Até quando vamos esperar por acessibilidade?

Essa sexta-feira (28) estive no Seminário sobre Mulheres com Deficiência no RS, organizado pela Faders (fundação estadual que articula políticas públicas para pessoas com deficiência). Fui painelista na mesa sobre “Caminhos e trajetórias”, em que mulheres com diferentes deficiências compartilharam suas experiências, dificuldades, desafios e perspectivas em relação à acessibilidade. Todos os depoimentos foram ricos e contribuíram de forma exemplar ao evento.

Mas eu quero registrar aqui um dos depoimentos que mais me tocou. Foi o relato de Patrícia Rodrigues, que é surda e está envolvida na luta pelos direitos das pessoas surdas no acesso à saúde, à educação e à informação em todas as esferas. Ela falou principalmente sobre as dificuldades de acesso a informações no que diz respeito a saúde da mulher, doenças sexualmente transmissíveis e sexualidade. Os hospitais e postos de saúde não estão preparados para atender mulheres surdas. Poucos profissionais sabem Libras e não há interpretes em todos os espaços.

Meninas na fase da puberdade, quando tem a primeira menstruação e precisam consultar o ginecologista, muitas vezes não tem como se comunicar com o médico. Em função disso, acabam indo acompanhadas da mãe ou alguma amiga, o que pode lhes deixar constrangidas de fazer perguntas e tirar dúvidas. Mulheres mais velhas também não se sentem à vontade para falar sobre a própria sexualidade ou dificuldades nessa área.

Em muitos casos, mulheres surdas acabam evitando esse tipo de atendimento precário e, consequentemente, não tiram suas dúvidas com os profissionais. Campanhas sobre uso de preservativos, por exemplo, jamais são pensadas para pessoas surdas. Trata-se de uma questão de saúde pública, que pode aumentar o índice de doenças em função da falta de acesso à informação pelas pessoas surdas.

Março é o mês da mulher e Patricia lembrou que muitas campanhas são feitas contra a violência contra a mulher. O poder público divulga o número da Escuta Lilás para que mulheres realizem denúncias por telefone. Entretanto, não há nenhum canal de comunicação para as mulheres surdas. Vocè já parou para pensar com a mulher surda poderá fazer qualquer tipo de denúncia, reclamação ou pedir esclarecimentos? E no caso de uma situação extrema, em que precise pedir socorro, como isso ocorre se existe apenas um número de telefone para contato?

Patrícia contou que em 2012 já havia sugerido ao poder público um sistema de envio de mensagens de texto para que mulheres surdas, vítimas de violência, pudessem fazer denúncias e pedir socorro via mensagem de texto. Porém, dois anos depois, em 2014, esse sistema ainda não existe.

É preciso pensar também em meios de comunicação acessíveis em todos os serviços públicos como delegacias de polícia, emissão de documentos, escolas, SAMU, bombeiros, hospitais e centrais de marcação de consultas. Apenas disponibilizar número de telefone não é suficiente.

Outra questão que foi levantada no seminário foi com relação à péssima qualidade no transporte público em Porto Alegre, que é ruim para todos, mas se acentua no caso do atendimento às pessoas com deficiência. Vitória Bernardes, psicóloga e mediadora da mesa que participei, lembrou que muitas vezes as pessoas elogiam as mulheres com deficiência por “superarem” barreiras. Segundo Vitória, atividades rotineiras, como pegar um ônibus ou transitar com segurança pelas calçadas de Porto Alegre, não deveriam ser motivo de “superação”, pois a cidade deveria estar preparada para isso.

A “superação” deve ocorrer em momentos realmente difíceis da vida e que envolvem grandes desafios como, por exemplo, a constituição de uma família, a educação dos filhos, a inserção no mercado de trabalho, os estudos e a capacitação profissional etc. Esses, sim, são desafios complexos e exigem “superação” por parte de qualquer cidadão. Mas infelizmente, dentro da nossa realidade, pegar um ônibus ainda é um desafio e uma “superação” por pessoas cadeirantes, com mobilidade reduzida ou deficiência visual, visto que precisamos lidar com condições precárias das calçadas, ruas e ônibus.

