Luiza Caspary faz show em Porto Alegre na próxima terça-feira

Pioneira em incluir audiodescrição em seu trabalho, a cantora tocará canções próprias e releituras de Raul Seixas, Paralamas do Sucesso e Paul McCartney

Luiza Caspary, cantora e compositora de O Caminho Certo, música cujo videoclipe foi o primeiro a ser audiodescrito no Brasil, sobe ao palco do Teatro Renascença, em Porto Alegre/RS (no Centro Municipal de Cultura, Av. Erico Verissimo, 307, esquina com a Ipiranga, no lado oposto ao do prédio do jornal Zero Hora), na próxima terça-feira, 17 de julho, a partir das 20h45. O show, com entrada franca, integra o projeto Sons da Cidade, promovido pela Prefeitura de Porto Alegre.

Luiza e sua banda (Daniel Fontoura na bateria, Bruno Vargas no baixo e Gabriel Von Brixen na guitarra) tocarão canções do primeiro álbum da artista – também chamado O Caminho Certo, com lançamento previsto para o ano que vem -, e releituras de Raul Seixas, Paralamas do Sucesso e Paul McCartney, a quem Luiza conheceu pessoalmente na última passagem do ex-Beatle pelo Brasil. O show, com duração aproximada de 45 minutos, terá a participação de dois convidados: o baterista Valmor Pedretti e a também cantora e compositora Vaness Soares.

Pioneira em incluir a audiodescrição em seu trabalho autoral, Luiza defende que a cultura seja cada vez mais acessível todos, especialmente a pessoas com deficiência. “Minha vontade é fazer todos meus clipes e shows acessíveis. Acho que os recursos de acessibilidade devem ser obrigatórios e que nós, artistas, temos de estar mais atentos ao assunto. Porque o conceito de cultura precisa levar em conta que a produção artística deve chegar a todas as pessoas”, afirma.

O videoclipe com audiodescrição (AD) de O Caminho Certo pode ser conferido abaixo:

A AD foi produzida pelo BLA! – Branco Laboratório de Audiodescrição, grupo porto-alegrense que se dedica a estudar e promover o recurso.

Realizado desde 2006, o projeto Sons da Cidade tem curadoria de Paulo Moreira e leva dois shows todo mês ao Renascença. Assim, a abertura na próxima terça-feira, às 20h, ficará por conta do compositor e intérprete Flavio Adonis, acompanhado por Luke Faro na bateria, Rodrigo Rheinheimer no baixo e Vitor Peixoto nos teclados. Serão apenas 300 senhas, distribuídas no local a partir das 19h, uma hora antes de Adonis subir ao palco.
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Sons da Cidade.
Shows de Luiza Caspary e Flavio Adonis.
Teatro Renascença, Porto Alegre/RS.
17 de julho, terça-feira, a partir das 20h.
Entrada franca (senhas limitadas no local a partir das 19h).

Informações: Coordenação de Música da Secretaria Municipal de Cultura, fone (51) 3289 8119

Exposição de fotos audiodescritas está online

A exposição de fotos “Sombras e Lugares”, de Roberto Giuliani, foi audiodescrita em sessão ao vivo durante o II Seminário Nacional de Acessibilidade em Ambientes Culturais da UFRGS. O resultado desse belo trabalho pode ser conferido por quem não pode estar presente naquela ocasião. Escute a descrição das fotos pelo link:

http://www.midiace.com.br/index.php?conteudo=exposicao&cod=15

Sobre calçadas e mentes deterioradas

Degraus e obstáculos inacessíveis, pedras no caminho, sacos de lixo e entulhos nas calçadas, obras mal sinalizadas estão por toda parte. Quando uma pessoa com deficiência visual sai de casa, trabalha, estuda, vai a uma festa, enfim, vive a vida, o primeiro desafio é locomover-se pelas calçadas de Porto Alegre.

As calçadas são a base para o deslocamento de qualquer pessoa. É por elas que nos locomovemos, teoricamente em segurança – o que infelizmente não acontece devido ao seu precário estado de conservação.

Quando digo que as calçadas não vão bem, quero dizer que a base da sociedade não vai nada bem. Não falo apenas nas calçadas propriamente ditas. Falo em barreiras atitudinais. Algo que vai além de obstáculos físicos: a consciência, o respeito e o bom senso.

Se há um carro estacionado no espaço dos pedestres é porque alguém o colocou ali. Parece óbvio dizer isso, mas os objetos e bens materiais não têm vontade e autonomia própria. Se um prédio não tem rampa de acesso é porque seus arquitetos e engenheiros o conceberam assim. Afinal, para que rampas se eles não iriam utilizá-las?

Por trás das calçadas deterioradas, dos prédios, dos elevadores, dos ônibus, dos espaços públicos inacessíveis existem pessoas que os projetaram.

Mais difícil do que lidar com as barreiras arquitetônicas, é lidar com os indivíduos que as conceberam. Mais difícil do que cair um tombo, esfolar o joelho, ralar a mão e torcer o pé, é lidar com as pessoas que estavam lá o tempo todo e não consertaram aquele buraco, deixando com que você caísse e se machucasse.

É triste dizer isso, mas as barreiras físicas são as menos graves com as quais nos deparamos diariamente. Muito mais difícil é lidar com o despreparo e o desconhecimento das pessoas para lidar com qualquer diversidade.

Muitas vezes somos subestimados em nossas capacidades pessoais, profissionais e intelectuais simplesmente por termos uma deficiência física. Não me considero mais ou menos capaz que outros colegas jornalistas somente pelo fato de ter baixa visão. A capacidade, o profissionalismo, o caráter e o desempenho de uma pessoa estão aquém do fato dela ter ou não qualquer deficiência.

Infelizmente isso ainda é algo distante da compreensão das empresas, dos órgãos públicos e da sociedade em geral. O que eu e tantas outras pessoas com deficiência defendemos é simplesmente oportunidades iguais, com as devidas condições de trabalho que necessitamos. Precisamos de oportunidades e espaço para mostrar aquilo que somos capazes de fazer.

Citando frase da publicitária Juliana Carvalho, precisamos “construir rampas na cabeça das pessoas”. Cair e levantar de tombos em calçadas em péssimas condições, espalhadas por toda parte? Nada é tão difícil quanto conviver com o preconceito, a subestimação e os estereótipos alimentados por esses mesmos indivíduos que não consertam suas calçadas, tão pouco reciclam sua mentalidade deteriorada.

São esses os indivíduos – que não arrumam suas calçadas – que no dia a dia não irão enxergar minhas capacidades e potencialidades além da deficiência. É nesse momento que me pergunto: quem tem baixa visão nessa história?

Mais do que consertar calçadas, é preciso reciclar as ideias e a mentalidade humana.