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FESTIVAL KIDS DE CINEMA ACESSÍVEL ESTREIA COM “MALÉVOLA”

O Festival de Cinema Acessível, que este ano chega em sua terceira edição, estreia no próximo dia 26 de agosto (sábado) com o filme “Malévola”, um dos grandes sucessos da Disney. A sessão ocorre às 15h na sala Paulo Amorim, da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736 – Centro Histórico – Porto Alegre), com entrada franca. É a primeira vez que o Festival terá uma edição Kids. Serão apresentadas obras cinematográficas infanto-juvenis, mas que fazem sucesso com a família toda.

“O investimento na formação das crianças garante uma sociedade melhor no futuro”, afirma Sidnei Schames, diretor do Som da Luz, empresa responsável pela realização do evento através da Lei Rouanet. Nesse sentido, uma iniciativa como a do Festival possibilita que as crianças e jovens já cresçam em um contexto que acolhe e respeita as particularidades de cada indivíduo. “É notável a diferença na formação do adulto se já na infância houver a convivência e a troca entre crianças com e sem deficiência. E o Festival Kids é um caminho que incentiva e possibilita isso”, comenta Schames.

OS RECURSOS DE ACESSIBILIDADE

As obras do Festival contam com os recursos de audiodescrição, legendas explicativas e Língua Brasileira de Sinais. A audiodescrição permite ao público com deficiência visual (pessoas cegas ou com baixa visão) ter acesso aos filmes através da descrição dos elementos visuais da obra. Pesquisas demonstram que esse recurso beneficia, ainda, espectadores com autismo, Síndrome de Down, déficit intelectual, dificuldade de concentração e problemas neurológicos.

As legendas e a janela de Libras trazem acessibilidade ao público surdo ou com deficiência auditiva. Além dos filmes acessíveis, o Festival promove uma recepção acolhedora do público, para que todos se sintam bem e possam aprender uns com os outros a partir das sessões de cinema. “Tivemos muitas pessoas que foram fazer curso de Libras, por exemplo, para poder se comunicar com pessoas surdas a partir da experiência que tiveram nas edições anteriores do Festival”, conta Schames.

O Festival Kids de Cinema Acessível conta com patrocínio do BRDE e Charrua Distribuidores de Derivados de Petróleo, além dos seguintes apoiadores: Unesco, SJDH, ACERGS, UCERGS, IECINE, AGADE e Cinemateca Paulo Amorim. O Som da Luz segue captando recursos para a viabilização de novos títulos dentro da programação do evento. Para conferir a programação completa, acesse a página no Facebook: Festival de Cinema Acessível Kids.

SERVIÇO:

O que: Lançamento do Festival de Cinema Acessível Kids, com o filme “Malévola”
Data: 26 de agosto (sábado)
Horário: 15H
Sessão para escolas com reserva prévia: 30 de agosto (quarta-feira)
Horário: 13h30
Local: Sala Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736 – Centro Histórico – Porto Alegre/ RS)

Facebook: Festival de Cinema Acessível Kids
Patrocínio: BRDE e Charrua Distribuidores de Derivados de Petróleo.
Realização: Som da Luz
Apoio: Unesco, SJDH, ACERGS, UCERGS, IECINE, AGADE e Cinemateca Paulo Amorim

Obrigada Joel!

Na maioria das vezes utilizo o espaço do Três Gotinhas para dar visibilidade a problemas que enfrento no dia a dia, para questionar comportamentos e atitudes das pessoas, para publicar relatos dos leitores ou simplesmente apontar dificuldades ou ausência de acessibilidade pela cidade. Dessa vez, porém, quero usar esse espaço para fazer um elogio e registrar uma atitude que me surpreendeu positivamente.

Na última sexta-feira (25) peguei a linha T1 na avenida Ipiranga um pouco antes das 20h. Como já estava praticamente noite (apesar do horário de verão), pedi ao motorista que me avisasse quando chegasse na parada do Zaffari, onde iria descer. Estava apreensiva por estar quase escuro, pois talvez não conseguisse reconhecer a parada e por eu não estar acostumada a fazer aquele trajeto a noite, quando minha visão piora consideravelmente.

Mas o motorista tinha sido bastante receptivo comigo, bem simpático e disse que iria me avisar. Fiquei tranquila então. Contudo o ônibus foi andando, o tempo passando e algo estava estranho, pois pelos meus cálculos a parada já deveria ter chegado. Então resolvi perguntar: “Falta muito para a parada do Zaffari?”. E o motorista responde constrangido: “Nossa, esqueci de ti… Estamos quase no Bourbon. Confundi os dois, achei que você queria descer lá…”

Fiquei imensamente braba. Olhei pela janela. Já era noite fechada. Eu estava no meio da avenida Ipiranga, muitas paradas adiante de onde deveria ter descido. Iria ter que descer em um local que não estou acostumada, atravessar a avenida (muito movimentada) e pegar o ônibus novamente no sentido inverso (após encontrar a parada do outro lado da rua, que também não seria tarefa fácil). Ou então teria que pegar um taxi. Mas não sabia onde encontrar um ponto de taxi naquele lugar. Fiquei com muita raiva daquele motorista.