No ano passado fiz uma reportagem para o Cidadania na TVE mostrando um projeto piloto de instalação do DPS2000 nos ônibus da Capital. Esse é um equipamento que traz autonomia no transporte público para pessoas com deficiência visual. O usuário utiliza um aparelho que lhe avisa quando a linha desejada está se aproximando da parada e informa também ao motorista que na parada há alguém com deficiência. O sistema já é um sucess em várias cidades brasileiras.

Foi testado pela Secretaria Municipal de Acessibilidade no final de setembro de 2013. Os testes foram realizados com diversos usuários da linha Auxiliadora e o resultado foi um sucesso. A previsão era de instalação em pelo menos algumas linhas de Porto Alegre já no início de 2014. Infelizmente, o projeto parece ter sido esquecido pela Prefeitura e a acessibilidade nos ônibus para pessoas com deficiência visual segue inexistindo.

Patrícia Rodrigues aguarda desde 2012 por um sistema para comunicação das pessoas surdas com o poder público. O projeto que daria autonomia a pessoas com deficiência visual nos ônibus de Porto Alegre parece ter sido esquecido desde o ano passado. Em pleno ano de 2014, quando o Brasil é signatário da convenção da ONU Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência desde 2008, esse tipo de situação não pode ser mais tolerada. Até quando teremos que esperar por soluções práticas?

Está muito claro que leis e direitos para as pessoas comd eficiência estão assegurados na Constituição, o dificil ainda é fazer com que eles sejam cumpridos. Apenas discursos vazios não são suficientes, precisamos de atitudes práticas e mudanças de comportamento. Até quando vamos esperar?

Dica de leitura: “Mude seu falar que eu mudo meu ouvir”

A obra “Mude seu falar qu eu mudo meu ouvir” conta a história de sete jovens com Síndrome de Down (Carolina Fijihira, ana Paiva, Beatriz Giordano, Carolina Maia, Carolina Golebski, Claudio Arruda e Thiago Rodrigues), que participam de atividades em uma organização que dá suporte a pessoas com deficiência intelectual.

A Carpe Diem tem sede em São Paulo e foi fundada em 1996. O nome “Carpe Diem” significa gozar o dia, viver o presente. E o objetivo da instituição é justamente mostrar à sociedade que pessoas com deficiência intelectual podem fazer escolhas, construir o futuro e desenhar os passos necessários para atingi-lo, mesmo que para isso precisem do apoio da família, amigos, pessoas da comunidade e profissionais.

Jovens participantes da Carpe Diem vinham batalhando por uma maior participação e visibilidade social. Apesar de muito esforço, eles continuavam invisíveis para a sociedade. Não queriam mais ser representados; queriam tomar a palavra no que se referia a si mesmos.

O livro “Mude seu falar que eu mudo meu ouvir” se constitui a partir do relato oral desses jovens. Uma mediadora da Carpe Diem realizou perguntas e conduziu o debate. Os depoimentos foram todos gravados e depois transcritos. Para manter a autoria dos textos, as frases foram transcritas da forma como foram ditas pelos autores, sem correções gramaticais, mantendo a essência do relato oral e a identidade dos jovens.

Ao longo da obra eles dão sugestões e orientam a sociedade sobre a melhor forma de lidar com pessoas dom down, como ajudá-las e como conviver da melhor forma. Para auxiliar na comunicação, a principal dica é falar devagar, olhando nos olhos da pessoa com deficiência intelectual para prender sua atenção. Usar o auxílio de desenhos, esquemas e palavras-chave ajuda muito.

Em uma conversa, evite o uso de metáforas e elementos abstratos. Seja o mais direto possível, use frases curtas e objetivas. Na escola ou na faculdade, todo tipo de apoio visual contribui com o aprendizado: esquemas, gráficos, tópicos e desenhos.

Em palestras ou seminários, onde há falas muito rápidas e uma quantidade densa de informações, a presença de um mediador, que traduza e simplifique o conteúdo se faz necessária./ essa pessoa deve estar próxima ao público com down. Essa pessoa irá repetir de forma resumida o que foi dito, utilizando apoio de elementos visuais, fazendo esquemas e anotando palavras-chave.

