qualquer hospede, independentemente de ser cadeirante ou não.

De qualquer forma, me ambientei no quarto e decidi que ficaria ali mesmo para evitar confusões, pois tudo que eu queria era participar do Seminário do Projeto Ver com as Mãos, conhecer a cidade e as pessoas. Iria passar o mínimo de tempo dentro do quarto do hotel. Enfim, no dia seguinte antes de sair fui deixar o cartão (que funciona como chave do quarto e senha para o elevador – mais detalhes sobre isso logo adiante) na recepção.

Para minha surpresa, o atendente verificou o número do meu quarto e me perguntou se eu iria mudar de quarto naquele momento. Respondi que eu estava em um quarto para cadeirante que não havia solicitado, mas que não iria mudar porque já estava instalada lá e estava de saída para um evento. O atendente disse então que seria “importante” eu mudar de quarto porque iria chegar um cadeirante ao meio-dia. E o hotel só tinha dois quartos para cadeirante, sendo que um já estava ocupado por um cadeirante e o outro por mim!

Falou isso como se eu fosse a culpada por estar no quarto para cadeirantes e por eles não terem mais quartos adaptados. Perguntei, já um pouco estressada, afinal, por que tinham me colocado naquele quarto? E ele não soube me explicar. Ficamos num impasse durante alguns minutos, pois eram sete e meia da manhã, eu tinha que ir para o meu evento e só voltaria para o hotel de noite. Já estava quase atrasada para sair, não teria tempo hábil de subir e mudar minhas coisas de quarto.

O atendente insistiu para que eu fizesse isso, pois o cadeirante chegaria ao meio-dia e eu só voltaria para o hotel de noite. Aquela situação toda era bem absurda. Pois eu estava em um quarto que não havia solicitado. O cadeirante iria chegar ao meio-dia e o hotel, que tem mais de 200 quartos, so tinha dois quartos acessíveis. Se eu não trocasse de quarto essa pessoa não teria onde ficar. Contudo, a culpa dessa confusão toda não era minha, mas eu estava sendo prejudicada.

O atendente se ofereceu para, ele próprio, trocar minhas coisas de quarto. Na hora me senti bem constrangida e até invadida, pois um cara que eu nem conheço teria que ir ao meu quarto, fechar minha mala, guardar as coisas que estivessem espalhadas, pegar meus shampoos no banheiro, escova de dentes, tudo!

Na hora relembrei mentalmente como havia deixado as coisas no quarto e, por sorte, sou bastante organizada. Não havia nenhuma calcinha ou sutiã fora da mala nem qualquer outra coisa que não quisesse que ele visse. Resolvi aceitar que eles trocassem minhas coisas de quarto – única e exclusivamente em consideração ao cadeirante que iria chegar. E se eu não fizesse isso o cara ficaria sem quarto.

De qualquer forma, foi uma situação bem chata. Sai de lá pensando em como seria feita aquela troca das minhas coisas. Disse para ele que colocassem as coisas exatamente no mesmo lugar que estava e que levassem as roupas que estavam penduradas no cabide sem amassar. Passei boa parte do dia preocupada com as minhas coisas no hotel! Avisei que quando chegasse iria conferir tudo. E foi o que fiz de noite.

Por sorte, sim, estava tudo no lugar, não estava faltando nada e a troca foi feita aparentemente com bastante cuidado – era o mínimo que podia fazer após todo auqele cosntragimento. E o quarto que não era para cadeirante tem uma qualidade e uma apresentação infinitamente melhor do que quele – o que é outro absurdo! A pessoa cadeirante paga o mesmo valor pela diária e merece um quarto tão bom quanto ao demais.

Mas os problemas e dificuldades nesse hotel não param por ai…

BRINCANDO DE GINCANA NO ELEVADOR

Como comentei anteriormente, recebi um cartão magnético que funciona como chave do quarto e também cartão para acionar o elevador. Sem o cartão não é possível ir até o andar do seu quarto.

Contudo, o uso do cartão não é nem um pouco simples para quem tem deficiência visual. Ele precisa ser inserido no elevador na posição correta, sendo que não há nenhuma identificação tátil, sendo igual dos dois lados.

