Arquivo da tag: acessibilidade

Festival de Cinema Acessível movimenta cena cultural no Estado

O Festival de Cinema Acessível vai movimentar a cena cultural do Estado com títulos do cinema brasileiro. Este será o primeiro festival de cinema do país em que pessoas com e sem deficiência poderão assistir, na mesma sessão, a clássicos do cinema nacional. “As pessoas com deficiência ainda são pouco lembradas enquanto público-alvo de obras fílmicas. Queremos romper com essa ideia e mostrar que cinema é lugar de todos”, garante o gestor e idealizador do projeto Sidnei Schames.

Os longas-metragens “O Tempo e o Vento”, “O Homem que Copiava”, “Saneamento Básico, O Filme” e “Dois Filhos de Francisco” serão exibidos com recursos de acessibilidade para pessoas cegas, com baixa visão, surdas e com deficiência auditiva. A primeira etapa do Festival vai acontecer entre maio e junho na Cinemateca Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, sempre nas sextas-feiras às 19h30. No mês de agosto já está prevista uma sessão especial durante a Semana Estadual da Pessoa com Deficiência com a exibição de um dos títulos de maior sucesso durante o Festival.

Os preparativos para o Festival estão em fase avançada e nessa reta final estão envolvidos mais de vinte profissionais, entre roteiristas, narradores, consultores em audiodescrição, intérpretes de Libras, cinegrafistas, produtores culturais, curadores, técnicos de áudio e de estúdio, comunicadores e profissionais de legendagem.

O Festival de Cinema Acessível é uma realização do Estúdio Som da Luz através da Lei Rouanet, com patrocínio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul e Banrisul Consórcio e apoio da Cinemateca Paulo Amorim, Casa de Cultura Mario Quintana. A curadoria é de Gilnei Silveira e Zé Geraldo.

Na segunda etapa do projeto, que aguarda patrocinadores, serão exibidos mais cinco filmes. Entre os possíveis títulos estão: “Se eu fosse você”, “O Palhaço”, “Tropa de Elite 1 e 2”, “Jogo de Cena”, “Xingu” e “Quando eu era vivo”. Para o consultor em audiodescrição do Festival, Felipe Mianes, que tem deficiência visual, “é imprescindível que empresários e produtores culturais percebam a importância de apoiar um Festival como esse. Nós queremos ir ao cinema e os locais não estão preparados para nos receber”.

SERVIÇO:

O quê: Festival de Cinema Acessível

Datas: 8 de maio (O Homem que copiava); 22 de maio (Saneamento Básico, O Filme); 5 de junho (O Tempo e o Vento) e 19 de junho (Dois filhos de Francisco) – sempre nas sextas-feiras

Horário: 19h30

Onde: Cinemateca Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736 – Centro – Porto Alegre/RS)

Facebook: Festival de Cinema Acessível

Ingresso: entrada franca com recerva prévia pelo email festivalcinemaacessivel@gmail.com

TVE Repórter desta quarta (14) trata da acessibilidade em ambientes urbanos

Quase um quarto da população possui algum tipo de deficiência. No Brasil são 45 milhões de pessoas. Só no Rio Grande do Sul são 2,5 milhões, conforme o último Censo do IBGE. No programa TVE Repórter desta semana vamos mostrar como está a acessibilidade nos ambientes urbanos, como calçadas, avenidas, sinaleiras, parques, centros culturais e restaurantes. Será que as cidades de hoje estão preparadas para dar condições de circulação, bem-estar e autonomia para essa parcela tão significativa da população?

Não perca o TVE Repórter desta quarta (14), às 22h, com reprise na sexta (16), às 20h30, e domingo (18), às 17h. A reportagem é de Mariana Baierle, imagens de Arsênio Duarte, produção de Ana Paula Brinckmann e Danilo Pedrazza, edição de Jaldson Borges e coordenação de Andréa Martins.

Até quando vamos esperar por acessibilidade?

Essa sexta-feira (28) estive no Seminário sobre Mulheres com Deficiência no RS, organizado pela Faders (fundação estadual que articula políticas públicas para pessoas com deficiência). Fui painelista na mesa sobre “Caminhos e trajetórias”, em que mulheres com diferentes deficiências compartilharam suas experiências, dificuldades, desafios e perspectivas em relação à acessibilidade. Todos os depoimentos foram ricos e contribuíram de forma exemplar ao evento.

Mas eu quero registrar aqui um dos depoimentos que mais me tocou. Foi o relato de Patrícia Rodrigues, que é surda e está envolvida na luta pelos direitos das pessoas surdas no acesso à saúde, à educação e à informação em todas as esferas. Ela falou principalmente sobre as dificuldades de acesso a informações no que diz respeito a saúde da mulher, doenças sexualmente transmissíveis e sexualidade. Os hospitais e postos de saúde não estão preparados para atender mulheres surdas. Poucos profissionais sabem Libras e não há interpretes em todos os espaços.