Para quem não tem deficiência visual talvez seja difícil entender o quanto é grave e até perigoso – descermos em um local que não estamos habituados. Talvez seja difícil compreender a dificuldade de um trajeto novo e em um ambiente estranho. Não que eu não estivesse orientada geograficamente, pois estava na mesma rua, só algumas paradas depois. Mas não conhecia aquelas calçadas, aquelas sinaleiras, os buracos e irregularidades que encontraria por lá. Quem não vivencia essas dificuldades pode pensar que descer em uma parada de ônibus diferente seja algo trivial e banal, mas para quem tem baixa visão é realmente muito complicado.

Já estava me preparando emocionalmente para enfrentar aquela situação. Iria descer do ônibus assim que ele parasse novamente e torcer para que encontrasse alguém disposto a me ajudar a chegar ate a parada do outro lado da rua. Foi quando o motorista me surpreendeu. Ele não esperou sequer chegarmos até a próxima parada. Estacionou o ônibus, me deu o braço e disse que iria fazer uma baldeação comigo, que iria me levar até a parada do T1 no sentido inverso para eu voltar.

Eu simplesmente não acreditei no que estava acontecendo. O ônibus estava lotado. “Você pode fazer isso e deixar todos os passageiros esperando? O que eles vão dizer? Irão reclamar com o senhor.”, questionei. Ele disse que tinha esquecido de me avisar da parada e que o mínimo que poderia fazer por mim era isso. Disse que iria comigo até la sem nenhum problema e que o ônibus ficaria parado esperando. E de fato foi o que aconteceu.

Para quem não conhece Porto Alegre, a avenida Ipiranga tem um arroio no meio, é uma avenida larga e bem movimentada. Tivemos que caminhar até uma ponte para atravessar e depois caminhamos mais até uma parada, onde ele me deixou com uma outra pessoa que iria pegar a mesma linha. Ele disse que tinha estacionado o ônibus em um local seguro e avisado a cobradora, ou seja, os passageiros iriam esperar.

Na verdade fiquei meio constrangida em estar fazendo outras pessoas esperarem. Pessoas que também tem seus compromissos e também tem pressa para chegar em casa. Mas confesso que diante daquele incidente fiquei muito aliviada. Agradeci imensamente o motorista, inclusive comentei com ele o quanto era difícil fazermos caminhos desconhecidos e por isso sua ajuda era fundamental.

O nome dele era Joel, mas o nome profissional é “Martin” ou “Martins” (fiquei na dúvida). Ele errou ao não me avisar da parada, mas contornou a situação da melhor forma possível. Fico até agora emocionada ao lembrar essa atitude. Por isso gostaria de compartilhar minha satisfação por conhecer um ser humano como ele. Certamente ele não sabia que tenho maior dificuldade de noite do que de dia para transitar pela cidade e ainda assim me ofereceu uma grande ajuda na tentativa de reparar seu engano. E interessante é que ele fez isso por mim, uma pessoa que ele sequer conhecia, mas teve consideração e respeito – assim como deveríamos ter por todos.

Não tenho o contato dele, mas ficaria muito feliz se ele pudesse ler esse texto e saber o quanto fiquei emocionada com sua atitude. Tomara que o exemplo de seu Joel se multiplique mundo afora.

Acessibilidade na praia

Desde criança sempre gostei muito de ir à praia. A sensação de estar na areia, sentir a brisa, entrar na água, relaxar é muito boa. Mas para quem tem baixa visão, como é o meu caso, ou qualquer outro tipo de deficiência, a praia reserva algumas armadilhas.

Sempre senti dificuldade ára ir até a beira da praia sozinha, pois geralmente não há um caminho livre e desobstruído. Às vezes temos que fazer trilhas no meio das dunas para chegar à ´praia. Ou temos que passar por desníveis e caminhos irregulares, em que encontramos cacos de vidro, lixo, galhos de árvore, calçadas quebradas. Várias vezes já cai e torci o pé nesses percursos.

Em alguns casos, há escadas e degraus sem nenhuma sinalização. São degraus na cor cinza, a mesma cor da calçada, que levam até a areia. Uma simples listra branca poderia ajudar muito na visualização de quem tem baixa visão. Ou ainda, o piso tátil pode fazer a diferença para pessoas cegas e com baixa visão, pois pode ser identificado com a bengala.