Ainda por cima, não são apenas dois lados para serem testados. Há a opção “para cima” e “para baixo” em cada um dos lados. Ou seja, são quatro “chances” para você conseguir acertar a posição correta do cartão. Além disso, você precisa colocar o cartão, ver quando ligou uma lusinha super fraca e então tirar rapidamente o vcartão para que o elevador vá até o andar correto.

Nossa, uma verdadeira gincana de acerto e erro dentro do elevador. Sem contar que havia apenas um elevador funcionando naquele hotel com mais de onze andares. As filas eram enormes e havia essa dificuldade enorme com o uso do cartão.

E a dificuldade não era apenas minha, mas de outros hóspedes também. De vez em quando algum alguém era prestativo e me ajudava, mas em geral eu ficava tentando até acertar a posição e a velocidade da lusinha acender e apagar para eu retirar o cartão.

Falei sobre isso com os funcionários na recepção. Eles disseram que era por segurança. É claro que eu entendo, mas poderia haver uma forma mais acessível de garantir a segurança. Não adiantada o elevador ter botões em braille se tinha toda uma “gincana” para ser feita para conseguir ir até o meu andar!

O CAFÉ DA MANHÃ

No café da manhã não havia nenhum funcionário na porta para quem eu pudesse pedir ajuda. Minha maior dificuldade é identificar o que é cada coisa no buffet (motivo pelo qual, aliás,sempre evitei os buffets). O café do hotel era grande, cheio de coisas, sem nenhuma plaquinha identificando em fontes grandes o que é cada coisa.

No primeiro dia pedi ajuda na recepção e mandaram uma pessoa que estava na cozinha do café para me ajudar. No outro dia uma pessoa da própria recepção foi até o café comigo para me dizer o que eram as coisas.

Acho muito estranho que não tenha nenhum funcionário na hora do café, pois outras pessoas podem rpecisar de algum auxílio e simplesmente não aparece ninguém!

AS BARREIRAS PARA ORGANIZAR FILA NA RECEPÇÃO

Além de tudo que já contei, ainda tive que ficar desviando de barreiras para organizar filas na recepção. Aqueles postes baixinhos com uma fita aérea, na altura da cintura, são verdadeiras armadilhas para quem tem baixa visão, principalmente problema de campo visual como eu. Você olha pra frente e não vê nada. Ao andar, cai por cima daquele negócio baixinho no meio do caminho. A bengala também não identifica, pois as fitas ficam suspensas e apenas alguns postes fininhos tocam o chão.

Acabei derrubando no segundo dia um negócio naqueles. Algo bem chato, pois havia bastante movimento na recepção e todo mundo ficou prestando atenção em mim (a desastrada!).

O funcionário me disse para ficar calma, que não tinha problema, juntou tudo do chão e colocou no mesmo lugar novamente. Durante os 4 dias que estive lá aquelas barreiras me atrapalhavam.

Alguns funcionários, por detrás do balcão da recepção ficavam me dizendo “mais para esquerda”, “mais para direita” quando eu ia passar, o que me deixava mais nervosa ainda. Não poderiam sair detrás do balcão e vir até mim, sem ficar gritando?

Bom, como vocês podem ver, foram apenas quatro dias e já identifiquei tantos e tantos problemas no hotel. De modo geral, minha viagem foi ótima e não deixo que coisas como essas me abalem. Mas conviver com o despreparo das pessoas e a falta de condiç~eos dos espaços constantemente é algo, no mínimo, irritante e desrespeitoso. É algo que temos que batalhar constantemente.

Citei aqui todos os detalhes do hotel e sua identificação, mas não quero que isso fique apenas em relato em tom de crítica. Quero que os gestores dessa rede hoteleira leiam isso e possam refletir sobre como podem aprimorar seu atendimento e a estrutura física do hotel. Acho que falta treinamento e capacitação aos funcionários, além de uma consultoria por pessoas com diferentes deficiências, que poderiam apontar as dificuldades e o que pode ser melhorado.