Para lidar com dinheiro, saber o valor do troco a ser recebido e organizar as próprias contas, o apoio visual também é importante./ um caderninho para colocar os cálculos e registrar tudo visualmente é um recurso importante. Mesmo que a pessoa nao tenha autonomia para realizar operações sozinha em um caixa eletrônico ou no banco, é importante que ela acompanhe o processo, saiba que tipo de ajuda está recebendo. Assim, mesmo que não consiga realizar todasa as etapas do processo, ela terá consciência e segurança com relação às próprias finanças.

Para atividades rotineiras, como pegar ônibus todos os dias em determinado horário ou deixar um alimento do fogo, o auxílio de um timer ou despertador no celular é uma ótima opção. Isso porque as pessoas com deficiência intelectual podem ter maior dificuldade para dimensionar o tempo, que muitas vezes é algo abstrato.

De forma geral, carinho, compreensão, paciência e jamais subestimar as capacidades da pessoa com Down são as principais reivindicações dos autores. Para ter acesso ao livro ou ao trabalho da Carpe Diem, entre no site www.carpediem.org.br.

Mariana Baierle será painelista em seminário sobre mulheres com deficiência

A jornalista Mariana Baierle será uma das painelistas no Seminário das Mulheres com Deficiência, que ocorre em Porto Alegre no próximo dia 28 (sexta-feira). O evento irá abordar a importância de desmistificar conceitos sobre sexualidade, maternidade, inserção no mercado de trabalho, famílias formadas a partir de mulheres com deficiência, empoderamento e enfrentamento de barreiras.

Mariana Baierle tem baixa visão (cerca de 10% de visão), 28 anos, é jornalista da TVE, mestre em Letras pela UFRGS, editora do Blog Três Gotinhas, sócia e consultora da Tagarellas Audiodescrição. Será uma das painelistas na Mesa 2 – Caminhos e Trajetórias.

O seminário – organizado pela Faders em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres, Tribunal de Justiça, Coletivo Feminino Plural e Rumo Norte – pretente coletar subsídios para a elaboração de uma agenda de políticas públicas voltadas para as mulheres com deficiência no Rio Grande do Sul.

Com a participação da ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, a programação terá mesas com depoimentos, contextualização do desafio de inclusão das mulheres com deficiência, identificações no plano social, pessoal e político. O evento ocorrerá das 8h30min às 17h30min no auditório do Palácio de Justiça (Praça Mal. Deodoro, 55, 6º andar – Centro Histórico – Porto Alegre/ RS). As inscrições podem ser feitas através do www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br.

Programação

Mesa de abertura com representantes da Faders, Coletivo Feminino Plural, Rumo Norte, Tribunal de Justiça, Secretaria Estadual da Justiça e dos Direitos Humanos, Secretaria de Políticas para as Mulheres, Assembleia Legislativa e Coepede.

Mesa 2 – Caminhos e Trajetórias

Mesa 3 – Marcos de direitos das pessoas com deficiência e sua implementação pelos poderes públicos

Mesa 4 – Gênero e deficiência

Mesa 5 – Elaboração de agenda e Carta do Rio Grande do Sul

Vagas preferencialmente para trabalhadores com deficiência em Curitiba/ PR

1) Funções: Técnico Administrativo – Trabalha com processos administrativos na área de cobranç

Horário/ Período de trabalho: segunda a sexta-feira das 08h às 18h.
Salário: R$ 915,00

Benefícios: Vale Transporte; Vale Alimentação ou Refeição; Assistência médica e odontológica; Participação nos Lucros; Auxílio Creche.

Formação: Ensino médio completo
Experiência: Desejável, não é necessário

2) Funções: Técnico Administrativo – Trabalha com processos administrativos na área de treinamento; elaboração de materiais de treinamento; ministrar curso em Libras.

Horário / Período de trabalho: segunda a sexta-feira das 8h as 18h

Salário: a combinar

Benefícios: Vale Transporte; Vale Alimentação ou Refeição; Assistência médica e odontológica; Participação nos Lucros; Auxílio Creche.

Formação: Ensino médio completo
Experiência: Desejável: não é necessário

Interessados devem enviar currículo para o e-mail no christiane.wiens@wipro.com ou ligar para o fone (41)30698193 e falar com Christiane.