Quem tem deficiência visual acaba criando alguns “artifícios” para se locomover com mais autonomia e segurança. Eu sempre costumo fazer o mesmo caminho por onde ando. Na praia não é diferente: faço o mesmo trajeto para chegar até a areia. Assim me acostumo a driblar os obstáculos, que se tornam conhecidos.

Somos surpreendidos, porém, quando surge uma obra ou obstáculo repentino. E muitoas pessoas nao se dão conta que deixar um obstáculo no caminho pode levar a um acidente.

Quando eu era criança lembro de cometer algumas “gafes”. Ia brincar na água e depois não conseguia voltar para o guarda-sol certo onde estava minha família. Olhando à distância, os guarda-sóis são todos iguais. Algumas vezes chegava a me dirigir ao grupo de pessoas errado. Ficava com muita vergonha.

Quem tem baixa visão, só consegue reconhecer as pessoas a uma distância de um ou dois metros de distância. Minha estratégia, nesse caso, era caminhar rente à linha de guarda-sóis e esperar que alguém me chamasse, sem que eu precisasse me dirigir até alguém sem ter certeza de quem era.

Já na adolescência, minhas amigas queriam ficar na areia olhar os surfistas na praia. Sempre as acompanhava, mas digamos que nessa parte eu ficava um pouco “prejudicada”. Acabava esperando pelo momento certo em que eles tivessem entrando ou saindo do mar. Nesse momento eu tentava chegar o mais próximo possível para conseguir vê-los. As amigas acabavam fazendo então, mesmo sem saber, uma audiodescrição improvisada dos surfistas.

Atualmente essas dificuldades continuam, mas acho que fui aprendendo a conviver melhor com elas. Ainda sinto dificuldade em relação aos prestadores de serviços. As lojas no litoral, os restaurantes, o comércio, os hoteis e pousadas não estão bem preparados para atender a pessoa com deficiência com qualidade. Falta infraestrutura física e capacitação dos atendentes.

Como não gosto de simplesmente fazer críticas (sem apontar nenhuma solução) trago aqui algumas sugestões que podem fazer a diferença nos estabelecimentos comerciais. A disponibilização de um cardápio em fontes ampliadas e em braille pode ser fator decisivo para conquistar um cliente com deficiência visual ou idoso (com algum comprometimento visual mais acentuado). Nesse sentido, a boa iluminação do ambiente também é importante.

Manter o caminho livre entre as mesas, de modo que a pessoa cadeirante, com mobilidade reduzida, que esteja empurrando um carrinho de bebê, com deficiência visual ou idosa possa circular sem encontrar barreiras. Outra medida simples (que pode auxiliar e muito) é colocar caixas e balcões na altura de uma pessoa sentada. Assim, o cadeirante ou pessoa de baixa estatura não fica impossibilitado de chegar ao caixa, efetuar o pagamento ou escolher um produto com autonomia.

Não existem fórmulas mágicas de como tornar um local acessível. Pensar no público consumidor e nas diferenças entre as pessoas no momento de planejar um espaço, de fazer uma obra ou reforma deveria ser óbvio e banal – mas ainda não é. Creio, porém, que se a regra do bom senso e do respeito ao próximo for seguida estaremos no caminho certo.

Os pequenos grandes momentos de 2012

Alguns pequenos, mas grandes momentos merecem ser relembrados no ano de 2012. E gostaria de dividi-los com os amigos e leitores do Blog Três Gotinhas. Não vou falar aqui sobre grandes conquistas, que também ocorreram (como concluir o mestrado, começar num novo trabalho etc), mas sobre os simples acontecimentos do dia a dia. Coisas que poderiam passar despercebidas, mas que faço questão de registrar e valorizar, Coisas que, para mim, não passaram em vão.

Em 2012, além de ter a alegria de ser chamada de professora pela primeira vez (profissão que eu admiro imensamente desde criança), tive a satisfação de receber dos meus alunos O PRIMEIRO CARTÃO EM FONTES AMPLIADAS DA MINHA VIDA.

Ao término do curso de extensão “Educação, Cultura e Acessibilidade” (na Faculdade de Educação da UFRGS) os alunos presentearam eu e o Felipe Mianes (que coordenou o curso comigo) com chocolates e um cartão gigante para cada um. O cartão, em fontes grandes, foi assinado com canetinha hidrocor preta por toda a turma.

Pode parecer algo singelo, mas para mim não foi. Ninguém nunca tinha tido essa ideia de me entregar um cartão tão lindo e personalizado. Sei que foi feito realmente para mim, pois tinha fontes grandes e eu pude ler sem lupa, sem ter que fazer um grande esforço. É maravilhoso me sentir respeitada em minhas individualidades. Às vezes estou tão acostumada a “me adaptar ao mundo” que fico impressionada quando ocorre o contrário (e as minhas necessidades são respeitadas).