Espero que um dia – em breve – eu (ou outras pessoas) possa voltar a Curitiba, cidade que adorei e conquistei grandes amigos, ficar novamente nesse hotel e trazer aqui um relato diferente. Um relato de mudanças e melhorias. Às vésperas de Copa do Mundo e preocupação cada vez maior com a acessibilidade nos espaços essas mudanças são urgentes.

E hoje?

Aprendi que questionamentos, dúvidas e receios são inevitáveis

Mas eles não podem guiar ou impedir nossas escolhas

Aprendi que viver um dia, uma etapa de cada vez é sempre a melhor opção

(…)

A vida não é um cálculo objetivo

Por algum motivo fora do meu alcance quis estar perto de você

Apesar de tantas e tantas as circunstâncias contrárias

Apesar de, em muitos momentos, ter brigado comigo mesma

(…)

Muitas perguntas nos fazemos e poucas podemos responder

A única certeza que temos é que vamos nos permitir finalmente viver nosso sentimento guardado

E, sim, se o mundo acabar amanhã, estarei feliz por tudo ter valido a pena

(…)

Percebi que, diante de tantas respontas incertas, precisamos mudar as perguntas

Hoje posso te receber com um sorriso no rosto, um beijo doce nos lábios e um abraço sincero

Com gotinhas de alegria e entusiasmo

(…)

A pergunta que te faço não é sobre o amanhã

A pergunta que te faço e te digo para fazer de novo, sempre quando sentires minha falta, é outra:

“E hoje?”

(…)

A vida fica mais leve e com cores fortes

Mas nem por isso menos intensas ou verdadeiras

Relato de Diele Santo

É com grande alegria que compartilho com os leitores do Três Gotinhas as palavras de Diele Pedrozo Santo, coordenadora do Projeto Ver com as Mãos, escritas logo após ao II Seminário sobre Acessibilidade do Projeto Ver com as Mãos. Diele, muito obrigada pela oportunidade de estar com vocês nesses momentos tão especiais!


“Confesso que ainda estou tentando absorver todos os acontecimentos da última semana… Quando hoje consegui sentar e respirar, refleti sobre tudo que aconteceu na minha vida, desde o dia 05 de dezembro de 2005 (a primeira vez que estive no IPC).
Naquela ocasião, quando resolvi me aventurar, muito curiosa e ainda bastante insegura no “mundo da deficiência visual”, nunca mesmo imaginava que hoje, os sonhos distantes que eu projetei, pudessem se tornar realidade.

Não pensem vocês que esse caminho foi fácil! Chorei muito nos meus primeiros dias como professora quando me deparei com alunos que desafiavam os meus conhecimentos e meu entendimento sobre a deficiência. Sofri muito por muitas vezes não saber o que fazer e não ter uma fórmula mágica para tentar ensinar o que queria aos meus alunos. Senti-me muito sozinha por muito tempo, ganhando pouco, fazendo muito, e tomando muito na cabeça por isso! Demorou para eu realmente conseguir entrar pra dentro da sala de aula e perceber que maior do que aquilo que as pessoas “achavam” que eu era, era pequeno demais diante do que eu queria fazer.

Meus alunos tiveram um papel fundamental nesse processo, primeiro porque, se eles não existissem eu jamais poderia sentir a satisfação que sinto quando estou com eles, seja ensinando em sala de aula, ou indo a um jogo de futebol ou uma lanchonete. Hoje sei como foi importante nesse processo observá-los, ouvi-los, compreendê-los. Eu ainda tenho tanto a aprender, mas quando olho pra eles, e percebo em pequenos detalhes e atitudes um pouquinho do que eu pude ensinar, não tem como não encher o peito de orgulho a ponto de transbordar o coração. Quem diria que aqueles meninos que não sabiam sequer desenhar um círculo no papel, hoje estariam discutindo sobre arte contemporânea, e brigando pelos seus direitos de ter acesso a arte e a cultura.