Meninas na fase da puberdade, quando tem a primeira menstruação e precisam consultar o ginecologista, muitas vezes não tem como se comunicar com o médico. Em função disso, acabam indo acompanhadas da mãe ou alguma amiga, o que pode lhes deixar constrangidas de fazer perguntas e tirar dúvidas. Mulheres mais velhas também não se sentem à vontade para falar sobre a própria sexualidade ou dificuldades nessa área.

Em muitos casos, mulheres surdas acabam evitando esse tipo de atendimento precário e, consequentemente, não tiram suas dúvidas com os profissionais. Campanhas sobre uso de preservativos, por exemplo, jamais são pensadas para pessoas surdas. Trata-se de uma questão de saúde pública, que pode aumentar o índice de doenças em função da falta de acesso à informação pelas pessoas surdas.

Março é o mês da mulher e Patricia lembrou que muitas campanhas são feitas contra a violência contra a mulher. O poder público divulga o número da Escuta Lilás para que mulheres realizem denúncias por telefone. Entretanto, não há nenhum canal de comunicação para as mulheres surdas. Vocè já parou para pensar com a mulher surda poderá fazer qualquer tipo de denúncia, reclamação ou pedir esclarecimentos? E no caso de uma situação extrema, em que precise pedir socorro, como isso ocorre se existe apenas um número de telefone para contato?

Patrícia contou que em 2012 já havia sugerido ao poder público um sistema de envio de mensagens de texto para que mulheres surdas, vítimas de violência, pudessem fazer denúncias e pedir socorro via mensagem de texto. Porém, dois anos depois, em 2014, esse sistema ainda não existe.

É preciso pensar também em meios de comunicação acessíveis em todos os serviços públicos como delegacias de polícia, emissão de documentos, escolas, SAMU, bombeiros, hospitais e centrais de marcação de consultas. Apenas disponibilizar número de telefone não é suficiente.

Outra questão que foi levantada no seminário foi com relação à péssima qualidade no transporte público em Porto Alegre, que é ruim para todos, mas se acentua no caso do atendimento às pessoas com deficiência. Vitória Bernardes, psicóloga e mediadora da mesa que participei, lembrou que muitas vezes as pessoas elogiam as mulheres com deficiência por “superarem” barreiras. Segundo Vitória, atividades rotineiras, como pegar um ônibus ou transitar com segurança pelas calçadas de Porto Alegre, não deveriam ser motivo de “superação”, pois a cidade deveria estar preparada para isso.

A “superação” deve ocorrer em momentos realmente difíceis da vida e que envolvem grandes desafios como, por exemplo, a constituição de uma família, a educação dos filhos, a inserção no mercado de trabalho, os estudos e a capacitação profissional etc. Esses, sim, são desafios complexos e exigem “superação” por parte de qualquer cidadão. Mas infelizmente, dentro da nossa realidade, pegar um ônibus ainda é um desafio e uma “superação” por pessoas cadeirantes, com mobilidade reduzida ou deficiência visual, visto que precisamos lidar com condições precárias das calçadas, ruas e ônibus.

No ano passado fiz uma reportagem para o Cidadania na TVE mostrando um projeto piloto de instalação do DPS2000 nos ônibus da Capital. Esse é um equipamento que traz autonomia no transporte público para pessoas com deficiência visual. O usuário utiliza um aparelho que lhe avisa quando a linha desejada está se aproximando da parada e informa também ao motorista que na parada há alguém com deficiência. O sistema já é um sucess em várias cidades brasileiras.

Foi testado pela Secretaria Municipal de Acessibilidade no final de setembro de 2013. Os testes foram realizados com diversos usuários da linha Auxiliadora e o resultado foi um sucesso. A previsão era de instalação em pelo menos algumas linhas de Porto Alegre já no início de 2014. Infelizmente, o projeto parece ter sido esquecido pela Prefeitura e a acessibilidade nos ônibus para pessoas com deficiência visual segue inexistindo.

Patrícia Rodrigues aguarda desde 2012 por um sistema para comunicação das pessoas surdas com o poder público. O projeto que daria autonomia a pessoas com deficiência visual nos ônibus de Porto Alegre parece ter sido esquecido desde o ano passado. Em pleno ano de 2014, quando o Brasil é signatário da convenção da ONU Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência desde 2008, esse tipo de situação não pode ser mais tolerada. Até quando teremos que esperar por soluções práticas?

Está muito claro que leis e direitos para as pessoas comd eficiência estão assegurados na Constituição, o dificil ainda é fazer com que eles sejam cumpridos. Apenas discursos vazios não são suficientes, precisamos de atitudes práticas e mudanças de comportamento. Até quando vamos esperar?