Por isso, esse é um cartão cheio de significado para mim. É o símbolo de uma conquista de um mundo com um pouco mais de respeito.. Um cartão que será guardado com carinho por toda a minha vida. Além de uma demonstração de afeto, os alunos mostraram que, mais do que discutir acessibilidade, eles já sabem colocá-la em prática.

Ao digitar essas palavras, com os olhos marejados, lembro como fiquei triste com o último dia de aula. Eu, que sempre fui ansiosa e quis que as coisas terminassem rápido devido à minha falta de paciência, tive o gosto amargo de ter de dizer tchau antes da hora desejada. Eu queria que o curso durasse mais alguns semestres. A riqueza de valores das pessoas, a troca de experiências e o talento de cada um foram gratificantes.

Fico feliz ao ler, após o término das aulas, as palavras calorosas e a demonstração de saudades dos alunos no Facebook e também no blog da Vanessa Dagostim – aluna que organizou a entrega dos cartões. Vale a pena conferir: http://www.vendovozes.com/2012/12/curso-educacao-cultura-e-acessibilidade.html

Ler essas palavras me dá a certeza de que é nessa linha que quero continuar seguindo. Que eu ainda tenho muito a aprender com novas e novas turmas que virão. Uma etapa que foi concluída com o fim do curso, mas que está só começando para além da sala de aula e se estenderá para a vida de cada um. Sei que a turma continuará multiplicando seu conhecimento e respeito à acessibilidade em outros espaço e situações. E isso me deixa feliz e orgulhosa pelo trabalho que realizamos.

Outro fato marcante em 2012 foi o dia em que um garçom de um bar que eu estava com uns amigos me reconheceu em função de uma reportagem que fizeram comigo na TV Assembleia (no programa Faça a Diferença, sobre meu trabalho na TVE). Ele disse que, em função da matéria, não deixava mais nenhuma cadeira no caminho. Passou a se preocupar com as pessoas com deficiência visual, que poderiam cair, se machucar com os obstáculos no caminho ou com as pessoas com dificuldade de locomoção, que também seriam prejudicadas.

Nessa reportagem (http://tresgotinhas.com.br/materia-no-programa-faca-a-diferenca/), minha colega Amanda Carvalho (produtora do Cidadania) falou que, em função de mim, ela passou a se preocupar em tirar as cadeiras da Redação da TVE que ficam no meio do caminho (para que eu não tropeçasse ou esbarrasse nelas). Fiquei imensamente feliz ao perceber que o depoimento da Amanda estava, de alguma forma, gerando uma mudança no comportamento de outra pessoa.

O fato de ter um funcionário preocupado com cadeiras no caminho naquele bar já estava fazendo a diferença na minha vida e na vida de outras pessoas que frequentassem o local. Uma pequena mudança, algo aparentemente banal, mas muito difícil de ser colocado em prática.

Quanto às cadeiras na Redação da TVE, talvez ninguém entenda porque eu esbarro tanto nelas e, ao mesmo tempo, consiga desviar de outros obstáculos aparentemente mais difíceis de serem notados. Mas essas cadeiras são pretas, colocadas sobre um piso preto. Ou seja, não há contraste nenhum com o chão. Elas não se destacam e acabam tornando-se invisíveis para mim. Para quem tem baixa visão essa questão do contraste é importantíssima.

Nesse ano de 2012 tive que conviver e caminhar todos os dias por entre essas cadeiras, desviar de obstáculos o tempo todo. Não podia simplesmente ficar braba e jogá-los no chão ou colocá-los onde eu quisesse, pois sabia que depois as pessoas os colocariam no caminho novamente. Nem tudo é fácil. Os obstáculos estão por toda a parte e todos precisam conviver com eles.

Embora eu defenda a acessibilidade em todos os ambientes, sei que o mundo está longe de ser um local ideal de se viver para qualquer pessoa, independentemente de ter ou não alguma deficiência. Então gostaria de terminar essa “retrospectiva” com um pensamento que remete ao título do Blog. Já que não podemos mudar o mundo todo de uma vez, quem sabe de gotinha em gotinha a gente consiga transformá-lo em um ambiente melhor, com mais amor, paz, respeito e sensibilidade!

E de gotinha em gotinha, o meu esforço está fazendo sentido, não só para mim, mas também na vida de outras pessoas. É por isso que eu agradeço a leitura, os comentários e o apoio de todos que compartilharam momentos bons e ruins comigo no ano de 2012, lendo e contribuído com esse blog. Que em 2013 surjam muitas e muitas histórias felizes para serem narradas aqui.

Um grande abraço com carinho, Mariana Baierle