Não canso de contar para as pessoas como tudo que aprendo com eles é fantástico, e as vezes, pode ser até que me torne meio chata por falar tanto sobre isso, mas a vontade de que outras pessoas possam compreender melhor como as coisas podem ser muito mais simples do que imaginamos, para que eles possam realmente fazer parte desse “mundo visual”, que torno meu discurso muitas vezes exaustivo. Perdi as contas de quantas pessoas já me ouviram contar minhas histórias. É, um dia acho que ainda terei de escrever um livro, rs!

Depois de 8 anos, tive a oportunidade de colher os primeiros frutos concretos de que tudo, tudo, tudo mesmo valeu e vale muito a pena. Tudo pode parecer muito lindo quando vocês conhecem o Projeto Ver com as Mãos, mas, não pensem que tudo isso aconteceu porque EU fiz tudo isso sozinha. Contei no início com a paciência dos meus colegas professores que já trabalham com eles para pegar todas as dicas possíveis, fiz muitas perguntas “idiotas” até entender realmente o que era “ser cego”, quando criava algo para fazer em sala de aula, saia correndo pros meus colegas professores cegos que foram literalmente cobaias. Mas, quando estava eu, sozinha em sala de aula, era pros meus alunos que eu perguntava se a forma com que eu estava os ensinando estava correta.

Se hoje eu sou “mestra”, ah! Com toda certeza foi porque esses alunos me ensinaram tudo que sei! Esse “aval” dos meus colegas com deficiência visual e dos alunos, sempre me deixou muito segura para poder repassar para as pessoas o que aprendi com eles. Confesso que uma das coisas que mais me deixa feliz é ver uma sala cheia de gente para poder dividir todas as histórias fantásticas e descobertas que fiz nesse tempo. Adoro trabalhar com capacitação de professores, mesmo sabendo que talvez meia dúzia deles realmente tenham mudado a forma de pensar depois de me ouvir, pois se 1 deles me ouvir, pode fazer toda a diferença para um aluno com deficiência visual.

Uma das coisas que mais me orgulha hoje, é ter na equipe do projeto pessoas de todas áreas da Arte e da Cultura, que depois de conhecer meu trabalho decidiram pesquisar, criar, testar, conhecer, descobrir, aplicar, ensinar, aprender e AMAR o que fazem! Meus alunos estão em boas mãos, com professores, voluntários, oficineiros, que muito em breve, se tornarão uma referência em sua área! Pessoas que amam o que fazem e dão todo seu melhor para ensinar tudo que puderem aos alunos! TODOS começaram a trabalhar com os alunos sem nenhuma experiência, e hoje tem domínio total do que fazem, e já estão prontos para ensinar outras pessoas… multiplicando o conhecimento!
Nosso trabalho é de formiguinha, mas nosso formigueiro está gigante, e crescendo cada dia mais!

Sabe, as vezes eu acho que devo estar sendo uma menina muito boazinha, porque no ano de 2012, Papai Noel nos deu de presente o Projeto Ver com as Mãos, com direito a apoio do Criança Esperança, e continuidade garantida pelo Instituto HSBC em 2013/2014… e nesse ano, um dia depois do meu aniversário (depois da clássica surpresa maravilhosa dos meus alunos com direito a festa surpresa organizada por eles), realizamos o II Seminário do Projeto com mais de 100 pessoas inscritas, apresentações e exposição lindas dos alunos do projeto, palestras encantadores e desafiadoras, e muita gente engajada no debate.

Amei ver meus amigos e parceiros de trabalho palestrando, e tantas carinhas conhecidas na plateia, desde meus familiares, meus alunos, professores, estudantes, fotógrafos, gestores… gente do bem! E até uma do mal, que sabe-se-lá o que foi fazer em um lugar onde o respeito pelas pessoas está em primeiro lugar, e não o currículo Lattes hahahaha!

Piadas a parte, e para concluir, (não, ainda não acabou! 🙂 …. No dia seguinte ao seminário, mesmo com todos os membros da equipe do projeto exaustos, ainda tivemos um dia memorável, daqueles para ficar para a história: a nossa professora de música do projeto realizou sua primeira sessão de teatro com audiodescrição: plateia cheia, tudo lindo, peça maravilhosa, e a honra de receber a maior referência em audiodescrição para assistir e nos dar a “benção”. A noite ainda terminou no NYC, com comida boa, muitas risadas e a certeza de que TODO E QUALQUER ESFORÇO VALE A PENA QUANDO ACREDITAMOS E FAZEMOS AS COISAS COM AMOR!

(Você, que não teve preguiça e leu esse “pequeno” relato até o fim e se identificou…. o meu mais sincero: MUITO OBRIGADA, porque se não fosse por vocês nada disso seria possível!).”

Conhecendo o Projeto Ver com as Mãos

É possível que um aluno cego ou com baixa visão participe efetivamente de uma aula de Artes? Como pensar em um mundo sem imagens? Será que uma pessoa com deficiência visual é capaz de pensar em imagens? Foram esses questionamentos que fizeram a professora de Artes Diele Pedrozo Santo a procurar o Instituto Paranaense de Cegos. A entidade foi fundada em 1939 e presta serviço de habilitação e reabilitação a pessoas cegas e com baixa visão.

Ela observou que os alunos incluidos em escolas de ensino comum nunca haviam experenciado o desenho, por exemplo, algo tão natural no processo de desenvolvimento de uma criança. Hoje Diele é coordenadora do Projeto Ver com as Mãos, que trabalha desde 2005 com o ensino de arte adaptada.

No último dia 6 estive em Curitiba participando do II Seminário sobre Acessibilidade do Projeto Ver Com as Mãos, que aconteceu na Biblioteca Pública da cidade.

A professora explica que o objetivo do Projeto Ver com as Mãos não é necessariamente tornar os estudantes artistas, mas dar-lhes embasamento para aprender todas as disciplinas, além de vivenciar cmo qualquer criança a experiência da arte, da gravura, da pintura, da escultura etc. Essa base será fundamental para que os estudantes cegos ou com baixa visão compreendam, mais adiante, conteúdos mais complexos, tais como: geografia, matemática, trigonometria, biologia, gráficos, tabelas. Afinal, são disciplinas que exigem entedimento de elementos, formas e informações visuais constantemente.

O Projeto Ver com as Mãosdemonstra, na prática, que é possível incluir pessoas com deficiência visual em todo tipo de atividade que, tradicionalmente, envolvem a visão. O Projeto realiza visitas mensais a museus e centros culturais do Paraná. Em 2012, um grupo de trinta alunos foram conhecer o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Muitos deles não tinham sequer saído do Paraná e tiveram então a oportunidade de ir a São Paulo conhecer esse museu.

Hoje o Projeto oferece oficinas de arte, música, teatro, comunicação e design a crianças e jovens no turno inverso ao da escola. Trabalha também com adultos que perderam a visão em oficinas de canto, piano, violão e artesanato, com foco na reabilitação e geração de renda. Há ainda o “Clube de Mães do IPC”, que visa discutir a inclusão de seus filhos no âmbito educacional, social e cultural.

Eu tive a alegria e satisfação de conhecer de perto esse trabalho. O que mais me chamou a atenção é a desenvoltura e a autonomia dos alunos que, além de talentosos, já estão reivindicando seus direitos em todo tipo de espaço cultural que frequentam. Foi inevitável lembrei da minha infância e das oportunidades que não tive em termos de acesso à arte e adaptação de conteúdo na escola.

Fico imensamente emocionada em ver as crianças de agora tendo essa oportunidade e percebendo o quanto elas estão se desenvolvendo. Quero mandar o meu forte abraço, com todo carinho do mundo, à professora Diele, que mais do que uma excelente profissional em sua área, revelou-se um ser humano fantástico e tornou-se minha amiga do coração. Quero mandar um grande abraço a todos os alunos do Projeto. Quero que saibam da minha admiração e carinho por todos. Meus votos de sucesso e felicidade sempre. Quero agradecer também o Lucas Radaelli pela aula prática que me deu sobre o uso do voice over no Iphone. Meu grande abraço também à professora Amanda Nicolau, responsável pela primeira peça com audiodescrição em Curtiba, coma supervisão da nossa grande mestra e amiga Livia Motta. Já estou com saudades de todos!